Apartamentos
 

… que toda casa es un candelabro
donde las vidas de los hombres arden
como velas aisladas…

                                        J.L. Borges

Quando pensamos porque os arquitetos dedicam tantos esforços ao desenho de casas e apartamentos, e lembramos que os principais problemas técnicos a serem enfrentados na arquitetura residencial são pequenos em comparação com qualquer outro tipo de edificação, percebemos porque projetar apartamentos converteu-se numa arte. Quando um arquiteto cria um espaço residencial que nos comove, ele criou uma obra de arte e essa é a sua maior satisfação. ‘’A arquitetura, quando se dedica à função de habitar, se converte num ato de amor’’, diz Le Corbusier.

Se intencionalidade estética e criação de um ambiente favorável à vida, são os carácteres estáveis da arquitetura, onde a conformação da matéria e a transformação do mundo físico de acordo com uma vontade ordenadora fazem o mundo compreensível, inteligível, uma construção será então, ao mesmo tempo que objeto físico, sustento de significações, matéria portadora de sentido, matéria significante.
É deste ponto de vista, da arquitetura como linguagem, que a teoria psicanalítica contribui para esclarecer as relações entre vontade ordenadora e a função.

Diz Jacques Lacan ‘’se este edifício nos solicita, é pois porque, por metafórico que for, ele está bem feito para nos lembrar o que diferencia a arquitetura do edifício: seja uma potência lógica que ordena a arquitetura além do que o edifício suporta de possível utilização, e salvo que se reduza a um casebre, não pode prescindir desta ordem que o emparenta ao discurso. Esta lógica não se harmoniza com a eficácia senão para dominá-la e sua discórdia não é, na arte da construção, um fato somente eventual’’.
Assim, a funcionalidade, como elemento de ordenação, deve estar sempre à serviço da satisfação estética.

Jorge Mario Jáuregui