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- Construir a partir do conflito

 

Jorge Mario Jáuregui, é um "carioca" de origem Argentina, que encontrou o seu lugar na arquitectura e no mundo ao lidar com o conflito entre a cidade formal e a cidade informal.
O Rio, cidade magnífica, cheia de contradições e de contrastes, apaixonou este arquitecto, que fez do corpo a corpo com as suas populações mais desfavorecidas, o seu dia a dia.
Arquitecto e Urbanista é um erudito, e faz da sua erudição uma arma para lidar com uma realidade tão rude e difícil como é a das favelas do Rio de Janeiro, trazendo às suas populações "poesia" feita em forma de urbanidade, em betão, ferro, tijolo e cor.

Jorge Mário Jauregui é formado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Nacional de Rosario, Argentina. Vive no Rio de Janeiro onde tem o seu gabinete de arquitectura. É Arquitecto Urbanista pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em 1999 ganha o Grande Prémio da Bienal Internacional de Arquitectura de São Paulo e no ano seguinte o "Sixth Veronica Rudge Green Prize" em Desenho Urbano da Universidade de Harvard, galardão que já havia sido atribuído a Siza Vieira e a Norman Foster. Em 2002 recebeu o 1º Prémio de Investigação da Bienal Ibero-americana de Santiago do Chile.
Acaba de ter publicados "Estratégias de Articulación Urbana", pela Ediciones FADU da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires, (editorial@fadu.uba.ar), e o "The Favela-Bairro Project, Jorge Mario Jáuregui Architects", pela Harvard University Graduate School of Design, Cambridge, Massachusetts.
Entre os seus principais trabalhos, todos na cidade do Rio de Janeiro, estão a Requalificação Urbana da Rua do Catete (programa Rio-Cidade) na zona Centro; o Mobiliário Urbano para a zona sul; um projecto para a Frente Marítima (Waterfront) e a Urbanização de mais de vinte favelas em diferentes locais da cidade (programa Favela-Bairro).

Entrevista e foto do entrevistado: José Costa Pina

ARQUITECTURA e VIDA - O seu percurso profissional é muito variado, vai do design ao urbanismo, passando pela crítica arquitectónica, a filosofia e uma relação muito próxima com a psicanálise e as artes; no entanto, é através do trabalho de intervenção na cidade "não formal" (Favelas) que veio o reconhecimento internacional através de vários prémios.
O teu trabalho centra-se na bipolaridade da cidade formal e não formal, podes explicar-nos melhor estes conceitos?

Realmente tive esse privilégio (hoje o vejo assim) de haver podido chamar a atenção para este aspecto, quantitativa e qualitativamente, tão importante no nosso continente, que é a "cidade informal". Na América Latina, a questão da bipolaridade "formal / não formal" adquire conotações muito especiais. Foi a partir da exigência de pensar numa metodologia específica de carácter inter-disciplinar e da necessidade de interpretar as demandas da população que dei início a um processo de reflexão muito particular, para o qual não tinha tido oportunidade de pensar, antes do surgimento do programa de urbanização de favelas.

Uma das diferenças fundamentais entre intervir na cidade formal e na cidade informal é que, esta última, exige articular os aspectos físicos (urbanístico-arquitectónico-ambientais) com os sociais (económico-cultural-existenciais) e os ecológicos, considerando as três ecologias mencionadas por Felix Guattari (ecologia mental, ecologia social e ecologia ambiental) de forma simultânea, no mesmo acto projectual.

A outra exigência muito particular deste tipo de intervenções é a da "escuta das demandas" da população, para o qual é possivel se apropriar, de forma consciente, da metodologia da psicanálise (atenção flutuante e associação livre). Isto significa que não se trata simplesmente de responder às demandas senão de reinterpretá-las diferenciando entre demanda manifesta e demanda latente.

Por outro lado este tipo de trabalho ligado à complexidade, exige uma apropriação de conceitos da filosofia, tais como o conceito de rizoma, o conceito de dobra e os conceitos de espaço liso e espaço estriado, entre outros, bem como dos conceitos da teoria do caos, tomada aqui na sua perspectiva de "extrema sensibilidade às condições iniciais", que é um aspecto muito relevante em relação ao trabalho nas favelas.

O programa denominado Favela-Bairro, implantado pela Prefeitura do Rio, veio transformar o panorama urbanístico do Rio de Janeiro, de que forma? De que é que se trata?

Antes da existência deste programa (Favela-Bairro), que não é outra coisa senão a sistematização e reformulação da experiência acumulada durante décadas de intervenção nas nossas grandes cidades (onde só havia actuações de caráter fragmentário tais como saneamento básico, contenção de encostas, relocação de residências em áreas de risco, etc), mas de forma desconexa, hoje, se trata de pensar primeiro o global, isto é, ter uma reflexão sobre a cidade como um todo, e a partir da leitura da estrutura de cada lugar, e da escuta das demandas, derivar o Partido Urbanístico, isto é, o princípio estruturador geral de um projecto.


Perspectiva parque metropolitano de Manguinhos

Outros programas foram também implantados, quais foram e quais as suas diferenças, virtudes e defeitos?

Existem de facto vários programas para atender às diferentes escalas dos problemas. Digamos que existe um leque S-M-L-XL isto é, a escala pequena, a média, a grande e a extra-grande nas intervenções. Eu comecei intervindo na escala média que é o programa Favela-Bairro (destinado a comunidades que tem entre 500 e 2500 famílias), fiz também intervenções na pequena escala, no programa Bairrinho (menos que 500 famílias), intervenções para a grande escala, como a favela de Rio das Pedras, Programa Grandes Favelas (12.000 famílias ou 60.000 habitantes) e estou trabalhando, agora, na escala extra-grande, no Complexo do Alemão e no Complexo de Manguinhos, que são grupamentos urbanístico-sociais de escala territorial.

Trata-se da elaboração de estruturações tipo Plano Diretor, para extensas áreas que abrangem 11 favelas com uma população de 250.000 habitantes no caso do Complexo do Alemão, e cerca de 110.000 habitantes no caso do Complexo de Manguinhos...Cada uma destas escalas demanda formas de abordagem, metodologias e formas de trabalho, claramente, diferenciadas.

Vários outros gabinetes, estão a trabalhar no mesmo programa do Favela-Bairro. Qual é a razão dos vossos prémios e qual é a diferença e a originalidade das vossas propostas?

Do meu ponto de vista, a diferença fundamental consiste no "approach" projectual.

Enfrento cada novo desafio projectual como se de um experimento se tratasse, e não como uma forma de manter apenas uma estrutura produtiva. Isto significa que há sempre algo em jogo comandando o projecto que, como dizem os psicanalistas, tem a ver fundamentalmente com o "desejo".

Consciente ou inconscientemente, é a capacidade de estabelecermos com os nossos interlocutores uma "transferência" o que cria condições, mais ou menos favoráveis, para a elaboração de um projecto. Além, é claro, da capacidade técnica e do saber disciplinar específico com que devemos contar para poder intervir em situações que envolvem extrema complexidade, como é o caso das intervenções que visam a articulação da cidade partida, onde se interceptam lógicas da mais variada índole, sob as mais diferenciadas circunstâncias.

Caetano Veloso tem uma frase bem significativa a respeito disso quando diz: "agente não sabe o lugar certo onde colocar o desejo" e, como arquitectos, sempre precisamos estar "encontrando" esse lugar.
Outro aspecto que penso pode ser um factor diferenciador do meu trabalho, é a abertura, a receptividade permanente ao intercâmbio e à pesquisa no campo projectual. No meu escritório trabalha gente de origens e formações muito variadas durante diferentes períodos, o que representa um estímulo intelectual importante.

Sendo o vosso trabalho, claramente, interdisciplinar qual é o papel que cabe ao arquitecto nessas equipas?

As equipas de trabalho são constituídas por arquitectos-urbanistas, engenheiros civis das várias especialidades (de trânsito, de infraestruturas, de contenções, etc) geógrafos, sociólogos, assistentes sociais, consultores de programação artística e cultural, e também, mantenho diálogo permanente com psicanalistas e filósofos, como já mencionei. O arquitecto-urbanista é o coordenador da equipa e quem canaliza e sintetiza todas as decisões projectuais.

Qual é a abordagem que a vossa equipa faz do território no caso das favelas?

Hoje em dia, quando se quer intervir em problemas complexos como, por exemplo, o de articular a cidade formal com a cidade informal, a cidade dos fluxos com a cidade dos lugares, é necessário trabalhar de forma coordenada pondo em relação e interceptando diferentes visões e formas de abordar, problemas que vão desde o urbano, ao social, ao económico, ao ecológico, e onde se entrecruzam o ético (isto é, o que tem a ver com princípios), o estético (isto é, o desafio do novo) e o político (o que implica a relação sempre tensa com as estruturas de poder). A abordagem deve ser, claramente, transdisciplinar, quer dizer, deve tender para a busca da coincidência de paradigmas, como mínimo, duas a duas disciplinas.
Eu vejo o território das favelas como um "campo adubado", como um lugar onde é possível fazer surgir o novo, rearticulando-o sobre novas bases.

Essa abordagem é muito diversa do tipo de abordagem que deverá ser feita na parte formal das cidades?

A forma de actuação é , claramente, diferenciada da actuação na cidade formal, principalmente no que se refere à "escuta das demandas", onde o diálogo é menos "interactivo" (no caso da cidade formal). Isto significa que a participação dos destinatários dos projectos, no caso das favelas, adquire diversas conotações; inicialmente são interlocutores para a definição dos programas, posteriormente colaboram na fiscalização da execução das obras e finalmente fazem parte do posto de orientação urbanístico e social que é instalado em cada comunidade urbanizada, pós-obras.

Pelas visitas que efectuámos às favelas onde intervieste, pudemos constatar a introdução de uma série de novos programas de grande interesse social. Quais são e qual é a importância de que se revestem no seio dessas comunidades?

O objectivo das intervenções é, claramente, "construir cidade".

Isto significa, introduzir os atributos da urbanidade em lugares carentes de toda a presença da dimensão do espaço público. Na favela existe de tudo menos espaço público e edificações representativas da presença do poder público na comunidade e é isto que buscamos introduzir, juntamente, é claro, com novas condições de acessibilidade, com a recomposição das centralidades, e a incorporação de novos serviços e equipamentos.

Assim, a introdução de Centros Profissionalizantes, Centros de Geração de Trabalho e Renda, Centros Culturais, Creches, Escolas, Instalações Desportivas, Centros de Saúde; Praças, Parques e Espaços Públicos; novos traçados viários veículares e de pedestres, projectos para recolha e tratamento do lixo, constituem ao mesmo tempo, novos componentes reais, simbólicos e estéticos, no interior de áreas desestruturadas.

Constatámos, também, uma grande preocupação formal num programa que é de base, claramente, social. Qual é o espaço que encontraste para uma pesquisa formal e quais são as influências que a vossa intervenção trouxe ao modo de viver e pensar dessas pessoas?

Na verdade não encontrei nenhum espaço para a criação formal, tive que criá-lo. Isto significa que, muitas vezes, você deve criar as condições para a recepção de um projecto, sobretudo em relação ao próprio poder público, que no que a ele respeita, só está interessado, na maioria das vezes, no cumprimento do contrato e não na qualidade do que se faz.

A influência principal, no modo de viver e pensar das pessoas às quais se destinam as nossas intervenções, consiste na mudança radical que elas provocam quanto à sua auto estima.

Como diz o crítico Roberto Segre, "é emocionante visitar uma comunidade urbanizada pela equipe de Jorge Mario Jàuregui e perceber, tanto no ambiente físico, quanto no estado de espírito das pessoas, a fundamental mudança quanto a passar a se sentirem parte da cidade formal", pois, a partir desse momento, com as mudanças físicas vem também a regularização da situação fundiária que faz parte da passagem da situação informal para a formal, e da exclusão para a inclusão.

Outro sintoma fundamental das mudanças, está no facto de que, da mesma maneira do que na cidade formal, nas favelas, a partir do investimento público há uma resposta imediata de cada morador que passa a investir, também, na melhoria de sua própria moradia, o que contribui para uma transformação radical do ambiente físico.

Numa das vossas intervenções, penso especialmente em Fubá/Campinho, tens uma clara citação da Casa das Canoas, no bloco de apoio ao campo de futebol, é uma homenagem ao mestre Oscar Niemeyer?

Sim, trata-se da Vila Olímpica implantada nessa comunidade, onde o programa, uma instalação para actividades desportivas incluindo campo de futebol, pista de atletismo e edificações de apoio, permitiram trabalhar com uma estrutura de tectos suspensos funcionando como grandes guarda-sois em betão aparente, abertos ao entorno. É sim uma referência à Casa das Canoas, uma espécie de homenagem ao mestre, que constitui, para mim, um marco referencial fundamental da Arquitectura Moderna Latino-Americana.

O Oscar Niemeyer é um grande arquitecto e largamente conhecido pelo seu discurso de esquerda com grandes preocupações sociais. No entanto a nível da sua prática arquitectónica ficou sempre ligado ao poder, como ele mesmo admite. Como é que vês as posturas sociais do Oscar e que diferenças ou semelhanças podes constatar no vosso trabalho? Essas diferenças podem configurar duas posturas diferentes, uma moderna e outra pós-moderna?

É às vezes paradoxal, como entre as declarações de intenções e a prática concreta na relação com os "clientes", aparecem as dicotomias. Realmente, Oscar quase não teve oportunidade de lidar com as necessidades dos sectores mais desfavorecidos, talvez porque as demandas concretas de projecto o levaram noutra direcção, a pesar da sua posição político-ideológica.

Hoje, no entanto, a questão da articulação da cidade fragmentada, tanto física quanto socialmente, se transformou no máximo desafio em toda a América Latina. Penso que esta é uma das diferenças fundamentais de foco entre o modernismo e a situação actual.

Agora, partimos da leitura da cidade existente e buscamos realizar nela novas conectividades visando sua re-articulação, mais do que "inventar do zero", que era a postura moderna. A posição hoje, pode ser caracterizada como uma atitude de "extrema sensibilidade às condições iniciais", em oposição à atitude moderna de imposição ao lugar.


Planta parque metropolitano de Manguinhos

Qual é a avaliação, que fazes hoje, da arquitectura contemporânea no Brasil?

O Brasil, teve a sua contribuição principal ao cenário internacional, primeiro, durante o período colonial com a elaboração e processamento dos modelos do barroco chegados desde Portugal, onde se destacam entre outros, o trabalho do Aleijadinho em Minas Gerais, depois mediante as obras de alta qualidade produzidas no perído da Art Decó, e finalmente durante o período moderno, onde toda uma plêiade de arquitectos absorveram os princípios modernos e os souberam traduzir em obras que até hoje continuam sendo referências, fonte para releituras.

Hoje, no entanto, o panorama é completamente diferente e o país perdeu sua participação no diálogo internacional. Depois do período heróico moderno, poucos arquitectos brasileiros têm realizado uma obra significativa e representativa das grandes transformações que aconteceram no mundo após esse momento . Somente, Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha continuaram a produzir uma obra consistente, cada um à sua maneira. É nas jovens gerações que hoje despontam sinais de renovação, que apontam para a busca de uma re-inserção do Brasil no cenário internacional.

O teu trabalho, além da urbanização das favelas, tem também uma pesquisa teórica e formal, que está conectada com a vanguarda conceptual. Como te situas neste campo, em relação ao momento actual?

Sempre me interessou e participei da discussão teórica sobre os rumos da arquitectura e do urbanismo contemporâneos. Como você sabe, eu sempre escrevo e publico artigos e ensaios e também dicto seminários e realizo oficinas de projecto em vários países de América Latina.

Nas últimas oficinas de projecto (chamadas de Taller) que realizei em Montevideo e Cidade do México, a questão da relação entre teoria e prática projectual está no centro das considerações. Neste sentido, hoje me interessa, enormemente, a questão da pesquisa entorno das questões relativas à genética urbana e à função dos diagramas nas elaborações projectuais.

O que podemos chamar de "genética urbana" tem haver com a busca de uma sistematização elástica, topológica, da forma, considerando os processos espaciais, desenvolvidos no tempo.
As estruturas urbanas comportam-se como tecidos vivos e portanto podem mutar seus códigos de programas e materiais, através de enxertos em áreas específicas visando provocar mutações.

Por outro lado, o diagrama serve como critério de acção, como trajectória seminal ou como programa-base de um sistema ou dispositivo operativo e/ou gerador. Um diagrama resume múltiplas operações numa só, sintetizando sobre um suporte legível uma série de códigos contendo significados ou informações.
Um diagrama é uma cartografia de movimentos e seu valor principal é o de expressar uma sugestão de totalidade.

Um dos teus projectos mais recentes, a Casa Klein, apresenta características muito especiais (é quase um manifesto), e tem um embasamento teórico muito ligado à geometria não-linear, e em especial às pesquisas psicanalíticas de Jacques Lacan, podes falar-nos sobre isso?

O Projecto da Casa Klein me permitiu indagar em torno de questões que venho elaborando nos últimos anos, relativas às relações entre arquitectura e psicanálise, e por este viés, na busca de uma arquitectura topológica, como forma de investigação e de buscas para além da modernidade. Estas buscas passam hoje pela utilização de uma geometria não-linear, topológica, capaz de possibilitar uma continuidade interior-exterior, sem interrupções, um continuum dentro-fora imprimindo uma expressão dinâmica às formas, ao mesmo tempo que mantendo as conquistas modernas relativas à leveza, transparência e uma certa "desmaterialização" do objecto (pensando em Mies, por exemplo).


Casa Klein

Para Lacan, a arquitectura está estruturada em torno do vazio (tomando o exemplo do oleiro, que configura o vazio definindo suas bordas, os limites do vaso) e o que a diferencia do edifício é a potência lógica que a ordena, além do que o edifício suporta de possível utilização. Isto tem fortes sugestões para nós arquitectos, no sentido de nos estimular a pensar o objecto "pelas suas bordas", partindo da definição, do modelado das superfícies "para configurar espaço".

Este vazio é a verdadeira razão de ser da arquitectura e "não deve ser preenchido". Na cidade é a mesma coisa. O espaço colectivo, que não é apenas aquilo que não está construído, é precisamente o que mantém juntas as partes (os fragmentos de que se compõe o urbano) é a razão de ser da cidade, e neste sentido tem um carácter sagrado; por isso não deve ser preenchido, mas sim "modelado", num permanente processo de configuração e re-configuração, onde cada época deixa a sua "marca", o seu traço.

Assim, tanto o espaço interior (objecto) quanto o espaço "exterior" (urbano) não podem ser definidos somente em função dos usos, devendo ir bem além da sua função. Por isso pertencem ao campo do simbólico, como produtos de uma cultura, onde, como sabemos, a relação entre o local (o lugar) e o universal estão na base das significações. Nós poderíamos pensar também esta configuração do espaço, como tendo dois impulsos diferentes e contrapostos. Como sendo a interseção entre o espaço de fluxos (individuais, colectivos, de informações; fluxos naturais e electrónicos) e o espaço sensível ao lugar (à topografia, à paisagem, ao clima, à cultura).

Sendo as cidades e a realidade Latino Americanas muito diferentes da europeia, quais as lições e recomendações que poderiam ser aplicadas às cidades em Países como Portugal e em sociedades como a nossa?

Hoje, a fragmentação social e do tecido urbano é um mal que assola as cidades em todo o mundo e não somente na América Latina; claro que esta fragmentação, apresenta enormes diferenças segundo se trate de países inseridos num contexto de desenvolvimento, como Portugal e Espanha, ou no contexto de dependência Latino Americano. De qualquer forma, a necessidade de pensar a articulação do partido, do dividido, do fragmentado, apresenta exigências comuns quanto à abordagem metodológica para tratar com situações de complexidade.

Sabemos, que a questão urbana contemporânea é uma das problemáticas mais complexas que existem e, que por isso, exige uma abordagem com instrumentos que devem ser fornecidos desde várias disciplinas, porém, coordenadas desde uma visão urbanístico-arquitectónica. Neste sentido, creio que seria de sumo interesse poder realizar estudos simultâneos e comparados na América Latina, Europa e África (que compartem historicamente problemas e experiências de intervenção urbanística) abordando as questões de uma maneira integrada, onde o urbano, o social, o cultural e o económico formem o núcleo das considerações.

Nas minhas visitas a Lisboa, tenho podido perceber, tanto problemas de desestruturação urbana, quanto de indesejáveis e descontroladas extensões das periferias, que demandam uma ação coordenada das diferentes instancias dos poderes públicos, antes que a dimensão e a gravidade dos problemas os tornem muito mais difíceis e custosos de manejar. Para isto, é necessário formular novas estratégias flexíveis de articulação e desenho urbano, desde um pensamento que contemple uma visão abrangente, não reducionista das questões envolvidas. Questões que envolvem a própria forma de aproximação (approach), os conceitos a serem utilizados, as metodologias empregadas, a necessidade de realizar com precisão a adequada leitura da estrutura de cada lugar, os dispositivos a serem utilizados para a "escuta das demandas", as articulações entre cultura profissional e cultura popular a serem feitas, e a construção de "vazios significativos", todo o qual constitui um complexo emaranhado de "material e imaterial" que deve ser articulado nos estudos e projectos, de modo consistente.

Sintetizando a minha visão, poderia dizer que "urbanizar favelas implica forçar o caos até converte-lo em forma".

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- Entrevista ao Arquiteto Jorge Mário Jauregui _Henrique dos Santos / Arquiteto Rio-Angola 2004 -2005

1- Nos dias de hoje as sociedades (teoricamente) organizadas, em especial as grandes metrópoles, maiores ou menores em extensão e complexidade, enfrentam problemas como a exclusão social e urbana, a violência e o crescimento da sua “urbe” de forma desorganizada em alguns casos. Até que ponto acha que profissionais como o Arquitecto tem a ver com esses mesmos problemas e qual pode ser a sua contribuição nesses aspectos num futuro próximo?

R1: Em relação a primeira questão diria o seguinte; as metrópoles a que te referes localizam-se nos cinco continentes e com as devidas particularidades de diferenciação entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento, que é uma espécie de eufemismo para nos referirmos aos nossos países, sejam na América Latina, na Ásia ou África, esses problemas das grandes metrópoles são diferentes segundo a sua localização geográfica. Por exemplo, nos últimos anos estas grandes metrópoles Chinesas que apareceram de repente, que emergiram nas últimas décadas, que apareceram no cenário internacional como grandes devoradoras de território e produtoras, entre aspas, de “desenvolvimento”, ou pelo menos imagens do que se entendia tradicionalmente por desenvolvimento, hoje em dia todas elas enfrentam este problema, basicamente de deterioração das suas zonas centrais e de enorme expansão das suas periferias. Em que sentido poderia então o arquitecto contribuir para uma solução do problema? Claro que pode contribuir, e se assim posso dizer, de “forma particularizada”; por exemplo, vou me referir a América Latina que é o cenário que melhor conheço em profundidade pois, embora conheça outros, apenas tenho referências bibliográficas ou estadias esporádicas a algumas cidades, o que me impossibilita um diagnóstico profundo.
Refiro-me então ‘as grandes metrópoles Latino-americanas como São Paulo, Rio de Janeiro, Caracas, Cidade do México, Buenos-Aires, que dentro deste contexto são consideradas “áreas problema”, digamos assim. No que é que o Arquitecto pode contribuir nesse sentido, num futuro imediato e próximo?
É claro que existe uma tremenda demanda pela participação do arquitecto urbanista, pois já não podemos sequer separar estes dois termos, o “fazedor de objectos” e o “incluidor desse objecto num contexto específico”, que tem a ver com essa questão que a pouco falávamos do “mitocôndrial” a que te referias, que não conhecia e que agora incorporo, mas que remete a outras questões como “genética urbana” ou “génesis urbana”, ou até mesmo a eco-génesis, que é uma questão que hoje preocupa a todos nós arquitectos. Logo, a nossa contribuição sem dúvida será entender a nossa participação dentro de um contexto que só podemos definir de “alta complexidade”. Assim, para intervir nesse contexto de alta complexidade temos que contar com conceitos, metodologias e experiência, quer dizer, temos que estar já inseridos de alguma maneira neste contexto, fazendo “parte de”, e fazendo tentativas sempre renovadas de interacção, entre a realidade macro e as intervenções micro, pois as nossas intervenções sempre serão pequenas em relação ao todo, mesmo que actuemos em grandes escalas. Como sabemos, um arquitecto atua basicamente em quatro escalas de intervenção, ou melhor tem quatro níveis: a escala pequena, a escala média, a escala grande e a escala extra grande ou territorial, que implica metodologias e abordagens projectuais claramente diferenciadas.
Concluindo, a contribuição do arquitecto é no sentido de ser um articulador; de estar apto a participar nesse “terreno” de intercepção de várias disciplinas, nas quais ele é o coordenador para a organização de tudo o que é o físico, que denomino como o infraestrutural urbanístico ambiental, articulado com os aspectos sociais definidos como o que compreende o económico cultural existencial (aquiloque compromete a existência concreta da vida de cada sujeito) e coordenado hoje também com os aspectos ecológicos, que como sabemos a partir de Félix Guattari são três; a Ecologia Mental – que significa a despoluição dos conceitos para se aproximar dos problemas, ou seja, a descontaminação das formas ideológicas aderidas a determinados conceitos que impedem o pensamento e dos quais é necessário nos desprendermos para poder pensar alguma coisa; a Ecologia Social – que implica a revisão e reconsideração de todo o conjunto de relações sociais, aquilo que os sociólogos chamam de “o sócius”, que quer dizer a reavaliação das relações entre os diferentes grupos humanos que ocupam o território e finalmente, a Ecologia Ambiental – o que tem hoje a ver com a criação de condições para que o homem possa sobreviver neste planeta, que basicamente serão dois ecossistemas, o natural e o ecossistema social, ou seja, o ecossistema que já existia antes da presença do homem e o que o próprio cria ao se relacionar e estabelecer num lugar, estabelecendo uma rede de relações que interferem com os outros homens e com o meio ambiente.

2- Consegue tentar definir ou enquadrar numa suposta definição de Arquitectura, essa problemática?

R2: É evidente que isto implica que repensemos os nossos conceitos de arquitectura, num sentido menos auto-referenciado, num sentido muito mais sensível às condições e ao contexto em que se insere o objecto arquitectónico, contexto entendido como ambiental-social; as condições físicas num determinado contexto social.
Portanto, uma arquitectura capaz de relacionar, de ser sensível, de incluir as particularidades tanto do meio físico quanto da ocupação social desse meio físico, da implantação, da instalação de uma sociedade num território com o qual estabelece uma série de interacções, muitas vezes, devemos dize-lo, interações claramente negativas. A partir da Modernidade, com o aparelho tecnológico em permanente expansão o homem tem cada vez mais possibilidades de interferência, e as usa no sentido de cada vez mais comprometer o meio natural.
Então o que se pretende hoje é que a inteligência volte a dominar as acções humanas, e a arquitectura como parte dessa inteligência seja capaz de ser mais interactiva. Por um lado, recolhendo conhecimentos tradicionais, ancestrais, decantados ao longo dos séculos e esquecidos na modernidade. Hoje volta a se pôr no tapete os condicionamentos climatéricos, a utilização de técnicas, imagens e valores que tenham haver com a forma com que o homem tradicionalmente se instalou no meio ambiente; a necessidade não só de se proteger da chuva, do calor, dos ventos, das condições materiais, mas também na de agrupar os edifícios fazendo com que sejam mais, ou menos, inclusivistas dos outros homens; mais, ou menos, consideradores do meio ambiente. Sabemos que a arquitectura pode ser feita tanto para para Reis quanto para Plebeus, porém, quer-se uma arquitectura que sirva para todos, para qualquer cidadão, pois o cidadão é o que tem plenos direitos no território em que habita. Isto significa que a arquitectura a que devemos apontar, considerar, redefinir e fazer, terá de ser sensível ao seu contexto físico e social, transmitindo a estética da nossa época, dialoguando com a estética do passado ao mesmo tempo que não implique uma ruptura, pois temos que acabar com esse pensamento de que cada nova tendência tem de significar uma ruptura; pelo contrário, cada busca deve cada vez mais restabelecer a relação com o passado, sob novas bases.

3- Disse recentemente que com a experiência que adquiriu e com a obra até agora executada, diga-se de passagem reconhecida mundialmente, conclui que é um perigo entrarmos em diagnósticos e declamações vazias, e que a temática em causa e a maneira de a abordar, é algo provisório e em aperfeiçoamento, reformulando-se ante a aparição de novos desafios e escalas, aceitando e assumindo os contextos não como determinantes paralisantes, mas como possibilidades projectuais. Pode aprofundar um bocado esta afirmação?

R3: Eu diria que não se trata tanto de “não conseguir ou “ser um perigo” mas sim o facto de que a maneira de abordar estas questões nomeadamente, e uma questão que ainda não falamos; o relativo as relações entre o formal e o informal, esses dois mundos essas duas realidades, esses dois domínios de actuação e sobretudo a relação entre os dois; isto a que chamo “ a hibridação do formal e do informal” é que é algo realmente ainda em construção, em aperfeiçoamento e que vai sendo permanentemente reformulado diante da aparição de cada novo desafio, e dependendo da escala de intervenção, que, como disse anteriormente, para um arquitecto urbanista estas escalas são quatro, e implicam e definem metodologias diferentes de abordagem. Isto para dizer também que não se trata bem de uma questão de determinantes paralisantes mas antes da maneira com que se lê e entende um problema projectual colocado, quer seja a escala arquitetônica ou nas quatro anteriores. Ou seja, dependendo da forma de nos aproximarmos do problema, já estamos a condicionar a resposta ao mesmo, a solução projectual do mesmo. Citando Einstein: “o observador influência o observado”. Portanto, remetendo isto para o nosso campo de trabalho, essa influência sob o observado implica um ponto de vista privilegiado por nós adoptado, mesmo que se baseie na intersecção de diferentes olhares de diferentes disciplinas. O trabalho de intervenção à escala urbana, como sabemos, implica diferentes domínios, fora a arquitectura e o urbanismo, existe também a participação de toda uma série de disciplinas ligadas a diferentes questões que vão desde as engenharias, questões geo-ambientais, questões sociológicas, questões jurídicas, políticas sociais públicas estabelecida, e a contribuição de dois domínios que considero fundamentais, que são a psicanálise e a filosofia. Porquê esses dois domínios?
Claramente, porque a psicanálise nos ajuda a “escutar a demanda”, a sensibilizar-nos para o que provêm do campo do Outro, de uma maneira muito especial. Existem duas formas de demanda, uma latente e outra manifesta. A manifesta é a que se expressa nas declarações, quando visitamos um lugar e falamos com as pessoas, estas pessoas encaminham a demanda; outras às percebemos olhando, observando e caminando o lugar. Por isso não se faz arquitectura e muito menos urbanismo sem considerar aquilo de que uma cidade chega a nós pelos olhos e pelos pés“, isto é, colados ao local de intervenção. Como disse Paul Klee, ”um olho vê e o outro sente”, por isso ela nos chega caminhando e vendo, e sobretudo ouvindo, escutando o que dizem as pessoas que moram em cada um desses lugare, e que nós temos que traduzir para estruturações compositivas, arquitectónicas e urbanísticas, de maneira consistente. Portanto, a relação, a interferência, a intersecção com o lugar digamos assim, nunca é uma questão neutra, implica sempre uma pré-disposição nossa favorável ao lugar e a vontade de entender e estabelecer com esse lugar um diálogo, uma interferência positiva. Por isso para mim nunca existem determinantes paralisantes se olharmos com o desejo de descobrir de novo, do zero, o que foi, na origem, a genética do lugar e então, a partir desse re-entendimento, dessa re-interpretação do lugar, estabelecer um diálogo, uma corrente de transferência entre nós arquitectos, os interlocutores quer sejam da cidade formal ou da cidade informal, e as condições físicas do local no sentido de re-arruma-lo. de re-arranja-lo. O trabalho do Arquitecto Urbanista é esse, introduzir e re-pensar uma ordem que o local pode até mesmo pode sugerir, mas que tem que ser interpretada arquitectónica e urbanisticamente com os instrumentos da nossa disciplina, que é exactamente a diferença com qualquer uma destas outras disciplinas que mencionei anteriormente.
Mas dizia eu que a Psicanálise nos alerta especificamente para esse cuidado estremo que devemos ter com a escuta da demanda. Mas como faz isso a Psicanálise? Como ela faz a partir de Freud?
O faz através do método psicanalítico que pressupõe duas componentes fundamentais; a atenção flutuante – que significa olhar para todos problemas ao mesmo tempo e ao mesmo nível, sem estabelecer hierarquias a priori. As hierarquias aparecem após as análises. E ao mesmo tempo que a tensão flutuante, estabelece-se uma associação livre – que significa que podemos fazer conexões entre diferentes variáveis que intervêm no problema, quer sejam físicas, ambientais, sociais, do sujeito, ecológicas ou construtivas, ligadas a “aura” do lugar; ou seja, podemos e devemos estabelecer estas relações, estas associações, de forma totalmente livre.
Na psicanálise isto implica conectar factores sem nenhuma relação de linearidade, sem nenhum esquema pré-estabelecido.
No nosso caso, após sucessivas análises de decantação e reflexão, vamos encontrando ordens ocultas que num primeiro momento não víamos.
A outra disciplina que depois da modernidade ganhou extrema importância é a Filosofia, porquê? Porque a Filosofia tem como objectivo construir conceitos; ora, um arquitecto não constrói conceitos, mas sim maneja, opera com conceitos, e alguns dos conceitos construídos pela filosofia que vao ser usados pela arquitectura e urbanismo, são os conceitos de “rizoma”, que subentende uma estrutura muti-polarizada, multi-enraizada, que não tem um centro mas sim muitos centros ou mesmo nenhum centro, e isto é fundamental para se poder pensar nestas megalópoles contemporâneas a que já me referi anteriormente, visto serem constituídas por um emaranhado de questões muito densas, muito complexas, que só as podemos abordar com estes conceitos da filosofia e com os da “teoria da complexidade”, que vem do campo da ciência. De Deleuze tomamos o conceito de rizoma e também os conceitos de espaço liso e espaço estriado; o conceito de dobra, enfim, vários conceitos que nos permitem entender e imaginar um tipo de espaço tanto exterior quanto exterior, ou espaço público, feito não de uma continuidade linear à maneira tradicional, mas sim constituído por uma topologia na quail as coisas se imbricam, se dobram e desdobram e vão configurando espaços de uma maneira já não cartesiana, mas de uma maneira em que a tecnologia e os conceitos filosóficos e da ciência contemporânea nos permitem imaginar novas formas espaciais e novas condições espaço-ambientais.


4- Nos tempos de hoje em que as tradicionais ferramentas de abordagem se vêm insuficientes na sua linearidade, superadas pela magnitude dos problemas, suas mudanças e paradigmas, que caminho esboça que permita recuperar o projecto urbano como uma ferramenta eficaz na construção de um habitat mais digno e justo para as gerações futuras?

R4: Com a experiência adquirida diria que posso antever e ver operando uma clarificação cada vez mais consciente por parte do arquitecto urbanista, em relação aos pressupostos do projecto urbano, e poderia dar como exemplo o trabalho que estamos a executar aqui no Rio. Nesse trabalho qual é a função do projecto urbano? O que entendemos por Projecto Urbano?
A sociedade está sempre a formular projectos através de varias representações: associações de vizinhos, associações comerciais, não comerciais com fins sociais, ONG`s, instituições privadas, estatais, mistas que atolam no território e têm, digamos assim, projectos formulados, mas que em geral costumam ser apenas expressos em declarações ou escritos. A função do arquitecto é a de espacializar as demandas e ajudar a reformular estes projectos, localizando-os em lugares específicos do território, o qual permite criar uma imagem definida do que se quer; visualizar ou criar uma ideia reconhecível de espaço habitáve, comunitário ou com função pública digamos, que relacione a urbe com a civitas, o aspecto físico com a forma de ocupação que a sociedade vai lhe dar. Aí o Projecto Urbano tem como função principal permitir que todos estes outros projectos, as demandas, todas aquelas considerações dos outros campos disciplinares, se refiram e tenham como eixo estruturador um modelo de urbanidade desejado ou a construir através do diálogo democrático, o que permite ir precisando as idéias. ‘As vezes nesses projectos sociais se fala muito em geral, se fala muito em abstracto e o Projecto Urbano vai mediar esta abstracção, tornando visível o invisível, dando suporte material ao que anteriormente eram apenas programas ou intenções. Essa é a função do Projecto Urbano. Ele é um instrumento da sociedade que permite repensar e reformular permanentemente o caminho para onde quer ir, o tipo de urbanidade que esta deseja e quer para si, hoje e no futuro, como ambiente onde irá desenvolver tanto actividades individuais quanto colectivas.


5- Consegue entender o “projecto” nos dias de hoje não só como um instrumento de análise mas também de negociação?

R5: Claro! Era também sobre esse aspecto que falei na pergunta anterior; o projecto é claramente um instrumento de análise e negociação entre os grupos humanos que compõem uma sociedade, isto remetendo ‘a problemática da pergunta anterior. Ou seja, tendo um projecto urbano formulado, o diálogo é obrigado a encaminhar-se, a encontrar um canal por onde evoluir tendo referências concretas – pontos do território, espaços, dimensões, conexões, valorização onde não existia valor – e permite pensar a cidade como o constituída de uma série de elementos diferentes. Uma cidade é feita de diferenças, e como essas diferenças podem e devem se conectar?
O projecto urbano é um elemento de análise de uma realidade e ao mesmo tempo um instrumento de negociação para conseguir viabilizar os objectivos a que determinada sociedade se propõe.


6- Consegue concordar então que existe a necessidade de uma “Revolução Critica” a nível Mundial, na maneira como se aborda a problemática da cidade, onde a desigualdade e a exclusão são mais a regra que a excepção? No caso, de que modo se reflectiria no urbanismo-arquitectónico-social e nos seus actores?

R6: Concordo sim com a necessidade nos dias de hoje de uma revolução critica se não fosse uma redundância de certa forma, pois toda revolução é uma crítica, inclusive alguns pensadores da actualidade falam de um certo desgaste do conceito de “revolução”, e até mesmo do conceito de democracia.
Hoje “democracia” simplesmente não significa nada! Bush diz ser Democrata! E eu não entendo como se pode impor a democracia através de mísseis por exemplo.
Mas digamos, se utilizarmos o termo revolução no sentido de uma renovação, de uma revisão do que está estabelecido, aí este conceito pode ter uma utilidade para nos ajudar a repensar o existente.
O arquitecto está sempre a repensar o existente, acho mesmo que ele é um crítico por natureza. Mas em que sentido? No sentido em que o que esta aí, esta aí para ser transformado do ponto de vista arquitectónico-urbanístico, nunca para ser alvo de mimetismos. Acho inclusive um absurdo estas instituições que procuram congelar o existente, pois ele não existe para ser congelado mas sim para ser constantemente melhorado, transformado, aprimorado, mesmo em relação a um determinado patrimônio. Todo cidadão por definição é responsável pelo patrimônio construído socialmente, culturalmente. Mas, especificamente os arquitectos-urbanistas temos de lidar com o aspecto físico e dessa forma temos de estar muito mais atentos, muito mais activos em relação a esta necessidade de estar permanentemente a criticar o existente, através de uma crítica positiva; a criticar buscando a transformação do existente. Esta é por tanto, uma questão básica e estrutural na formação do arquitecto.
No que toca mais ‘a problemática da cidade, especificamente na América Latina, chamo a atenção para alguns números que constatam que em Caracas, na Venezuela por exemplo, 60% da constituição da cidade é “informai”l, e na cidade de Lima 70% .
No Brasil. a exclusão social varia entre 30% a 60%; no Rio de Janeiro 30% da cidade é informal e um milhão e meio de pessoas vivem em favelas; em Belém e em Fortaleza quase 60% é informal. Então está claro que nestas cidades a questão da desigualdade e exclusão social é muito mais importante do que o problema do redesenho do núcleo histórico original, que também deve ser melhorado, incluído. Mas há uma tendência a sub-valorar a questão da desigualdade e da exclusão social. Esse problema reflecte a falta de acesso aos bens básicos de urbanidade; e quais seriam esses bens básicos? Sem dúvidas tem a ver com o desfrute da vida em sociedade, o acesso ‘a cultura, ‘a educação, ‘a saúde, a condições de habitabilidade dignas para todos os habitantes e não só para aqueles que podem pagar por esses benefícios. Temos, pois que reflectir sobre o urbanismo das cidades e os seus actores, reflectir sobre o nosso conceito de “urbanidade” e como permitir o acesso a essa urbanidade a todos os seus habitantes, o que remete para as formas de canalizar os investimentos. Por exemplo, aqui no Rio, o Prefeito usou como bandeira eleitoral a construção de uma delegação do Guggenheim pois isto supostamente atrairia mais turismo, etc., e o valor estimado para a construção deste museu é de 200 milhões de dólares americanos. Ora, enquanto toda a rede cultural da cidade se recente da falta de apoio público municipal, então, às vezes não se entende como por um lado se quer investir 200 milhões de dólares numa instituição e por outro falta de dinheiro para manter as estruturas culturais existentes. Ou seja, existem contradições muito violentas que a sociedade tem que discutir melhor, escolhendo melhor os seus representantes, pessoas interessadas em diminuir as desigualdades e a exclusão, beneficiando a vida em comum, a vida urbana, o desfrute da urbis e da civitas para todos.
- Podemos então concluir que falta urbanidade no Rio?
Sim, ou melhor, falta investimento no que é de interesse social; existe investimento no que é de interesse turístico económico e no que produz rentabilidade mas não há interesse profundo e verdadeiro, a longo prazo, naquilo que é de interesse social geral, para todos e não apenas para aqueles que podem pagar pelo acesso aos bens e serviços. Por outro lado, o Rio de Janeiro possui um dos melhores espaços públicos projetados que existem no país , que é o Parque do Aterro do Flamengo , obra do paisagista Roberto Burle—Marx.
É um verdadeiro espaço democrático acessível por todos os, executado na década de 60 , e hoje uma referência de qualidade paisagístico-ambiental.
É necessário retornar investimentos nesse sentido e desse porte, e por isso junto com minha equipe multidisciplinar temos projetado o Parque Linear de Manguinhos em umas das zonas mais conflitivas da cidade, com o intuito tanto de combater a exclusão, requalificar o ambiente , oferecer urbanidade e junto com isso, condições para a geração de trabalho e renda.
Trata-se de um Parque interativo multifuncional que inclui atividades esportivas, culturais, comerciais, um intercambiador modal de transportes e uma nova fachada urbana constituída por edificações de relocalização de moradias, com locais de trabalho no pavimento térreo. Este conjunto de atividades e espaços arquitetônica, urbanística e paisagísticamente concebidos, busca dotar a esta parte desvalorizada da cidade de “equipamentos de prestígio” capazes de constituir um novo “atrator” de vida urbana, combatendo a insegurança , os problemas sócio-ambientais e a falta de identidade deste local.

7- Como se leria e projectaria a cidade então?

R7: As intervenções e seus projectos em qualquer das escalas devem sempre partir da leitura da estrutura do lugar seja este lugar pequeno médio grande ou muito grande, um sector ou uma parte da cidade que se mede em hectares e não só em número de população. Isto significa que há uma complexidade de factores actuantes que são de ordem física, social, econômica, cultural ambiental, legislativa, de diferentes domínios, quer sejam eles municipais, estaduais ou federais, que se sobrepõem e entrelaçam, uma espécie de layers diferentes que compõem esse campo da problemática do urbano, urbano esse que nunca é apenas o físico mas o físico e o social juntos porque um espaço físico está ocupado por uma sociedade. Logo, a leitura da relação entre o físico e o social é que define, estabelece as grandes linhas mestras de actuação da forma com que a gente lê o lugar e vai derivar desde aí o como actuar, o que fazer; não é uma pressuposição mas, sim, um derivado.
Então, ler primeiro a cidade para depois projectar, elaborar o plano de intervenção ou o projecto urbano ou o partido urbanístico ou o “urban scheme” como queiramos chamar nas diferentes línguas.


8- Qual é então o seu objectivo, se assim podemos chamar, no seu trabalho no Rio de Janeiro?

R8: Em qualquer dos locais onde trabalho tento sempre tornar desfrutáveis as diferentes urbanidades que a cidade apresenta para todos os cidadãos e não só para os que estão registados no cartório. O que isto significa?
No Rio de Janeiro existem claramente duas cidades, a cidade cartorial que é a que está registrada com o nome do proprietário, e a cidade dita “informal” mas que tem uma forma obviamente, para a qual não existe sequer registro. Desde uma década atrás e até hoje se formos constatar nos mapas da cidade, encontramos nomes tais como o da Favela da Rocinha, Favela do Vidigal, Morro do Alemão, etc que são apenas manchas brancas no mapa da cidade, ou seja, não está sequer registrada a existência delas, as suas ruas, tipos de ocupação diferenciadas, etc; se olharmos a cidade desde um avião, podem ler-se os diferentes tecidos; os da cidade formal e os da cidade dita informal que tem cada um a sua própria lógica, uma lógica diferente que é necessário compreender, entender, para poder operar nela procurando nós, pontos de convergência, pontos de passagem e transição entre estes dois domínios do formal e do informal, e vice-versa. O que constituem estes pontos de articulação e de hibridação no nosso trabalho aqui no Rio?
Estão constituídos pelo que é de interesse comum entre estes dois mundos, nesta cidade partida; constituem espaços com programas específicos que de um lado se referem a aspectos sociais e económicos, centro de trabalho e renda que são uma espécie de ágoras, espaços abertos e flexíveis voltados para o exterior, fáceis e acessível de todos os lugares, abertos 24 horas, lugares de trabalho, diversão, intercâmbio e convivência fundamentalmente. Mas o que se intercambia nesses lugares?
Intercambiam-se serviços, prestações de serviços desempenhados pelas pessoas da comunidade em relação aos bairros envolventes que desta forma passam a não temer seus vizinhos, mas antes beneficiarem-se dessa relação diferente, desse intercâmbio possível entre estas duas formas culturais e econômicas diferentes, entre duas formas sociais diferentes, entre estas duas condições diferenciadas entre o formal e o informal.
Outro articulador para além do centro de trabalho e renda são os grandes centros desportivos, pois como sabemos desde os gregos, o desporto é um congregador social; em torno do desporto as pessoas se desenvolvem, sociabilizam, educam o pressuposto do esforço e da competição para vencer, ou seja o entendimento de que as coisas se conquistam e não são dadas de graça.
Por último, os serviços também são um articulador pois tem a ver com o que faz a vida comunitária: creches, postos de saúde, centros profissionalizantes, serviços que constituem um ponto de união entre os habitantes dos dois mundos (formal-informal).
Temos pois que entender a genética dos lugares e das culturas e procurar na complexidade das coisas estabelecidas, cómo os componentes dos aspectos físicos e sócio-culturais têm de se relacionar sem recorrer ‘a violência, do qual falava Jacques Derrida, ou seja a cultura da convivência através de uma terapêutica política.

9- Na sua opinião qual é a morfogenética da cidade actual, e como poderiamos intervir nela?

R9: Nos dias de hoje a cidade reproduz-se de diferentes formas; se na cidade tradicional ocidental poderíamos falar de um modelo fundador desde os Romanos, o Cardo e o Decumano, que foi a forma que os Espanhóis utilizaram na construção das cidades aqui na América Latina ou, por outro lado a forma com que os Portugueses implantaram as suas cidades. Penso em Ouro Preto, Pelourinho, o próprio centro do Rio, historicamente podemos ver que existe uma diferença e por isso falamos de duas lógicas diferentes, ou seja, a lógica portuguesa e a lógica espanhola de implantar-se no território. Enquanto Espanha produziu uma civilização racional, introvertida, Portugal teve muito mais a ver com a promoção de um modelo de integração no qual os aspectos sensoriais e estéticos estavam mais presentes. Hoje o Brasil representa uma civilização sensual e musical enquanto que a derivada do domínio espanhol não é que não seja musical, mas é sem dúvida uma música diferente; está claro por exemplo que o Tango e o Samba são formas de expressão musical bem diferentes. Cada um expressa questões diferentes e fala de coisas diferentes. E acho que nesse sentido a morfogenética da cidade actual tem por um lado raízes diferenciais e por outro existe um processo globalizante banalizador, unificador (para baixo), que implica que tanto as cidades Portuguesas no Brasil, quanto as cidades Latinas Americanas de origem Espanhola partilham de um mesmo mal, de uma doença contemporânea que é essa explosão das periferias e o esvaziar dos seus centros; a perda de potencia do centro que permanentemente vai se deslocando e o Rio é um exemplo disso. O seu centro primeiro e desloca para Botafogo depois para o Flamengo depois para Copacabana depois para Ipanema depois para o Leblon depois para a Barra e agora se pretende a construção de outras “Barras”, o que na minha opinião é uma desgraça do ponto de vista urbanístico. Porque a cada uma destas expansões devido a condições económicas, tecnológicas, modos de vida absorvidos acríiticamente de países ocidentais (refiro-me ao “american way of life”, e a Barra é uma cópia frustrada de Miami), o que se verifica é uma dispersão maior no território configurando ilhas desconexas e monotemáticas (como espécies de parques temáticos generalizados) que não só não geram urbanidade, quanto segmentam e empobrecem a existente.
_ Falta de Urbanidade!...
– Claro que implica uma falta de Urbanidade, um modelo de vida péssimo, desurbano, anti-urbano, que deveríamos combater de todas as formas possíveis com os instrumentos da disciplina; um dos desafios de hoje no Rio é justamente o de como gerar urbanidade no “deserto” da Barra da Tijuca, pois esta cheio de gente mas não se vê esta gente ou mesmo não se vêm uns aos outros; as pessoas se entrincheiram nos centros comerciais e não andam nas ruas porque elas não existem pensadas para os pedestres. ‘E paradoxal mas é a verdade, quando vejo alguém andando nas “ruas” da Barra da Tijuca penso sempre:
_ Olha lá está um sobrevivente, algum “cara” que se salvou de ser atropelado.
É uma desgraça, pensarmos que alguém nasce e é obrigado a viver naquele lugar, e não é só isso;
_ a pesar dos pesares, há gente que escolhe viver naquilo até que algum tempo depois compreende o erro que cometeu, seja se deixando seduzir pela propaganda Imobiliária, por uma ideologia assente em mais segurança e auto-suficiência aparente. Podemos aí encontrar a creche para os filhos, os campos de ténis, a piscina, etc. Até que um dia descobrem que são de uma chatice, de uma falta de estímulo total. Sim, porque nestes lugares não existe nada de interessante!
Olham para as mesmas coisas, compram os mesmos móveis, vão aos mesmos cinemas, compram nos mesmos supermercados, vão aos mesmos Shooping´s, e acabam vestindo-se de igual, quase já nem se distinguem uns dos outros.
Logo, este modo de vida lamentável não podemos incentivar e temos de encontrar a melhor maneira de repensar esta questão!
Portanto, a Morfogenética da cidade actual (e voltando a questão) tem a ver com diferentes modelos que se confrontam no território de forma autónoma sem unidade e por isso não podem produzir nehum tipo de coesão urbana, não podem produzir uma nova urbanidade como um desfrute social do “bem comum”; quase que a ideia do bem comum se perdeu. Então, existem bens particularizados e não bens comuns. É neste sentido que me referia ao condomínio residencial, ao shopping center ou ao parque temático, como tipos de “espaços lixo”.
Temos que debater mais sobre as formas de urbanidade hoje e promover o esclarecimento do cidadão, e sobretudo daquele que pode comprar, pois é ele o causador em grande parte destes novos modelos de urbanidade desurbana, que reflectem uma clara ausência de cultura urbana. Devemos nós (arquitectos) exemplificar através dos nossos projectos, novas possibilidades de vida urbana mais inteligente, mais integradora e menos excludente, visando a promoção de uma sociedade mais justa e menos esquizofrénica, menos temente de si mesma, obrigando o cidadão a enjaular-se e a atravessar todo tipo de barreiras, armadas ou não, que só desunem a sociedade e geram desconfiança mútua.
_ Qual seria então o seu diagnóstico, ou o seu “comprimido”, para a resolução desta doença, desse câncer da sociedade actual?
“Desarmar os espíritos” sem sombra de dúvidas, ou seja tornar integrado, permeável, tornar sem restrições a circulação entre os diferentes sectores da sociedade e da cidade, utilizando uma política educativa consistente, com debates sociais usando todos os meios possíveis, para mostrar aos cidadãos que ao invés da desconfiança para com o outro, dever-se-á incentivar a convivência, o diálogo entre as diferenças e daí derivar novos comuns denominadores. Pensar em espaços integradores, abertos, incluindo sectores de cidade, conexões entre as partes desconectadas, preservação do meio ambiente; valorizar o que é de todos por sobre o que é de cada um, combater o individualismo ponto e defeito assente na sociedade actual.
Temos que questionar o modelo de desenvolvimento no qual esta sociedade se baseia. Com este modelo predador, individualista e separatista não iremos a lugar nenhum. Temos que reverter os padrões, como? – Pela educação! Formulando projectos de espaços públicos, para residir, para trabalhar, para negociar, para lazer e integrá-los, com qualidade formal, espacial e ambiental. Promover grandes atratores de urbanidade, grandes ágoras públicas, grandes “buracos de criatividade”, como falava Henri Lefebvre.
É nesse sentido que acho que devemos direcionar o futuro das nossas cidades. A cidade na paisagem e a paisagem na cidade têm que estar muito entrosadas, incluindo uma nova idéia de relação entre o ecossistema natural e o ecossistema social.
- Clonar mais “Central Park´s” quer com isto dizer?
Eu diria que o modelo exemplar disso aqui no Rio seria o Parque do Flamengo, um grande jardim público que permite circular, se divertir, fazer praia, desporto, conviver, e que alberga museus, anfiteatros e uma série de equipamentos que tornam o espaço de acessível a todos, aberto. Até eu utilizo este local, todos os dias para fazer meus exercícios e andar de bicicleta. Vou atravessando “túneis de perfumes” diferentes que Burle Marx projectou e que me fazem um bem enorme; para mim é uma espécie de terapia, uma “viagem” mágica entre a paisagem, os cheiros, o rocio, etc. Enfim, é um lugar para consumir paisagem; um consumo de lugar e não um lugar de consumo.

10- Uma Favela poderá então ser um exemplo disso? Que experiência pode retirar do programa Favela-Bairro desde o seu início?

R10: Acho que vem mesmo a calhar, como dizem vocês em português, o facto de termos aqui na parede desta sala uma imagem do Parque Urbano Metropolitano que estamos a projectar, ou melhor a acabar de projectar, que implica um projecto de escala territorial como costumo dizer, no sentido de que tem apenas no seu ponto central uma extensão de 1,9 km. E é justamente para mudar radicalmente a imagem que o lugar tem hoje que do lado de cada via de uma avenida que dá hoje pelo nome de Av. Leopoldo Bulhões, e do traçado da linha-férrea existente, que constituem uma barreira, um fosso que separa varias comunidades de cada lado, comunidades que a proposta consiste em eliminar os muros existentes, elevar a linha-férrea e integrar o que até agora era desintegrado, mediante um Parque Urbano interativo que inclui nova estação para os comboios, equipamentos desportivos e culturais, camelódromo, ou seja equipamentos projetados para comércio ambulante, funcionando 24 horas em pontos especiais determinados. Incluindo também novas fachadas urbanas de cada um dos lados do que era considerado “os fundos” das construções existentes, o tratamento do rio existente que até agora era considerado um risco ‘a saúde pública, munindo-o também de instrumentos que propiciem o seu desfrute com vias pedonais, ciclo-vias, reflorestamento geral, quiosques com mesas, etc.
Ou seja, é um parque complexo com múltiplas actividades e que toma como referência numa espécie de homenagem, o Aterro do Flamengo, desta vez num conglomerado de maior vitalidade de atividades, mais povoado de opções diurnas e nocturnas, um um conector-articulador, urnanístico-social.
_ Olhando para o projecto consigo visionar e compará-lo a um fecho de vestuário, um unificador incondicional de dois mundos, enquanto que o Aterro do Flamengo tenta e consegue de maneira muito particular unir ou unificar o urbano e o mar!
Sim, existe claramente esta diferença; no nosso caso, mesmo não tendo mar temos gente de cada lado e este “mar de gente” digamos assim, é muito mais interessante que o mar ‘a noite que é uma boca escura, um buraco negro. Aqui temos projectadas actividades interactuando dos dois lados, gente que realiza actividades, que se movimenta e que utiliza o parque e seus equipamentos em diferentes dias e horários; trabalhadores a sair para os seus empregos ao tempo que outros chegam, gente que vem pelo comercio e os serviços, o esporte, os cursos, o café-internet, etc.
Nós pretendemos que estes equipamentos aqui projectados tenham vida 24 horas.
_Mas voltando a pergunta inicial da qual nos deslocamos um bocado, que experiência retirou do programa Favela-Bairro?
Bom, o que ensina o Favela-Bairro, ou que me ensinou a mim particularmente?
Antes de trabalhar no Favela-Bairro; ou seja, na cidade Informal, trabalhava na cidade Formal, mas os códigos, as metodologias de aproximação são completamente diferentes. Digamos que basicamente o grande ensinamento que nos pode dar esse trabalho nas áreas Informais é o respeito pelos outros. O querer aproximar mais, o querer saber sobre essa forma de vida que está baseada na solidariedade, no partilhar os problemas, no partilhar expectativas, no partilhar projectos que são formulados de forma comum. Isso é um ensinamento muito importante e gratificante; mesmo vindo de áreas de carência promovem uma grandeza espiritual digamos assim, um gesto humano muito maior que o da classe média e alta; ou seja, essa gente não tem nada mas está sempre disposta a compartilhar o que tem, por mínimo que fo, com o outro, com o visitante, com quem vem de fora.
Isto para mim foi um estímulo para pensar que o homem, apesar dos seus problemas, apesar da sua face mais individualista, mais egoísta, em muitos momentos é capaz de se desprender desse aspecto e pensar com o mais próximo como fazer deste mundo um mundo melhor. E nos nossos dias isso não é pouca coisa. Isto remete a algo de que falava o sociólogo Michele Maffessoll a beleza, é “sentir algo com o outro, sentir emoção estética”. E o que significa “emoção estética”?
É o partilhar um estado de espírito, é algo que se sente junto quando se está junto, compartilhando uma história em comum, uma cultura comum, valores em comum.
Então é pertinente quando se trabalha nestas áreas Informais da cidade e se convive com muitos interlocutores que não estão aí para obter nenhum benefício particular ou privado, mas sim pelo interesse comum, para que as coisas possam mudar para o bem de todos, pensar que isto é uma lição para o resto da cidade, para o resto das classes sociais em geral excessivamente viradas para sí, para os seus interesses particulares, seu “terreirinho”, sem visão de conjunto, sem consciência social. Pois, esta gente tem muito mais visão de conjunto, visão de interesse público que a classe média e alta por exemplo.
_Nesse caso, se tivesse que transmitir a quem nunca ouviu falar, como trabalha no Favela-Bairro, qual a metodologia, de que maneira aplica os pressupostos?
Claro, como isso se dá? Quando metemos o pé no lugar, a primeira coisa que faço quando vou visitar uma comunidade para a qual vou fazer um projecto é telefonar para a associação de moradores, marco uma entrevista e encontramo-nos, primeiro na associação onde existem uma série de interlocutores locais com os quais trocamos informações úteis tanto para mim como para eles, as suas expectativas carências, etc. Visitamos em seguida o local e a intenção é partilhar com eles alguma coisa para além de observar, fotografar, perguntar, conhecer melhor. A partir desse intercâmbio se estabelece uma transferência quase psicanalítica onde é determinante perceber e identificar na comunidade questões como lideranças e hierarquias, mesmo que para isso seja preciso de voltar inúmeras vezes, e a partir daí estabelece-se uma relação de confiança mútua. Procuro então a partir desse momento daí incessantemente desenhar mentalmente e em registro gráfico, aquilo a que chamo “esquema de leitura da estrutura do lugar”. Quando estou em condições de desenhar este “mapa”, este desenho topológico que marca as relações fundamentais entre as partes do lugar, posso então dizer que “entendi esse lugar”; só e somente depois disso estarei em condições de formular o “partido urbanístico” ou “urban scheme”…
_ Já agora o que são os “Partidos Urbanísticos”?
È a formulação do plano de consistência urbanístico-social geral; implica introduzir todos os elementos que faltam no lugar, reconectar todo o que existe, repensar as centralidades existentes para potencializa-las, e criar novas centralidades capazes de resignificar completamente o lugar objecto de estudo.

11- Que relação têm o Urbanismo e a arquitectura nesta abordagem e que disciplinas mais poderão participar e de que maneira? Porquê da paixão pela Psicanálise?

R11: Disse anteriormente que a formulação de um projecto urbano, partido urbanístico, urban scheme, esquema de estruturação urbanístico e social, como gosto mais de chamar, têm uma função fundamental na medida em que permite fazer o nexo entre as demais disciplinas que deverão fazer parte do projecto urbano. São elas por exemplo, todas as engenharias, os aspectos jurídicos, os aspectos sociológicos, aspectos geo-bio-ambientais, aspectos ligados ‘a acessibilidade, circulação e transportes. Todas elas juntas e acrescentando aquelas que também já mencionei especialmente, que são a psicanálise e a filosofia.
Porquê a paixão pela psicanálise? Porque participei em actividades de formação de uma instituição psicanalítica que dá pelo nome de Letra Freudiana, que se dedica a transmissão da psicanálise, e que é de orientação Lacaniana. Eu coordenava nesta mesma instituição uma área que se chamava “Interseções do Campo Freudiano“, na qual eu promovia debates e convidava diversas perssoas de diferentes disciplinas tais como directores de cinema, escritores, pintores, cientistas, investigadores, que tinham directa ou indirectamente algo a ver com a psicanálise. Ou seja, a maneira como eles escutavam/entendiam as questões ligadas ao desejo humano.
Ora bem, a psicanálise debruça-se basicamente em torno de tudo o que se estrutura em torno do desejo, desejo do sujeito, ou seja o quanto o sujeito deseja atingir um fim, mesmo que este fim seja difuso. O desejo é sempre difuso, é um “obscuro objecto do desejo”; nunca se sabe ao certo realmente o que queremos; quando pensamos estar a alcançar o que queríamos, o nosso desejo já se alterou e deseja algo diferente. Resumindo, o desejo é o motor da vida humana, é o motor do sujeito, o que o faz avançar, o que o faz ir em frente, portanto, o desejo é algo que tem a ver com todas as disciplinas, com todos os trabalhos e especificamente o psicanalista é o indagador em torno do desejo do sujeito. A pergunta é:
- Qual o seu desejo?
Esta é uma questão muito importante e por isso em relação ao arquitecto urbanista revela-se fundamental, e realmente muito pouca gente no ramo da arquitectura trabalha nessa linha, traduzindo-se em questões projetuais. Existem os que pensam mas não desenham, e os que desenham mais não pensam; eu sempre fui ao encontro do pensar-desenhar e do desenhar-pensar como um acto único. Creio que temos que tender a isto, embora nunca conseguiremos completamente, mas é o que nos move, o desejo de fazer confluir estes dois aspectos.
Portanto a psicanálise é um grande estímulo, vale a pena ler sobre, é uma leitura difícil mas gratificante.
_Jáuregui, você realça a importância do desejo para o sujeito, ora bem com a experiência que obtive no trabalho consigo realizado nas favelas concluo que, se tivermos em conta que uma das características do típico habitante de uma favela é a forma particular em que se encontram as suas expectativas, ou seja, as suas expectativas de vida estão reduzidas face a conjuntura em que se encontra e o que a sociedade lhe oferece. Logo pode e residira na psicanálise a chave para juntamente com a arquitectura e o urbanismo reavivarem estas espectativas perdidas e devolver a este habitante a força para lutar por mais e melhor para sí… Sem sombra de dúvidas!
Isto é fundamental, existe um papel didáctico, uma função didáctica do arquitecto em relação não só ‘as comunidades como também com a classe média, enfim, todas as classes sociais em contacto com ele.
O arquitecto deve estar alertado pela psicanálise sobre a questão do desejo. Há uma função fundamental do arquitecto que é mostrar ao sujeito beneficiador do seu serviço através do diálogo, o que este tem direito a desejar e não tem conhecimento. Esta é uma função social das mais importantes da arquitectura e do urbanismo.
Lembro-me uma vez de ter um cliente da Globo (estação televisiva brasileira), um jovem actor abastado que me veio procurar recomendado por um amigo. Ele queria uma residência de influência mourisca, ou seja árabe; soube ele anteriormente da minha paixão por tudo o que é árabe vindo da península ibérica. A questão que me trouxe era a de que queria a casa com um clima árabe. E em que se reduzia o clima árabe? Ele trazia alguns livros consigo de decoração de interiores, desses climas entre pátios, galerias perimetrais, muita vegetação, água, espaços bem ventilados, bem floridos, pés direitos altos, paredes tratadas com muitas texturas, muito sensualismo, rodapés enormes em madeira, etc. Mantivemos longos diálogos durante cerca de seis meses nos qualis este cliente, que partiu do desejo de querer uma casinha tradicional, passou a aceitar outros componentes e a mim permitiu-me pensar na Casa Klein, que utiliza os conceitos mais recentes no que diz respeito ‘a topologia, psicanálise, espaços não lineares, uma geometria não Euclidiana, etc. Resumindo, durante este percurso ele passou a querer ao invés de comprar literatura baseada em conceitos bem tradicionais, a buscar outra baseada em conceitos bem contemporâneos que lhe permitissem acompanhar o dialogo e não só, opinar e estimular-me a investir nisso.
_Ou seja, ouve um intercâmbio de interesses que resultou numa alteração dos desejos mútuos para uma convergência favorável e benéfica para os dois. Mas mais importante que isso, aprendemos juntos. Ou seja, o desejo impulsiona-nos sempre para frente, leva-nos a querer mais do que o pretendido inicialmente.

12- Se pudéssemos falar numa metodologia de abordagem a esta problemática à maneira de “Jorge Jáuregui” ,ela estaria implícita no concurso de Santa Cruz? Como descreve esta experiência?

R12: Poderia ser definida assim, ou seja, “Metodologia Jáuregui”!
Antes de me dedicar ‘as áreas informais da cidade, pouco ou nada sabia sobre a matéria e muito menos sobre metodologias de abordagem para tais áreas.
Como todo arquitecto com um mínimo de experiência, sabia que qualquer projecto e em particular um projecto a desenvolver numa área informal da cidade deve partir da leitura da estrutura do lugar para depois formular a sua proposta. Na área informal não há possibilidade de imposições, nenhum projecto deve partir ou ser elaborado sem conhecer o lugar, sem caminhar, sem escutar, sem vivênciar, sem observação atentamente o lugar. É preciso ouvir as pessoas que nele vivem e inteirarmo-nos dos seus problemas, expectativas, desejos, e daí detectarmos o potencial manifesto e o oculto. Há que saber diferenciar a demanda latente da demanda explícita ou manifesta. Esta é a metodologia básica para qualquer projecto de intervenção na área formal ou informal da cidade; ela reflete a sensibilidade da arquitectura e do urbanismo contemporâneos no que se refere ao meio ambiente, sempre muito ferido pela acção humana. Existe mesmo um conceito aplicável que é o de ecogénese, ou seja, tentar reconstituir as condições mais próximas das originais mesmo sabendo da impossibilidade desse desejo. Isto explica a tendência da arquitectura e do urbanismo contemporâneos que procuram uma convivência mais inteligente entre a acção humana e o meio ambiente.
Santa Cruz é um projecto a “maneira Jáurégui”, porque representa a nossa ideia transcendente desta possibilidade de repensar uma nova urbanidade, que implica novas centralidades nas periferias da cidade configurando um foco que pode e tem a ver com o “mitocondrial” de que falavas. Como um elemento contaminador positivo, gerador de vida, que possa regenerar tecido urbano ou condições de urbanidade num entorno sem qualidade.
Nesse projecto pudemos explorar mais o conceito de “quarteirão aberto”, que inclui diferentes volumetrias de diferentes densidades, também diferentes tipos de espaços colectivos de escalas mensuráveis e controláveis pelo homem e não como propunha a arquitetura “moderna”, ou seja, espaços verdes entre as edificações pertencentes a ninguém, que se tornam em lugares de delito, com falta de tratamento e sem qualidade nenhuma.
É interessante que nós conseguimos pensar o máximo de condições de urbanidade, partindo do programa mínimo que o poder público tem para pessoas de condições económicas restritas. Com o suporte do Estado e do promotor do concurso que solicitou ideias para a idealização de ambientes e espaços com qualidade mas de baixa renda, conseguimos fazer o que em muitos locais apenas se consegue com a disponibilidade de maiores recursos econômicos. Acho que esta é a grande questão e o melhor caminho não só na América Latina mas também no resto do mundo. Como pensar espaços de qualidade para os que tem menos condições? Pois estas pessoas são a maioria no planeta…

13- Nos dias de hoje as preocupações com o ambiental e ecológico tem se tornado algo cada vez mais presente no quotidiano do arquitecto e na consciência Social em geral. Como perspectiva esta tendência num futuro próximo?

R13: Acho que toda arquitectura deveria ser ambiental e ecologicamente concebida. Se pensarmos um pouco, todas as obras que realmente representam referências de qualidade na história da arquitectura e urbanismo são ambientail e ecologicamente consistentes.
Prevejo pois num futuro próximo uma cada vez mais presente, mais intensa, mais interrelacionada, mais implicada preocupação por parte do arquitecto urbanista no que ‘a ecologia e ao ambiente diz respeito nos seus projectos. Usaremos para este fim cada vez mais ajuda tecnológica, tentaremos diminuir o consumo energético, captar energias alternativas, proteger os edifícios, qualificar cada vez mais a natureza com arquitectura e incorporar cada vez mais a natureza na arquitectura, ao mesmo tempo que recuperar e atualizar antigos saberes sedimentados ao longo do tempo, mas esquecidos pela vorágine do “presentismo”.
- Acha que as novas tecnologias vão tornar-se num impulsionador ou num inibidor desta consciência ou corrente arquitectónica?
Acho que vão ser um potencializador, um incentivador. Já existe uma consciência cada vez maior da incorporação de tecnologia menos submissamente, menos uma “tecnologia pela tecnologia” e mais “tecnologia por selecção” ou seja, a que mais aproxime os pressupostos arquitectura-tecnologia-ecologia-ambiente-homem.

14- No concurso de Holcim apresentamos uma ideia inovadora, aquilo a que chamei “mitocôndria” ou seja, um objecto arquitectónico (organela celular) capaz de gerar energia capaz de transformar, regenerar, desenvolver, dar vida a sua envolvente (célula). Como a apresentaria muito rapidamente?

R14: Esta ideia permitiu-nos realmente juntar duas coisas até agora separadas que são o aspecto social e o aspecto ecológico-ambiental. Este concurso foi um estímulo para que pudéssemos pensar em objectos numa escala variável, capazes ao mesmo tempo de requalificar o lugar, que nesse sentido tem a ver com o mitocondrial (aquilo que é capaz de introduzir um germe de transformação qualitativa num meio sem qualidade, como é o da favela por exemplo), como também ser uma arquitectura didáctica que visa mostrar de que maneira podemos utilizar a tecnologia de uma forma positiva, que incorpore a demanda social, a condição económica e cultural do meio, representando sempre num passo em frente e não uma resposta ao existente; apontando para o futuro.
Permite-nos pensar na transmissão de uma nova relação entre o objecto e o meio, o usuário e o objecto, o objecto com ele mesmo, buscando captar, transformar e reciclar tudo o que utiliza.
-O que mais há a realçar éa versatilidade conferida a proposta, pois ecológico-ambiental já pedia o concurso. É algo inovador pois utiliza-se ele próprio para como chamo regenerar a favela, funciona como uma mais valia para o meio local e não apenas para sí! Explique um bocado a ideia?
Esta afirmação é pertinente, de facto esta dimensão do funcional é algo que na minha opinião sempre atrapalhou a arquitectura, e em que sentido? Pois se “todos os edifícios funcionam, mas nem todos os edifícios são arquitectura”, subentende-se que a função não tem nada a ver com a arquitectura. Jacques Lacan o psicanalista, diz por eu turno que “o que diferencia a arquitectura do edifício é a potencia lógica que ordena além do que o edifício suporta de possível utilização”, por isso nenhum edifício (salvo um casebre) pode prescindir dessa relação que o torna parente da linguagem.
Até ao concurso Holcim, eu não havia trabalhado num projecto com tal multi-funcionalidade diferenciada articulada; é um edifício que pode servir como alojamento temporário, como escola básica, pode servir como escritório, para produção e manufacturação. Pode servir também de espaço de convivência, pode integrar sabedoria e técnica provenientes de fora, com técnica e sabedoria local, além de conter um valor simbólico muito grande. É um marco, um mastro cravado no entorno.
Portanto, este diálogo das diferenças num ambiente esteticamente elaborado, tecnologicamente contemporâneo e sustentável, com o respeito ao meio ambiente, é um projecto que me permite pensar os meus futuros projectos nessa linha de pensamento.

15- Recomendaria e ou aconselharia o seu mais recente pupilo para um mestrado na área?

R15: Eu não gosto de aconselhar ninguém, mas falando entre amigos que desenvolveram uma relação ao longo desses seis meses diria que sim.
Mesmo tendo os mestrados e doutoramentos se transformado numa indústria e numa exigência de certo modo muito marcada pelo consumismo, acho que tem um aspecto positivo que permite, depois da Universidade, indagar algumas questões que são escolhidas pelo aluno afim de aprofundar de acordo com o seu desejo e não como uma ideia transmitida por alguém do que deve ser feito. Pode ser para ti um estímulo intelectual junto ‘a prática profissional que se revelará positivo para a tua formação; vejo que há um desejo que se traduz na forma de colocar e colocar-se perante os problemas, a forma com que te aproximas e pretendes indagar o que aqui se faz e como se faz. Claramente existe um desejo de saber mais, querer mais, aprofundar mais. O que pode levar-te a bom porto.
-Da minha parte e para concluir quero que saiba que estou muito agradecido pela oportunidade e os ensinamentos que me deu, e com certeza que Jaurégui há de ser sempre uma influência na trajectória da minha carreira, no como olhar para a arquitectura, no projectar, no colocar-me face aos desafios e problemas, fará parte da constituição crítica-arquitectónica do meu inconsciente. Foi um prazer tê-lo conhecido.
-Muito obrigado!

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Italian Press
Cuestionario de Ilaria M. Linetti

1. You worked recently in India, and work with Brazil. What is really happening in these developing countries?

As part of the BRIC group, Brazil and India are countries with considerable similarities, although significantly different in the magnitude of their populations, and the manner and degree to which these gain from their countries' recent development. In particular, they differ in the amount of people excluded from the benefits of 'development' and 'urbanity', and the way in which they partake in their nation´s progress. Nevertheless, both countries are comparable in the role that dominant classes play (directly and indirectly) in the economical, cultural, and educational exclusion of the majority of the population; where only a small minority are active participants in the globalized sectors of capitalism.

What is occurring in Brazil and India is a product of rapid economic growth lacking quality and imposing high environmental costs. Urbanistically, these countries are experimenting unprecedented levels of both vertical and horizontal urban expansion, where low standards of quality are dictated by a booming construction industry, and development is conducted by a speculative real-estate market.

2. What are you doing, and what can be done for Slums and Favelas?

I have continued to work with the urbanization of slums (favelas) since 1995, when the Favela-Bairro program was established by the municipal government of Rio de Janeiro. The urbanization of favelas entails articulating its physical aspects (infrastructural-urbanistic-environmental),  social aspects (economical-cultural-conditions of life*), and ecological aspects (mental ecology-social ecology-existential ecology) with matters of public safety and the issues faced by the contemporary individual . The urbanization of all the existent favelas involves the necessary political determination, economical resources, and consistent projects designed by experienced, interdisciplinary teams.

3. What do these places need to become sustainable for people?

It is necessary to provide such places with projects that have a clear urban strategy, specifically tailored to solve the area's most pressing programmatic demands. The principal issues that arise when considering sustainable interventions in favelas relate to the reutilization (incorporation) of existent buildings, spaces and vegetation. It is necessary to re-equilibrate the relations between green mass and constructed mass in order to turn our cities into desirable places for living. However, sustainability is a concern that already arises in the initial stages of the intervention: The careful development of an adequate concept (projectual hypothesis), its subsequent cost-benefit analysis, and its sustainable implementation (including the allocation of public funding to procure a local workforce), are vital in maximizing the project's initial impact and securing it's lasting effect on the population.

4. Is architecture important in lifting people out of poverty?

Urbanism and architecture can be important instruments to re-qualify the existing territory, simultaneously  contributing by providing a means of employment and income to local dwellers. Better buildings and public spaces, specifically tailored to meet a neighborhood's unsatisfied demands, can significantly improve people´s quality of life, especially in the least favored areas of the city.

5. Do you have any help from authorities, how do you finance your projects?

The vast majority of projects in favelas are executed through biddings and public competitions, and occasionally by a direct invitation from public authorities. The urbanization of slums can only be done by means of public funding, due to the magnitude of the investments, which are not based on the capitalization of real estate, but rather conceived as necessary investments to answer social debt. What was not done in due course, needs to be done now -it's a question of ethics: "to do what must be done."

6. Is the environment paying too much in Brazil at the moment? Are certain projects (like the various dams) necessary in your opinion?

Brazilian cities are also undergoing dangerous transformations by the hand of unregulated development projects that lack architectonic and  urbanistic quality. Such projects compromise both the environment, and the quality of life of the entire city's dwellers. The inhabitants of favelas have already paid a high price after  decades of ecological and socio-spatial negligence resulting from irresponsible policies and interventions. Today, especially in megacities, it is imperative to recover the environment, and to provide the conditions for a decent quality of life in the favelas, introducing infrastructure, proper conditions of accessibility, qualified services and equipment.

7. How did you become attracted to this kind of work? Who or what inspired you?

I was attracted to these kinds of projects by my former political militance, to which I owe an ample understanding of popular needs and demands. This field demands such a sensibility: the need to think and to intervene, both with a clear conception of our urban future (devenir) and a strong will to turn it into a concrete realization: the desire of a more articulated city and society, connecting the formal and informal “parts” of the broken city.

My reference to these types of projects includes the social approach of some of the masters of modern architecture, from which prominent examples include LeCorbusier -as an 'agitator' of socio-spatial and cultural issues-, and the Russian Avant-Garde -with its marked social concerns-.

8. Why did you pick Rio to live?

Because Rio is a city in which it is still possible to live “in the middle of the nature”, with the big green heart between lagoons and the sea. The climate and the receptive inhabitants invite you to integrate this socio-spatial body, always confident that things can be changed in a positive sense. I imagine a species of “samba urbanism” as a type of open urban condition for evolution, together with an interactive architecture as mediator between nature and culture, forming spaces, establishing new relations, dimensions and materials, thinking about time and the people that dwell buildings and collective spaces, providing the conditions for a conviviality of differences--a lesson that Rio teaches us, despite its apparent chaos.

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- Jorge Mario Jáuregui on Favela's Urbanization, interviewed by Elisabeth Blum and Peter Neitzke ***Copyright Rio de Janeiro, September 7 2002


Scheme of reading of the structure of the place: Complexo do Alemão

Jorge, last year the Harvard Graduate School of Design has awarded the Veronica Rudge Green Prize in Urban Design to you. A committee that for years has confered the prize on architects for this or that brilliant architectural single object now has awarded the famous prize for a project that has a tremendous social and political significance. Could you portray the main ideas of your work and the background of your experiences as an architect struggling for the realization of Favela-Bairro-Projects in Rio de Janeiro?

My first question always is this: What is the approach or the approximation, what implies the strategy of reading of the structure of a given place? From this approach you are opening the horizon from which you can get into every new project.
It is this approach that "limits" a project, depending of the form in which you are looking at a place, from which you interrogate a place.
To a certain extent, the form in which you interrogate a place defines all your possibilities. Places need to be well and precisely interrogated. You have to ask the right questions. The principal question in every favela is how to connect my sketches of studies to the waste favela-land.
What is the main question of urbanizing a favela?
Urbanizing a favela means introducing the attributes of the formal city in a non-structured areas. Which are these attributes?
The infrastructure, the ways that connect a favela with the surroundings and the main buildings and spaces that permit a conviviality life (cultural center, kindergardens, centres for generation of work and income, olympic viallage, plazas, the treatment of residual spaces, etc).
The people living in the community have the right to enjoy the benefits of the connections due to the infrastructure, which permits each place to work, to have access to communication with the rest of the city but simultaneously with this, to introduce plazas, spaces for profissionalizing courses, ecumenical spaces, etc. And all enjoy the services that support individual life.
Individual life means the endless addition of extra residences while public life is related to common interests - public spaces and services.
Infrastructure includes the possibility to improve culturally: there are spaces for physical activities and others for cultural activities. The seat of the Community Association is the most important place in the favela that I register in my reading of the structure of the place. This Community Center always constitutes a strong centrality and the question of central spots is one of the most important entity that can regulate the intensities capable of articulating the relationships between physical and social interdependences.

The favela and its neighbourhood

The plazas are conceived as an integration of favela and neighbourhood. Some places in the favela work like "integrators", like "connectors" with the neigbourhood areas. The urban equipment is not only made for the favela but for the neighbourhoods and for the city as well.

Do you know whether people of the neighbourhoods really use Favela-Bairro attractions? Could you give us an idea by comparing situations before and after an intervention?

Let me give you an example: Fubá-Campinho is one of them. There is a football field, a track, buildings for physical education activities, not only for children but for people of all ages; they are also used not only by favela dwellers but, by people from the surrounding neiborhoods, principally on the weekends.
This building is the seat of the Community Association. This is the Center of Professional Training, this is a bakery, and this is an Urbanistic-Social-Orientation-Station, primarily a place to resolve problems, to discuss private and public conflicts and all types of problems that emerge in community daily life, after our job is finished.
This is the Center of Urbanistic Intervention, with the "samba school" that has always been there. It is absolutely impossible to touch this important parts of cultural community equipments.
You can modify everything in the favela unless you don't touch those important elements of identification - the headquarter of the "Escola de Samba" and the soccer field.
In this place [sketch showing the different points of interest] we constructed the street, the new access to the seat of the waste disposal. Here is a kindergarden.
All these elements of intervention generate a new focus, a new centrality of the favela that did not exist before, that fonction like a kind of articulator between the favela and the neighbourhood. The only focus that existed before was the samba-school with many problems of access.
In this place [sketch] do not only play favela people but the residents of the neighbourhood too. It is a meeting point, especially for the young people of the favela and the neighbourhoods, a place of social contacts.


Localization of Rio

What about the parents of the neighbourhood's children? Aren't they afraid of letting their children play with those of the favela?

Yes and no. They are somewhat afraid, but the football and the beach are two spheres socially accepted by both. You don't have to enter directly into the favela. Both are in the periphery of the favela ... With the urbanistic intervention there is a new sense of participation, of pertaining to the community and to the society.

What are you doing to convince the favela people of your ideas?

Your question is very important. The favelados live in an absolutely precarious situation. Any proposal for an improvement of their living conditions, to give them a small place is better than the present situation, and is welcome. But the most important question is to go further than to introduce an infrastructure, ways and services. All this is necessary, but the most important thing is to configurate with all these elements a new "aura" of the place.

City Politics, Urbanistic Party (Urban Scheme) and J.L.G.

In the city of today the common sense or common politics isn't any longer to push these people out of their places. If any of their houses has to be erased for urbanizing the favela, the Town Hall offers them two options: to accept money for their houses (the Town Hall has a committee that evaluates the value of each of the houses) or to get a new house, in the complex, and in the interior of the intervention area.

Since when does the Rio Town Hall follow this politics of acknowledgement?

In 1994, when Cesar Maia was elected as Major, the Favela-Bairro program was established. In 2000, he was elected once again as Major.

What was the precise Town Hall strategy before 1994?

Its politics was to make disarticulated interventions like in all Latin America countries just to build some new residences, new pavements of the streets, new contentions on the hillside or introducing some services like kindergartens, posts of health, in a word: some services and improvements - but without a clear concept of what I call "urbanistic party" or urbanistic scheme. It's the "urbanistic party" that makes the difference. This notion defines the basis of the intervention. All questions are based on it: it regulates the whole of the variables that intervene - the articulation between urbanistic, social, cultural, economic as well as ecological questions.

The articulation between all these aspects is fundamental, it is the basis for the urbanistic project, which on the other hand is the basis that establishes the coherence of every proposal. I have already told you what I mean when I say that you have to read the structure of a given place. Reading implies distinguishing the different layers: the layer of central spots, the layer of physical and social limitations and possibilities, the layer of the system of waste, the layer of environmental aspects, etc. In my point of view, the most important question deals with all those readings, with the relation between the physical, the social and the cultural variables that defines the singularity of a place - clearly there is no other place like the specific place you're working on. Its physical characteristics, conditions and specific forms of social appropriation, of interaction between the different places and the community actions, and the community's occupation of the place.
In the favela each building acts like a monument. To me, even the smallest building in the favela has a symbolic function - a vestuario, the garbage post, the urbanistic and social orientation post for example has a important function as representation of the public in the interior of the private. In the favela, the public dimension did not exist before the intervention. All is private except the football field, the seat of the Community Association, and the kindergarten.
Most buildings have been constructed in a very precarious way. Nothing is elaborated. Neither the pre-existing kindergarten nor the social services. The responsibility of constructing anything in the interior of a favela is very important - the responsibility consists in the right of the favelados to acquire some benefits of the common life, of the city, of urbanity. Without these projects, without all these kinds of intervention, they wouldn't have any possibility to enjoy the advantages of the normal formal city.
The olympic village in Fubá-Campinho may work as an example. But more important than this, is the Center of Generation of Work and Income in the favela. That was the most difficult program to be established, for example in the favela of Salgueiro. The Center is a space that covers many activities: there are spaces for craftsmen, for lots of manual activities - repairing clothes, shoes, utensils, telephones, electronic equipments …all that is made by hands. A place where people repair all kinds of things which the urban middle class needs in their everyday life and that can be attracted to the Center. This Center is an "Favela-Bairro" articulator.
There are boxes of 4 to 4 meters in which one or two families work to offer services to the middle class people living in the quarters surrounding the favela. Those people arrive with their cars. There are many other activities, spaces for samba music, for weekend-parties, workshops, etc.
In the second floor of this house [sketch of Salgueiro] there are services offered by the Town hall. A public space conceived as an agora with entertainment, handicraft services, open until midnight, constituting a focus of the community life. All those services are offered by the Town Hall: for children, the elderly, for handicapped people and activities for the young population.
There are also Community parties like birthdays, "fiestas", balls, specific dancings which are connected to the favela culture like funk dancing - not the black funk music you might know but more like American rap, but American from our part of America ... to me America doesn't mean North America. The US act as a thief, stealing Latin America's identity, banalizing, pasteurizing Latin America. It's outraging … and the population of Latin America is larger than that of North America.

As told by Jean-Luc Godard in his movie Éloge de l'Amour:

"...de quel Américain s'agit-il
l'Amérique du Sud
je ne comprends pas, quelqu'un
des États-Unis
évidemment
évidemment, mais le Brésil aussi
ce sont des États unis
les États-Unis du Brésil ..."*
* Jean-Luc Godard, Éloge de l'amour. Phrases, Paris (P.O.L.) 2001, 96-97

Exactly! Godard is absolutely right.

"Urban party" - methods & strategies

What you can see in a place and what you can hear when you listen to the people is completely different. You know Paul Klee distinguishes things you can see from the ***ones you can feel …one eye looks, the other feels.
So did the Spanish architect Enric Miralles, who once was invited by the Rio Town Hall and myself, for a workshop in the city. Enric knew nothing about favelas. But he had his own and very interesting way to go to a place and to study it. He compared himself with a dog: the nose close to the place to smell every detail, going around and smelling everything, looking around, listening, smelling ... combining his eyes, his ears, and his nose. A place needs to be interpreted in all its aspects, in many layers, in all its plateaux, as Deleuze and Guattari said.


Perspective of Manguinhos´s Metropolitan Park

Precisely which plateaux are you speakingf?

I'm talking about some of them. About a specific section of the reality: urbanistic, social, political, cultural, economic, and ecological strata. But there is one dimension that can only be interpreted by architects-urbanists: the capability to transform all those variables in a consistent formal and spatial configuration. No other specialist is capable of working that out. An integrated reading of the complexity of the reality creates the basis of an elaborated scheme of reading of the structure of the place.
This scheme here [sketch: scheme of reading of the structure of Fubá-Campinho] was the first sketch to start the Fubá Campinho Favela project, a scheme that registers the form of access to the favela, the topological relationship between the different parts of the favela. Clearly, it is an abstract sketch of all the parts of the favela, without dimensions while registering the position of the centers, identifying all of the central spots in the favela. Central spots are very important topics. When you understand where the centers are, you know how to connect and signify these different centers as points of interest capable of generating other new significations. If you understand how it worked before, you can find and develop the necessary new connections. It is exactly that what I call the "urbanistic party", that establishes the coherent basis of urbanizing or integrating previously not integrated parts between them and the surrounding areas, including the new social services.

So the concept of the "urbanistic party" implies a structure composed of multiple parts? Is it the urbanistic key to the formulation of the project, the structural dispositive of coherence for all its different aspects?

Yes, it is the coherent referential basis to formulate the central idea of the whole intervention, that guarantees the consistence of the "composition". The necessary connections between all parts and the introduction of the attributes of urbanity that I have mentioned.

The uses of philosophy and psychoanalysis

How do you practice Enric Miralles' "technique" of sniffing, looking, and listening? Do you speak to the people?
All the time I'm speaking with the favela dwellers! This way of working derives from the influence of other disciplines, not only from urbanism and architecture. Basically, from philosophy and psychoanalysis.
Why philosophy? The philosopher teaches us how to think. Thinking means for him connecting things, ideas, and events. The philosopher helps us to think about how to think about the connection of different elements. For him, thinking is the work of interweaving a fabric. So, you need a philosopher in the group, because it is always necessary to find new answers to old questions, and to think about new alternatives. City, society, the relation between society and the interior community of the favela - a permanent work in progress. What interest me most is Enric Miralles" attitude; the technique hails from psychoanalysis. I once asked a Deleuzian philosopher: What does "city" mean for you? He answered immediately: "The city is the fluxus of everything passing through: architecture, sculpture, painting, music, information; the movement, the time".
The architect has to capture, to understand, and to formalize these different kinds of movement in a given moment of history for a specific situation in a specific place.

And why psychoanalysis?

We learn from the psychoanalysis how "to listen" to a certain speaker. In our case, how to listen to the people, how to respond to their "demands".
The psychoanalyst's questions are completely different from those the sociologist formulates. Usually, the sociologist is interested in the general average, not in the subjective implications of the demands.
The psychoanalyst is interested in the singular person, in all his or her singularity or individuality. Similarly, architects have to listen to every single person and every single problem, to their or her demands, to what people desire, establishing the difference between latent and manifest demands.
The demand itself is ambiguous! In a real relation between an architect and a client the latter might be an individual, a politician, a group of clients, a Community Association, even a banker. It is clearly necessary not only to trust in what a certain client says by words, but also what he does not say. There is always a certain hiatus between the speaker and the spoken. In this "listening" the subject shows "errors", oppressed thoughts, wishes, informations, non-rational arguments. In its discourse you "listen" to the subject's non-rational dimension. As architects we must especially listen to those parts of the client's discourse.
Sure, I am not a psychoanalyst (and I don't want to be one), so my responsibility in this sense is limited, but I am a member of the Psychoanalytic Institute of Rio - Letra Freudiana, a Lacanian school of psychoanalysis. It is definitely somewhat "luxurious" to utilize a psychoanalytic methodology - but a valid, a necessary and productive luxury in my point of view.

What implies the psychoanalytical approach to us as architects? In which way could this approach be useful for us?

A very significative question!
Freud says that the subject is not a master in its own house. The subject is not fully responsible for itself, the unconscious acts. Everything the subject expresses has to be interpreted - a difficult job indeed. What does that mean for our job? Infrastructure is necessary like the pavement, a kindergarten, contentions ... very fundamental things demanded by the favela people. But it is necessary to go beyond those demands. It is necessary to go beyond the relationship between architect and "clients", wich is normally limited to the level of only demands. It is necessary to permit the"emergence" of desires, through that is a didactic task of making it possible for people to understand what they have right to desire.
The relationship between the architect and the favela-"clients" has to be elaborated in such a way that possible desires emerge in the dialogue, a discourse which always should try to go beyond "the possible" - not to remain within what your interlocutor might consider as "the possible", but to arrive at the area of the "non-expressed". A subject can wish something without knowing it, without having any idea about it. So this dialogue has to show to the "client" his right to desire and which he or she did not know before the "psychoanalytic" relationship between the architect and favela-"client" had been installed in a process. The architect has to create an "atmosphere" in which the client' s true desires have the chance to emerge. So I understand the architect's work as never being previously definable. This desire emerges only in the specific relation - like in a psychoanalytic process, in an "architectural transference".
To me, the transferences in the sense of a psychoanalytic process are valid - or work - in the relationship between the architect and the "client", in relation with the processing of the demands, that is a fundamental question in relation to the individual as well as the collective. According to psychoanalysis, the question is not to respond but to interpret the demands in a consistent configuration that requires the articulation of ethical, aesthetical and political dimensions.

We could then say that the psychoanalytic part of the design process is something like a kaleidoscopic instrument, which shows the pieces of a puzzle of "the possible" and "the non- expressed" in different constellations which could not been seen without processual movements, which are introduced by the "talkings-cure".

Psychoanalysis draws our attention to this question related with the ethic when - facing all types of the determinations (economic, political, social, cultural determinations) the "projectual act" implies an ethical position that I would summarize as following: "Do what it is necessary to do". But this right is not in a relation with moral or law. It is just a right in which a certain "beyond the demand" is permanently working. It is for this reason that the question is not to try to please, like a manner of seduction or harmony. However, this is clearly not the fundamental issue.
We can say that the ethics of an architect is related with the intangible that sees behind the curtain, that is to say behind the articulations that he made between the project ("dessin") and the intentions ("dessein").
So it is necessary to know that the question of the "interpretation" of the demands implies "listening" beyond the declarations. This signifies establishing the difference between what the client asks for, and doing what he desires, what he needs - which almost never coincides with what he had asked for.
If we act according to the client's requests, we do not get to understand him. We only obey him, merely responding to his manifest demands but not to his latent demands.
The question is not that "the client does not know what he wants", but to hear, to try to understand, to establish the hierarchies and to organize the ensemble of dreams, problems, limitations, potentialities and expectations around the - overt or covert - demands.

On beauty as demand

Normally favela-people are totally excluded from the "right to beauty". But this right is as important as the right to infrastructure, to social services or to education.

Do you speak of beauty as of a category of objects or as of a category of thoughts and thinking?

I speak in the sense of a category of thinking and as an ethical issue. The responsibility for the "right to beauty" is the specific responsibility of an architect. Not all professions are capable of responding to this fundamental demand.
The architect will not be useful in social terms, if he does not synthesize ethics and aesthetics in a consistent formal and spatial configuration in each space and dealing with each object, whether isolated (architecture), or in a group (urbanism). When he does not understand his work in this way, he does less than he could and should do. Beauty is a question of spiritual necessity! And an essential component of the architectural task. Beauty is always something that makes the difference. It is a central question, always a challenge related to creativity, the new and truth.

You have spoken of your philosophical and psychoanalytic approach to your work. What about an ethnopsychoanalytical approach, which would let us understand different meanings of terms like "normal" or "normality" as well as "strange" or "strangeness" and which - as a consequence - would demonstrate us that our "standard" understanding of these terms is just the consequence of our way of being socialized. This approach could install the interest for different kinds of "being normal" as well as reducing the prejudices against them. A better understanding for different "normalities" seems to be of high interest in the relationship between favelados and the other citizens.

You're right, but actually I don't have a specific dialogue with an ethnologist. However, I recognize that the architect has to be open to all types of external stimuli and contributions from other disciplines to be able to think. The model of attitude is the surfer, who has to study the characteristics of the waves, he has to find his specific way of "connection" with the wave. He has neither to dominate - which is impossible - nor to submit himself to the wave "that is coming" towards him - which could kill him. But he has to find the best way to go for it. It's a political question. Not to be submitted but to find the best interactions with the existing forces.
This is a form-image to me, given by the philosopher: What kind of interactions, intersections and articulations necessarily have to be done in any part of the work between the existent and the new in order to produce the desired "activated fabric"? in the case of the urban problems.
The idea is to find new articulations capable of joining the physical, the social and the cultural, with the specific idea of the architecture and urbanism as activator mechanism.

War-methodology: from S- to XL-scale

What is the difference between one proposal and another? Between a certain "urbanistic party" and another one elaborated by other interdisciplinary teams?

It's like comparing different poetics. Different poetics imply different approaches to the world. What is in play when you go to a place to make a project?
It is a permanent work in thinking, never resolved. No project resembles the other. We have done more than twenty projects of favela urbanization in Rio in eight years. To refer to Rem Koolhaas' vocabulary: we had made the passage through all the urbanistic scales - from the S to the XL-scale of projects. What does this imply?
In a Favela-Bairro-Project (M and L scales) and in the Bairrinho-Project (S scale) the problem is to conceive a specific urban party. It is about urban design, the challenge of urbanizing medium or big size favelas.
Extrapoling a large to the extra-large scale means to distinguish between urban design and urban planning or strategic planning. The problem we have to deal in this moment is the formulation of an urbanistic plan of actions for an important sector of the city called Complexo do Alemão - a favela that once was the place of a big ancient farm ("fazenda") of German people, the name of which remained in membrance for the whole area. The area of intervention includes eleven favelas forming the "German complex" including three quarries, an enormous green area covering the top of the hills, two districts, and a powerful industrial surrounding. In this case, the problem is not to elaborate an urban party but to develop guidelines for this important sector of the northern city, aiming to establish clear references for the urban evolution and to indicate some exemplary points of intervention to provoke a process of re-generation in the existing urban and social fabric, searching for an articulation of the "formal" and the "informal" city.
The XL-scale implies different methodologies in which intervene with more relevance juridical questions, problems of regional planning including road systems, different means of transportation, trains, subway, busses, and including informal means like "vans", moto-taxis, "kombis", etc.

Where does the money for these big interventions come from?

Well, it depends principally on the public sector on the Town Hall scale, but also of the dialogue between the federal domain and the State Government - of the articulation between the three levels of the public sector, and the agreements with the private forces of the neighbourhoods and with enterprises, NGOs, and the support of the Community Associations that act in the surroundings ... many instances and diversified interests. I'm working now for a favela in Caracas of one million inhabitants. You can overlook this favela only from the helicopter. When you go around by feet it is impossible to have the slightest idea of its dimension, and configuration.
I thought that I would know all about favelas from my Brazilian experiences. But in Caracas I found new problems! Two favelas with one million people each. The one in which we are working is Petare. We made a contract with the public sector. We form a consort together with a firm from Caracas. The consort will realize the project. First the masterplan has to be done, then, the specific projects will be developed. In the case of a XL-scale we have to use a sort of "war-methodology" - acting with a general idea about what the area signifies for the city, and recognizing the impossibility to intervene in all the places at the same time.
So we have to establish many "commands of actions" co-ordinated by urban architects with a series of commanders established by transdisciplinary groups - architects, lawyers, geologists, sociologists, engineers, people of specific knowledges, experiences and methodologies that are articulated by an intersection between strategic planning and urban design.
Clearly the methodologies for a huge project like this one cannot be the same as for a normal Favela-Bairro-Project. We have to construct a form of thinking, a scheme of approach including many other variables completely different from those adopted in the Favela-Bairro-Project.


Plan of the Metropolitan park of Manguinhos

What about the term war within urban planning?

It is a risky comparison from my part, I know. It implies that this work and this scale of intervention demand a centralized command and a series of subcommands at each "front" of intervention. I know that it might be dangerous to speak in this way - speaking in terms of military strategies is likely to be misunderstood. But what I would like to say is this: a big favela like Petare, in Caracas, establishes clear and strong and not tranferable responsibilities for each area of intervention interacting withing the interdisciplinary fields. Such a coordinated work must avoid the current dispersion, for me it is the only form to execute this task, a huge challenge.
The necessary approach will be developed by urban readings of the structure of the place derived from the interaction between the physical configuration and the form in which each community is established in its territory. In this case, there are further problems beyond economical and social questions: there are problems of nationality, of religion etc., because in this favela live many Columbians, and refugees that provokes other additional connotations.

Favelas and drug traffickers

Who is your main partner, when you start a new favela-project - is it the Community Association?

Yes. We never work without discussing with the Community Association. Its existence implies an important level of popular organization and representativeness.

How many people work for or in a Community Association?

You mean how many representatives? There are representatives of many different favela-groups: women, different sectors of work, of religions, of guards, children, the elderly , handicapped and young people etc. - usually between fifteen and twenty persons in each Community Association and usually very well organized groups. All this does not imply that the drug traffickers are not present. They are present too, but implicitly through certain individuals.
Drug traffickers do exist in every favela, there is no favela without drug traffickers. In some of them their presence is very ostensive, in others rather discrete: they don't appear in the public meetings, but they don't make impossible the works.

But they are themselves not members of the Community Association?

Not directly. The members of Community Associations are more or less related to the traffickers. There are communities where the representatives are directly representatives of the traffickers. In those cases it is difficult to discuss, to establish a certain continuity, because these representatives change very quickly.

Why do they replace their representatives so quickly?

Because the commands of the differents groups or "drug associations" are permanently in war among each other - a fact that leads to a substitution, according to the winner.

Schedules, time-budgets and again the drug traffic

Which time do you normally need from the first sketch until a favela-project is finished?

My contracts with the Town Hall - from the moment I win the competition up to the final works - vary from six to nine months, depending of the dimension of the favela: six month for a small or medium, nine month for a big favela.

Are you still involved in a project when the enterprises start to realize it?

There are different circumstances. Normally a competition needs one to three months work, in exceptional cases six months. In this time I go to the favela very often, as much as necessary. In some cases a construction starts when the basic project is finished, that is before the final project is completely finished, detailed, but in other cases the execution starts with the basic project only.

Are you then officially introduced to the Community Association by the Town Hall?

Not at the first moment. During the competition I go by myself. I call the Community Association to make the first appointment in the favela and normally, when I arrive, there are always people waiting for me. I don't go to the favela without having fixed a date with some of the Community Association's representatives.
When I win a competition, the Town Hall makes a formal presentation of my team that will be working in this community in the following months. During the period of elaboration of the project I don't go to the favela as often as before, because the more important work has to be done in the office. But representatives of the favela-people come to my office to create the ambience of confiability. They have to know the office. Of course we have an external office-post in the favela itself - not during the phase of elaborating the project but immediately when the construction works begin. In this moment I need by contract this post in the favela, to establish a delegation of my office at the building site to supervise the construction. The delegation consists of an architect, two trainees and the necessary technological infrastructure: a computer-base working in net with my central office, including a plotter, printer, etc.
We are permanently there during the construction-phase to supervise the works - normally eighteen to twenty four months. The relations between the architect and the building contractor are always tense because the latter intends always to reduce the costs - and this could imply to substitute specific materials. So you have to control everything like everywhere - but even more in a favela. It is much more problematic there because even the public sector is not very interested in high quality and there can be important changes in the execution if you are not very observant.
When the construction works are finished there is a urbanistic and social orientation post where an architect of the Town Hall and representatives of the Community have to regulate possible conflicts. Within my eight years of favela-experience this institution rarely has worked. But sometimes the public sector is not capable to maintain the post, respectively to expulse the traffickers, it's exactly the opposite way around: the traffickers expulse the representatives of the public sector in some cases.

What exactly is - or was - the function of this urbanistic and social orientation post? Is it or was it intended to be a permanent institution?

It has to regulate contradictions, to listen to the community, to register problems, to co-ordinate the maintenance of the executed work. This post is conceived to be a delegation of the Town Hall in the favela to regulate the relations between public and private interests and to canalise complains.

How would you characterize the difference between the normality of daily life lbefore and after the intervention compared to the quality of a normal quarter of the city?

There is a great difference. The most important one is the chance to move in and through the favela. Before the intervention there is no - or no easy - public access. The regular presence of the police is not possible before, because the ways do not allow vehicles to go through. Before an intervention a favela is a ghetto without any public access or only reduced access. Normally the drug traffickers retire from an urbanized favela.

Do they really disappear or do they only become invisible?

They disappear not at all. They retire from the principal parts of the favela because the urbanized favela is not longer safe for them.

Do they move to the favela's periphery?

No, first they move to other favelas in the surroundings.

The drug traffic is still ongoing, but the traffickers are not permanently there?

Sometimes they come back after the interventions, but not permanently, because the police can use the public access now.

Would you say that an urbanized favela has what it needs to become a bairro free from the drug trafficker's rules and their violence?

Urbanism has never solved any problem due to the fact that problems involved are socio-economic issues as a whole. But urbanization policies are powerful instruments to combat the drug traffickers' existence combined with security and socio-economic development policies. They have a great real and symbolic significance.

In which way are the favela-people normally related or otherwise connected to the drug traffickers?

Let me give you an example: In the favela of A Pedreira representatives of the Community Association have told me that the situation becomes more and more complicated and that boys and girls from one favela better do not meet any longer young people from another favela in the neighbourhood unless they would like to risk their lives. Drug traffickers don't hesitate to kill. The different groups are in a real war. The situation resembles more and more the one in Israel and Palestine. A grave social situation.

Is this a normal situation in almost every favela?

Each favela is a single case with no similarity with any other. The corrosive existence of drug-traffickers is due to the absence of the public sector or to its very fragile presence. This is a reality that has endured for a long time. To change this dramatic situation you need a long-term social policy. Urbanization combined with other policies related to education, generation of work and income, health, security, strategic planning articulated with urban design, are the only way to resolve the intrincate current situation.

Would you say that the favela dwellers - in spite of all those dramatic aspects - are happier about the interventions from the start?

Today, starting from the experience of the work already executed, when you set foot in the favela, everyone wants the urbanization. There is really a great demand for the program, and the civic attitude changes very much. They come to have a proud attitude regarding the favela; in this sense I can say that they are happier after the urbanization, without any doubt! Compared to their dependance on the current negative conditions, they certainly do. The issue is always about the necessity to introduce services, to improve physical spaces, to introduce cultural equipments and to create conditions to provide jobs. According to the urban upgrading, the latter aspect is very important.

Do you know favelas whose inhabitants are so strongly connected to the drug traffickers that they do not want any intervention?

I don't know any case. Normally, they need to have the support of the local population and then they aren't opposed to the urbanization, even knowing that they will stay much more vulnerable. In some cases the traffickers work for the people supporting the absence of a public sector like in the case of transport to the hospital for the sick, economic support for families in difficulties, etc.

They help them?

Yes, they do. In my experience I never met traffickers who were against the program. They need the approval of the Community to establish good relations to the people in the favela in order to not be denounced.
I remember a very special event. It was a very hot day in the favela Fernão Cardim. I was there nearly without any clothes, only with pants like on the beach, in a place without any shadow. All the architectural plans were humid because the people touched them with their hands. It was about high noon, many people were there and it was very noisy. There was music and I spoke through the microphone presenting our project. Suddenly somebody touched my shoulder telling me: "Jorge I would like to present to you ‚João'". I was just discussing with many people who asked me for details of the project. Suddenly I remembered having read in the newspapers the name I was told as the name of the big boss of that favela. Then I saw him: a young man between twenty and twenty five years, very well dressed, with shirt and tie, in a perfect suit, very elegant - and I was nearly naked, like a beggar in front of a winner. I looked at him and said: "You want to look at the project?" He answered: "No. All that is approved by the Community Association is approved. Your project is totally approved. Here nobody is going to bother you!" Strange feeling: I felt that nobody would ever touch me - I felt to be in the most secure place of the world!

You were under the personal protection of the big boss?

Yes, indeed. I didn't know what to say. I could have said to him: "If you have something to suggest, just let's have a coffee." But I didn't. We shook hands and he turned around and went away through all these people. I never saw or met him again. It never happened anything that made our work difficult or impossible.

What happens when people refuse to serve the traffickers? We have read reports dealing with the brutality and the violence exerted on people who refuse to cooperate.

Like you, I only know about these cases from the newspapers; I know that they exist, but I don't know anything more specific.

To whom does an occupied territory belong?

The question of private property everywhere is one of the main problems of the ruling classes. As in many parts of the world in Brazil hundreds of thousands people have occupied public ground and built houses on it. Are the favela people interested to transform their juridical non-position? Are they interested in regular contracts? Would they be proud to say: "This is my ground, this is my own house?" And do the Rio City Authorities want those people to become legal users respectively owners of the ground?

This was one of the initial questions to face. At the end of our work of urbanization we needed to give the authorities the plan containing the differentiation between private and public space domains. This is the basis for the legalization of each residence that receives the property title. While works of urbanization come to an end the law and its practice needs a long time for a fundamental change. The favela dwellers are profoundly interested in legalizing the situation because they depend on their inclusion in the formal social net of relations, that to give an example permits to get credit in normal commerce of the city that demands a formal address, for example.

We have read that after five years of occupation the territory belongs to the occupier. Does a law exist that regulates all juridical questions?

Yes, it's called "uso capião", but this law is not applied to the case of the favelas. The whole situation related to the law administration is characterized by complicated processes and procedures that demand a strong group of lawyers working permanently for this purpose. The "Estatuto das Cidade" (Statute of the City, see www.polis.org.br/publicacoes) has not been aproved yet. Amongst other things the law establishes that those parts of favelas which imply danger for their inhabitants or others (like in case of inundations, terrain liable to slips etc..) are not safe from removals. *

Does Rio's Town Hall wish to legalize the situation?

Yes, that is one of the principal questions to be solved. To permit the transition from illegal to legal, from informal to formal conditions of citizenship.

Would you say, that the favela inhabitants are highly interested in getting those contracts?

Yes, they are. Before the intervention the property has a certain value and after the intervention it has a higher value - one of the reasons for the people to be very interested in the urbanization project.

Did the favela people pay any taxes before the intervention?

Not taxes, they only paid certain charges for electricity - but there are many illegal derivations. The pre-existent infrastructure was made by themselves with some irregular support by the public power.


Kindergarten in Rio das Pedras favela

Do the favela people have to pay taxes after the intervention?

Yes. But in proportion to the conditions of an "area of special social interest". There is a declaration of the condition of "area of special social interest" by the "Cámara dos Vereadores" in the Town Hall's law. This implies to freeze the situation that permits to elaborate the proposal of urbanistic structuration and a little law applied to the specific situation of each urbanized favela. This little law is derived from the general law of the City and adapted to the specific favela situation.

A special set of laws especially made for favelas?

Yes, and this special law is entitled "Leizinha".

Is this law valid only for a specific situation in a specific favela? And who has formulated that law?

The law was suggested by the multidisciplinary team responsible for the elaboration of the project. The law or "leizinha" was submitted to the municipal authorities and approved by them. It has been adapted to the general law of the city considering the specific condition of each favela.

What does "Lezinha" exactly mean? And precisely what does it establish?

"Lezinha" rules the occupation and the use of the ground: for example the different zones of a favela, the number of floors of a building, the limits between private and public areas.

So "Leizinha" has nothing to do with the juridical definition of the property?

In principle "leizinha" establishes the delimitations between public and private domains. The property title will be prepared by the Town Hall later.

Is "Lezinha" something like a Zoning-plan?

Yes, in some sense, because it implies a plan fixing the right to build in this or that sector; the right of people to live or to stay there. It establishes the coefficients of construction for each street , each sector, etc.

Without any contract?

These contracts are made through the legalization of the property of the ground as a whole by the Town Hall, on the basis of our project that defines the dimensions of each alotment.

So an additional aspect of the "urbanistic party" is juridical?

Yes. It is the reference to defining a new legal condition for the favela's dwellers - and this is a very significant part.

Did the authorities formerly follow the strategy of "tabula rasa" in Rio?

They did so before the Favela-Bairro-program was launched, in the period of the military dictatorship.

Is the Favela-Bairro program typical only for Rio?

Yes, it is still the only initiative in this ample vision in the whole country.

The strategy is so exemplary that it should work as a model for other cities or regions.

I think so. For example for the rest of Latin America, or Egypt or India or Africa too. The reason that this project is limited to Rio, that it is has not even been practised in other cities of the country has to do with the fact that such a program needs a certain amount of money, a counterpart of the Town Hall on the one hand, and on the other it needs a Federal approval to get the loans from an international agency.

Who gives and from where comes the money?

The program gets the necessary money from the Bank of International Development - 70 %, the rest, 30 %, comes from the Town Hall of Rio.

Did the Favela-Bairro program influence the urban politics of other countries?

Argentina, Venezuela, México and Uruguay for instance. Those countries did not adopt the program or the methodologies themselves, they started forms of co-operations and common initiatives. I'm in contact with municipal authorities in Cordoba (Argentina), in Caracas and in Montevideo, to carry out studies and projects to establish a similar program of interventions.

Would you say that the Rio Town Hall administration acts like an urbanistic and social avant-garde?

Sure, it does. I would call it an avant-garde laboratory! The situation of Rio is unique and very complex. The United Nations have programs in Egypt, in India and other countries, but not in the way we do it here in Rio. Not in such all-embracing way. For me the essential difference is this: Rio has established a strategy to understand the logic of configuration of these places, to decipher this logic and to intervene in order to accentuate a new centrality in a given configuration, to introduce new facilities, etc. In one word: to establish the principles of a real sociourbanistic intervention in a given structure, to create a nucleus that transforms the favela into a normal district ("bairro") in a process, a nucleus that expands its influence transforming all spaces of the favela in a non-ending process. Rio has established a procedure that generates a consistent process of transformation.
In the majority of the existing projects in other cities of Brazil, in Argentina, Chile, Egypt, or in India, the administrations principally construct new houses, they establish mere housing programs. But constructing residences is completely different from building a city! Transferring people from one place and from an existing net of social relations to another is the worst solution possible.

It's exactly what the administrations do in Shanghai and Peking today: erasing complete quarters in city centers and forcing people to live somewhere in the outskirts in multi-storey-residence-towers.

There was a similar situation in São Paulo during the government of Paulo Maluf, ten years ago.


Kindergarten in the favela of Fubá

Is there any "urbanistic-tourism" in Rio because of the Favela-Bairro-Program?

Not in a well organized manner still. But the possibility really exists. My own interest is to establish forms of co-operation, forms of interchange with international organizations, for example in Europe, because the experiences of European cities are rather related to ours and our history through Spain and Portugal than to the ones of the United States. Today the United States are the reference to all the bad things that afflict our cities: shopping centers, gated neighbourhoods and all kinds of "garbage spaces" as Rem Koolhaas calls them. The "garbage space"-concept is interesting for me. It includes all the calamities happening in our contemporary mega-cities ... It is this dramatic transformation of the city that makes it necessary to establish other forms of co-operation - co-operations of thinking and acting. We have to create specific programs, special urban cells capable to propose small transformations growing in a continuous process. What succeeds would be important and would have a symbolic significance. It is necessary to establish relations with contact organizations of the European Union, NGOs, universities and research centers, in order to develop specific programs of co-operation.

Outlines of an architect's biography

Jorge, how did you feel after having received the Veronica Rudge Green Prize in Urban Design from Harvard?

Just great. My "visibility" before and after is very different, new possibilities to establish new international collaborations are now ameliorating very much.

Is seems important not only for yourself that Harvard has awarded your projects for this prize. It revalues this kind of work and lets the world know that the Favela-Bairro-Program exists - it's the very reason because we've asked you for this meeting - and that there are architects and urbanists who begin to feel their social responsibility ...

In this sense, I think that this prize has a symbolic value too, because it signalizes a new attention that understands the necessity of restart the social engagement of architects and urbanists and to open the way not only for many other architects and urbanists but also for further programs and approaches in the world to work in this direction. It is impossible today not to recognize the precariousness of the relationship between social and urbanistic questions in the world, between aesthetic and ethic dimensions of any urbanistic and architectural work. The Harvard Prize people were very smart to understand the need of this kind of work and to understand the need to award this type of projects.

How did you start your work? Could you tell us some details of your biography?

With pleasure. I was politically engaged. I was a political militant in Argentina. After the military and political coup d'état, I had to leave the country in 1978, and Brazil was the next country to stay for a short period. Clearly I hoped to return as soon as possible. But then I transformed myself from a political-technical militant to a technical-political subject in Brazil, from a militant in politics I transformed myself to a militant of architecture and urbanism. And like all Argentinian architects in the world I formed a group of study after having arrived in Brazil. It is a vice. Argentinians form groups of study in all parts of the world where they arrive. I soon knew many Brazilian architects. There is a profound difference between Argentinian and Brazilian architectural practice: Argentinian architects like to think too much and have opportunities of construct too little, whereas Brazilian architects construct too much and prefer to think too little ...
Now, starting from this group of study I founded a space of reflection called Center of Architectonic and Urbanistic Studies in Rio. I founded a group that made projects about Guanabara Bay, the district of Botafogo, the Waterfront of Rio de Janeiro. We presented the project to the autorities and many other studies about specific places of the city. At the same time I started to write and to publish in Brazil in the two existing magazines: "Projeto" and "A & U, Arquitetura e Urbanismo".
I was first known in Brazil as an architectural thinker than as a project-maker.
When the opportunity of participating in competitions occured in Rio, public competitions of the formal city in the urban scale in 1994, with Rio's mayor Cesar Maia - he was the principal animator of this debate from the political point of view -, I reorganized my office towards the participation in public competitions.
I'm working in this direction, even more and more.


Meeting with the communitarian association in City of God

*(The law applied to the favelas is the "Estatuto da Cidade" - The Statute of the City, but it hasn't been approved yet. This law establishes that the favelas shouldn't be remove, except in the case in which it's presence implies danger to them or others (like in the case of inundations, landslides, excessive proximity to greater infrastructures, etc).

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- En la Argentina todavía se puede resolver el tema de las villas


Mirante en la favela de Salgueiro

En gran parte de América latina los asentamientos precarios son endémicos. En nuestro país hay soluciones, siempre y cuando existan a mediano plazo políticas integradoras que no se basen en el uso de la topadora.
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Claudio Martyniuk.
cmartyniuk@clarin.com

En las ciudades de América latina están creciendo los asentamientos precarios, las villas miseria, las favelas. ¿Qué rasgos y consecuencias tiene esta tendencia?

—Los problemas son graves. Hay una expansión sin límite de los bordes de la ciudad y, a la vez, un vaciamiento del centro. Este es un proceso paralelo que se da en la mayoría de las grandes metrópolis. Vaciamiento y extensión son un contrapunto de movimientos contradictorios, pero resultantes de una estructura socioeconómica que produce desigualdad. El desarrollo en los países de nuestra región se concentra en pocos sectores y acompaña la exclusión de muchos, que quedan en condiciones muy precarias de vida. No veo un fin cercano para esto.


¿Por qué?

—Miremos por ejemplo Brasil y México. Tienen entre un 30 y un 50% de su población urbana en áreas informales. Río de Janeiro tiene un 30%: un millón y medio de personas viven en favelas. Y Lima está peor: tiene un 70% de su población en áreas informales. Es decir, lo formal es casi una anécdota; lo que realmente determina la estructura urbana es la condición de informalidad. Pero la informalidad no es un atributo solamente de la cuestión espacial: domina las relaciones de producción, las relaciones sociales y las relaciones políticas.


¿Qué soluciones se vislumbran?

—Hoy no existen recursos como para poder integrar a todo el mundo al mismo tiempo. Por lo tanto, tiene que haber una política pública que sea capaz de actuar ante las urgencias, al mismo tiempo que haga planeamiento estratégico de tipo prospectivo, formulando varios escenarios y posibilidades de evolución, con medidas a veinte, veinticinco años.


Entre nosotros, eso parece imposible.

—Pero es necesario pensar a largo plazo. Para actuar en estos contextos hay que conjugar los planes y las fuerzas del poder público con las iniciativas privadas y de la sociedad civil.


¿Resolver el problema de vivienda es, simplemente, proveer un techo?

—No, sin duda. Además de hacer unidades residenciales verticales o desparramadas horizontalmente, se debe "hacer ciudad", que es bien diferente a construir casitas o departamentos. Eso implica que, al mismo tiempo que hay que responder a las necesidades, hay que hacerlo de forma tal de crear un ambiente estimulante para la vida, para el contacto y la evolución social.


¿Se puede "hacer ciudad" con el millón y medio de pobladores de las favelas en Río de Janeiro?

-Sí. No se trata de hacer todo desde cero, demoliendo todo para rehacerlo. Justamente, de lo que se trata es, a partir de lo que existe, introducir atributos urbanos que sean capaces de generar un efecto contagiante positivo y, a través de la inversión pública, desencadenar un proceso de mejoramiento de lo privado desde lo privado, o sea, desde los propios habitantes. Y esto porque todos se benefician, tanto en términos de valorización cuanto de mejoramiento de la calidad de vida y del ambiente.


La Villa 31, de Retiro, ocupa tierras fiscales frente a departamentos de los más caros de la ciudad. La última dictadura militar buscó erradicarla. ¿Qué se podría hacer ahí?

—La política de la topadora es típica de actitudes poco inteligentes y poco sensibles, que piensan que ante un problema lo mejor es arrasarlo, borrarlo del mapa. La actitud racional es pensar qué puede obtener de beneficio la ciudad por la existencia de algo que ya adquirió su derecho a existir. La Villa 31 debe tener hoy una población de alrededor de 20 mil habitantes. Esa gente puede no sólo no ser un problema, sino que puede estar disponible para prestar servicios en el barrio del entorno.


¿Cómo lo imagina?

—Puede configurarse un mercado de prestadores de servicios, no un mercado para vender artesanías, que ya hay varios en otros lugares, sino un mercado de servicios de mano de obra específica, que es lo que la gente tiene como capital social. Deben usarse los tres grandes articuladores socioespaciales: trabajo, esparcimiento y deporte. Radicando y urbanizando con inteligencia se resuelven problemas. Se enriquecería la situación social de ese entorno, incorporando grupos populares a los sectores históricamente privilegiados de Puerto Madero y Recoleta —los cuales tienen necesidad de mano de obra—. Hay una capacidad ociosa no utilizada, que tiene gran potencial y que si es bien dispuesta en el territorio, con la intención de lograr calidad espacial y estética, puede representar una contribución para transformar el problema en solución.


¿El traslado no es una solución posible?

—Para mí no hay ninguna razón para trasladar y tampoco para que no se encare esta situación postergada desde hace 60 años. Hoy hay una precariedad de la configuración y de la instalación, porque como todo está en permanente duda, lo que se hace no está concebido, desde el inicio, para durar. Si se encara y se planifican los diferentes problemas que hay que resolver —ambientales, de circulación, de tenencia de la tierra—, creo que esta villa podría ser un caso modelo de solución, a partir de una intervención pública basada en una concepción general integradora, que busque conectar lo informal con lo formal de la ciudad.


¿Hasta dónde una ciudad puede asimilar o formalizar la presencia informal?

—Sería deseable que no se hubiera llegado a la gravedad del problema actual. Pero, en ese sentido, Argentina, Chile y Uruguay tienen una condición bien diferente del resto de América latina, que es dramática. En la Argentina todavía se puede resolver el problema de las villas; se pueden tomar medidas preventivas para evitar que se expandan y lleguen a los niveles de los otros países. Desde lo público hay que apuntar hacia una sociedad integrada y hacia una ciudad no partida. A partir de ahí, existen las posibilidades y los medios técnicos. Con un planeamiento estratégico, el poder público puede tener diferentes alternativas a elegir, en función de su orientación ideológica, pero en base a directrices a las cuales tomar como referencia.


Así como lo plantea usted, las soluciones están a mano, pero cuando se confronta con la realidad...

—Mire, Caracas tiene una única villa con un millón de habitantes. En mi primera visita sólo la pude recorrer en helicóptero. Por tierra necesité varios días. Los problemas en Argentina son de escala pequeña: los 300 mil villeros que se supone que hay en la Ciudad de Buenos Aires son apenas la tercera parte del problema de Caracas. La cuestión es integrar, no transformando brutalmente y destruyendo lo que existe sino entendiendo su lógica e incorporándole elementos que permitan una evolución.


No se trata, como a veces se hace, de edificar monoblocks.

—Hoy hay una evaluación crítica de ese urbanismo de los bloques, de los grandes conjuntos habitacionales. Esa estrategia demostró su fracaso. Induce a la refavelización, por la descalificación de la relación entre lo edificado y el espacio que queda en medio de todo eso, que nunca se transforma en espacio público sino en espacio donde se instala el peligro, la violencia, la descalificación física. O sea, se transforman en lugares desagradables para permanecer y utilizar. Ni siquiera funcionan áreas de deportes. Jamás se plantan árboles. Entonces, lo típico de estos bloques en Caracas, en Río, en Buenos Aires, es que no fueron capaces de generar un sentido de pertenencia. No se deben hacer tiras repetitivas ad infinitum de lo mismo; hay que enriquecer las tipologías y diferenciarlas cuanto sea posible, dentro de costos razonables, haciendo pequeños condominios —que pueden ser más o menos densos, más o menos verticalizados— pero siempre rodeados de algo existente. La inserción de lo nuevo en lo existente es una operación cuidadosa, que demanda una capacidad de lectura de la estructura de lo que existe, de escucha de las demandas para interpretarla desde el punto de vista arquitectónico urbanístico en configuraciones consistentes, inclusive en términos estéticos. La arquitectura no tiene que considerar estos proyectos como se si tratara de asistencialismo o de construcciones pobres.

Copyright Clarín, 2006.
http://www.clarin.com/suplementos/zona/2006/11/19/z-04015.htm


Centro de generación de trabajo y renta, Villa 31


 

- Elisabeth Blum and Peter Neitzke


- How long have you known Jorge Mario Jáuregui?

We contacted Jorge Mario Jáuregui after the German architectural weekly magazine »Bauwelt« (http://www.baunetz.de/arch/bauwelt/archiv/) had published as an important news that in December 2000 the Harvard Graduate School of Design had awarded Jorge Mario Jáuregui the »Veronica Rudge Green Prize in Urban Design« for a series of projects implemented through the program »Favela-Bairro«, a collaborative initiative that has transformed impoverished favelas in and around Rio de Janeiro into functioning bairros (quarters).
As authors / editors we immediately understood the importance and significance of this special award and the basic necessity to make Jáuregui’s activities and projects known in the German speaking world.
We made a first appointment with Jáuregui in order to interview him. The interview entitled »Rio ist so etwas wie ein Zukunftslaboratorium« (»Rio as a Future Laboratory«) became a significant part of our book later on published as »FavelaMetropolis. Berichte und Projekte aus Rio de Janeiro und São Paulo« (»FavelaMetropolis. Reports and Projects in Rio de Janeiro and São Paulo«, Basel (Birkhauser) 2004, see:
http://www.springer.com/dal/home/birkhauser/architecture+&+design?SGWID=1-40463-22-34425332-0). For the book’s complete contents see: http://www.amazon.de/gp/reader/3764370637/ref=sib_dp_pt/302-4450164-9682411#reader-link
Our first discussion with Jorge Mario Jáuregui (2002) was so impressive and evidentiary in its arguments that we decided to return to Rio de Janeiro (2003) in order to meet him a second time and not only to have a several hours during interview with him to engross the thoughts but also to visit the places of his urbanistic interventions together with him.

 


- In what capacity have you known Jorge Mario Jáuregui?

As an extraordinary socially dedicated architect Jáuregui represents for us all the ideas and activities Rem Koolhaas basically misses in the architectural profession (see his essay “What ever happened to Urbanism?”). Koolhaas accuses architects of having withdrawn themselves in the »parasitic security« of architecture instead of acting in sociopolitical contexts concerning urbanistic tasks and thus having brought down the whole profession to total meaningleessness. Particularly seen from an European viewpoint Jáuregui is an outstanding person. Committed to the social and political tasks of the architect’s work he is practicing quite the contrary of the ordinary architect’s attitudes and activities inasmuch he is demonstrating the positive results of social engagement in the field of urbanism.


- What is your opinion of Jáuregui´s contribution to research, thinking and practice in the human settlements?

Jorge Mario Jáuregui is not only a practicing architect designing urban projects but likewise a genuine theoretist finding clarifying terms that are adequate to his challenging urbanistic interventions.
As a creative thinker Jáuregui has for example developed the term »partido urbanistico«, a kind of key or structural coherent dispositive through which he formulates every particular project, combining urbanistic, social, cultural, economic, and ecological aspects in a unique conceptual formal and spatial configuration. What makes his theoretical and practical methods intriguing, sophisticated as well as coherent is their interdisciplinary coaction in the “reading of the existing site”. His first and most important approach to a new favela urbanization project always is the question how to »read« the different »strata« and their correlations:
UN-HABITAT_Lecture_Award_Blum_Neitzke.doc

central places, physical and social limits and possibilities, waste management, further ecological aspects etc.
Above all Jáuregui’s urbanistic interventions benefit from psychoanalysis as science and practice. Jáuregui applies its methods by distinguishing manifest and latent needs of the favela people as clients. Thus he emphasizes the traditional relationship between the architect and his clients by developing the possible options of the latter.


Jorge Mario Jáuregui is an architect who is dedicating his work – and, as we might add, his life – to a social task of utmost significance and priority: upgrading, that is to say humanizing life conditions in Brazilian favelas through urbanistic and architectural interventions of sustainable quality. Both his activities and his writings show that and how architects can do more than to design brilliant objects. Internationally accepted through the Harvard prize Jáuregui demonstrates that architects can broaden the professional horizon, and that there is always a way to seize the chance to intervene in given urban and social situations - combining social commitment, creative methods including forms of cooperation between planners and clients, and spatial solutions.

Elisabeth Blum and Peter Neitzke

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- Urban Explorer - Transforming Rio: New Urbanization Projects in the Most Unlikely Places
by Noah Lewkowitz

If you are looking for gorgeous beaches, beautiful people and a nightlife that never ends, there are few destinations more suitable than Rio de Janeiro, Brazil. The Marvelous City offers all of this and more, yet there is a side to Rio many visitors never see. Scattered throughout Brazil are the favelas, poor ghettos riddled with crime, drugs and poor sanitation. While most people avoid favelas, Argentinian-born architect Jorge Mario Jauregui devotes his practice to organizing, rehabilitating and community-building in these impoverished areas.


The first favelas built on the scenic hillsides of Rio are nearly 100 years old. There are over 600 of these districts. Families reside in the cramped quarters of tiny shacks with no plumbing. One in five Rio residents live in the ghetto and are deemed lower-class citizens of the state. Further complicating the situation, most favelas are under the control of drug traffickers. These armed soldados, usually between eight and seventeen years old, guard the ghetto entrances. Violence makes upgrading these districts extremely difficult.


Fortunately, residents of these favelados are finding hope in new urbanization projects from Jauregui. Not only is Jauregui winning favor with Rio locals, but his efforts have even been noticed in the United States. In 2001, he received the Veronica Rudge Green Prize from Harvard University for his work on the “favela-barrio” project, a collaborative initiative to transform these poor districts into modern communities.


Jauregui’s designs contain a quality of innovation and simplicity critical for the development of the area. Money for such projects is scarce, so efficiency is important. For some, this would present a roadblock, yet Jauregui embraces this challenge, making modern forms from meager materials. For instance, in Vidigal, a once desolate area is transformed into a public square with flowing walls and stairs seeming to echo the dramatic, undulating coastlines of Rio. The form is not only beautiful, it reminds favelados that they, too, are a part of the city. Instead of leaving this area desolate and dirty, it is now a thriving symbol of hope for the city.


In Fuba Campinho, a new school was needed. Located on a difficult sloping site, the building embraces simple reddish-orange brick material used in construction in many favelas. The material sweeps across the lower part of the building, using curvilinear rather than orthogonal forms, distinguishing it from the surroundings. These broad gestures are docile and inviting, a pleasant change from the existing decaying dwellings.


Extruded window boxes, turned on an angle, watch over the street as if the building itself is concerned with public well-being. This simple move connects the structure to the community, evidence of the sympathetic understanding Jauregui brings to each favela project.


In a recent proposal for the Cidade de Deus or “City of God” (made famous by the movie of the same name) Jauregui demonstrates the connection between community space and architecture in an urban housing scheme. Instead of simply placing houses on either side of a constricted street, the space between homes is transformed into park area. The wide, shared communal areas encourage social gathering and leisure activities in a close-knit neighborhood setting. This contrasts starkly with the stacked, dilapidated housing and unfriendly, narrow streets that are more commonplace in the city. A similar scenario in a commercial context is in the favela of Manguinhos, where a central park area is inserted between major traffic routes through the district.


Jauregui’s buildings in these sites display bright colors, distinguishing his interventions as progressive landmarks for a better future. In his project in Vidigal, the walls are purple, accented with green stairs, reminiscent of evening colors found when gazing at the mountainous landscape that pervades Rio and the numerous favelas that reside in the hillsides.


In his kindergarten building in Fuba Campinho, the bright yellow color adds to the welcoming nature of the entire structure. The radiant shade represents a progressive modernity rising out of the cold, unkempt streets—a symbol that people can overcome social, economic and political difficulties connected with favela living. The bright contrasting colors associated with the new projects in Cidade de Deus and Manguinhos express the dynamic Brazilian culture. It is through such methods—relating architecture to culture and context—that gives Jauregui’s work a tangible relationship to the people it serves.


Jorge Mario Jauregui’s work is more than architecture. It seeks not only to create beautiful objects, but to develop a new ideology. When asked about his work, he replied, “The favelados live in an absolutely precarious situation. Any proposal for an improvement of their living conditions, to give them a small place, is better than the present situation, and is welcome. But the most important question is to go further than to introduce an infrastructure, ways and services. All this is necessary, but the most important thing is to configure with all these elements a new ‘aura’ of place.”
What separates Jauregui’s architecture from others is more than art, it is culture; the goal is not a building, but the promise of an improved way of life. For many residents of Rio it’s an overdue, yet desired, change.


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- Alegria dos Casebres

 

Porquê os bairros pobres do Rio de repente são considerados chiques e como um arquiteto celebra sua beleza.

Favela Chic. Esse é o nome de uma boutique em Paris que parece mais chique que favela e onde na dúvida se trata de um pneu estourado quando há estouros em algum lugar. No Brasil a situação é um pouco diferente e certamente não estouram seis pneus de uma só vez. O morro, dizem os brasileiros, quando eles fogem de volta para casa, sempre está mais perto do que se imagina.

O morro, e o morro e a favela no morro, e o traficante da favela, e a salva de balas, com a qual esse traficante estoura o início da noite em baixo no velho quarteirão. Na realidade, a favela fica em cima do Rio de Janeiro, mas nessa cidade sempre tem em cima mais um morro que joga a sua sombra - e também na noite que clientes culturais da classe media passam olhando as fotos assustadoras que um fotógrafo da polícia fez durante uma batida nas favelas.

Tem-se a impressão de que a favela é o avesso inseparável do Rio e é como se o Rio fosse a vitrine de todas as comunidades miseráveis deste mundo.

Sempre Rio. Nunca cidade do Cabo, Cairo ou Calcutá. Nem Caracas que está sendo quase estrangulada pelos "slums" cuja força recentemente pôde ser observada no "caso Chavez". Ao lado do catastrófico, somente as favelas do Rio têm também um mito positivo - sua fertilidade cultural: moda, samba, estrelas do futebol. Nos morros do Rio revistas como o Stern deixam pousar seus modelos para fotos. De lá e de nenhum outro lugar os Ronaldinhos tem que tratar de se driblar para cima nas ligas européias, porque sem essa mágica de Cinderela eles não seriam para nós os verdadeiros brasileiros do futebol.

Tanta febre de favela como agora era raro até mesmo no Rio. E é de chamar a atenção de quantos alemães existem entre os que no momento descobrem a "cultura da favela", como se no caos dos casebres crescidos naturalmente, estivesse o reservatório cultural, a bateria de reserva que a Europa cansada sempre esperou dos EUA - e talvez a última oportunidade de olhar pra si mesmo, de uma certa maneira na própria infância.

"Cultura da favela" é o nome de uma grande exposição de arte produzida pelo instituto Goethe no Rio e que será levada depois também para a Alemanha.

O instituto Bauhaus de Dessau teve a sua primeira intervenção no exterior na favela Jacarezinho, e é isto que eles vão fazer lá a partir de maio e mais ou menos parecido com o que os modernos da Bauhaus faziam no seu inicio: colocar luz, ar e sol em bairros escuros de trabalhadores. O centro do projeto é uma célula urbana que será implantada como uma ágora simbólica e que busca incentivar a cultura nessa união com a residência utilitária. Isso acontece dentro do contexto de um programa de construção de cidades sem igual que está sendo realizado desde meados dos anos 90 e que até agora foi moldado principalmente por um homem que trabalha de maneira diferente que a Bauhaus. O argentino Jorge Mario Jáuregui "interveio urbanísticamente" até agora em quase vinte favelas, e sempre parece que para ele o mais importante é que depois a favela tenha a mesma aparência que tinha antes, ou quase. Que os centros esportivos, creches, construções comunitárias, praças, estejam colocadas tão naturalmente na confusão de casebres como se elas tivessem crescido sozinhas ali. E o mais importante que pode ser construído para os favelados não se vê de qualquer maneira: as canalizações.

Antigamente na favela do Vidigal que fica na encosta em cima da praia do Leblon, qualquer um que morasse em baixo era privilegiado por caminhos curtos - mas para os que moram na favela são necessárias uma duas horas e meia para chegar até o cume - em compensação sua casa ficava no delta de todos os rios de esgoto desta montanha. Uma vista como aquela é comparada a uma categoria de luxo.

E as casas coloridas, otimistas, que Jáuregui constrói nestas áreas, com uma desculpa humilde por que ele teve que tirar uma casa para um alargamento de rua, essas casas seriam extremamente caras sob outras circunstancias. Porque algumas delas estão lá como se Frank O. Gehry as tivesse projetado para uma pessoa importante na costa da Califórnia. São muitas vezes exatamente aquelas cores fortes, formas de concreto atrevidas, grades de alumínio colocadas de maneira dramática, com as quais o deconstrutivismo internacional satisfaz o tédio da riqueza de uma clientela exaltada. Dessa estética do fragmento e do processo, Jáuregui tira como que uma seqüência lógica das formas da favela em si. O fato de que isso se encontra com a atitude aristocrática de cima de maneira tão surpreendente, nâo deixa de ser importante. Quando Jàuregui foi premiado no ano passado pela Universidade de Harvard, os jornais americanos estavam de novo basicamente admirados porque no Rio os mais pobres vivem nos melhores terrenos.


Posto de orientação urbanístico e social da favela do Campinho

O arquiteto Le Corbusier já achou isso admirável, ele que era de qualquer maneira obcecado por vistas de longe e que fez numa visita ao Rio nos anos 30, teve reações dignas de Rousseau. Ele celebrou a subida ao morro como "promenade architectural", a pureza primitiva dos negros lá em cima, sua vida honesta não falsificada, sua música, sua beleza, a beleza de quartos pequenos e simples com vista para o mar, ao contrario da Europa degenerada. Ele estava completamente fora de si. A historia da arquitetura supõe que nesse momento Le Corbusier se transformou do funcionalista severo num criador orgânico. E uma outra historia supõe ainda que isso foi por causa da companheira de viagens na volta, Josephine Baker, que causou uma impressão tão forte no homem que ele a projetou a partir desse momento sempre nas encostas do Rio. Talvez ele tivesse ficado feliz em saber que os casebres de madeira se transformaram em esqueletos de concreto, preenchidos de tijolos que se parecem com suas casas Dominó.

A vista de cima é, na experiência européia, uma vista da nobreza. O camponês mora ao pé da fortaleza. Mas na América Latina é geralmente ao contrario. Lá, durante os últimos cem anos, um sub-proletariado cercou nas encostas à classe media e a colocou num medo traumático de que pudessem descer unidos a qualquer hora e buscar o que lhes falta. Uma vez, no início dos anos 90, isso realmente aconteceu. Foi em Caracas e a cidade não parecia bonita depois.

Mas em nenhum outro lugar os pobres da cidade e os sem-terra que fugiram do interior colocaram seus casebres de maneira tão central, tão perto dos centros econômicos e turísticos como no Rio. Quando Jáuregui fugiu 24 anos atrás da ditadura militar Argentina para o Brasil, ainda se usava de violência contra essas favelas. A construção de cidades modernísticas que todos os regimes da América Latina usavam, só conhecia soluções de tabula rasa. Mas não sucessos duradouros.

A transparência e a contundência do problema, forçaram a mudança de paradigma. Enquanto estrangeiros romantizavam a favela no estilo Lê Corbusier, os moradores do Rio simplesmente a ignoravam, o que demonstra uma capacidade de ignorar quase impossível quando se trata de 1/3 da cidade e uma população que corresponde à de Munique. Essas pessoas e seu mundo são uma mancha branca nos planos da cidade do Rio. Elas não têm endereço, portanto não têm crédito, estão excluídas da vida da metrópole capitalista. Isso elas o compensam pela criatividade e pelo espírito de comunidade que agora atrai todas as Philippe Starcks e Asian Dub Foundatitons do mundo. Que a pobreza econômica é compensada principalmente com o tráfico de drogas é por sua vez o motivo pelo qual a Prefeitura resolveu legalizar esses quarteirões surgidos de maneira ilegal, para buscar transformá-los em parte da cidade normal e, portanto, também torna-los controláveis.

Onde agora finalmente o bombeiro e a ambulância podem chegar, também podem chegar os carros da policia. Jáuregui precisava de construtores de caráter bastante forte por causa dos traficantes, um tanto resistentes ao saneamento. Por esses motivos qualquer intervenção é combinada em longas reuniões com os moradores. Ele ouve, às vezes durante meses, se familiariza com a área e sua historia, analisa "com os pés e com os olhos", dá a volta em torno das casas como os favelados, sem camisa, fareja como um cão em todos os cantos e imagina a favela como um "rizoma deleuziano", como um tecido com vários centros que já sabia o que estava fazendo quando cresceu. Basicamente, apenas se trata de continuar construindo o crescido naturalmente, encontrar sua lógica, reforçar sua identidade - e paralelamente expor uma estética da favela e espelhar as construções novas: uma beleza arriscada, anárquica, vista de baixo. Ela poderia ser um modelo. Jáuregui já tem os primeiros pedidos em outros paises. O mais importante numa favela é a beleza das relações sociais, diz Jáuregui, e quem disser que no meio de tanta miséria existe algo mais importante que a beleza, é um bárbaro arrogante.


Levantamentos em campo na favela dos Macacos


Peter Richter

Frankfurter Allgemeine Sonntaszeitung, 21 April 2002, NR. 16, Fevilleton 25.

Tradução: Antje Hansen


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- GSD Prize awarded for transforming Rio Slums - Ken Gewertz

A massive project that is transforming Rio de Janeiro's squalid shantytowns into functioning, integrated neighborhoods has won the graduate School of Design's Veronica Rudge Green Prize in Urban Design.

Argentinean-born architect Jorge Mario Jáuregui, whose firm has materialized this transformation - known as the Favela-Bairro Project - received the award in a special ceremony at Gund Hall on Dec.6. An exhibition of large-scale color photos of the project by Jason Schmidt, along with maps and drawings, can be seen in the Gund Hall lobby through Jan. 12.

Rodolfo Machado, professor in practice of architecture and urban design, and chair of the jury that selected Jáuregui's project, said that the Rio-based firm has "demonstrated the power of their urban design to realize social change and engage marginalized people in the revitalization of their own communities. This diligent and ethical professional team models a progressive, more holistic approach to urban design, one that recognizes the value of social research and reinvestment in neighborhoods, rather than the outmoded practice of demolition and displacement."

Long considered a blight on the urban landscape, Rio de Janeiro's shantytowns differ from those of most other South American cities in that many of them occupy prime real estate, often within the city itself rather than on its outskirts.

The reason is that in the early days of settlement, wealthy inhabitants laid claim to sites near the harbor, leaving the steep, inaccessible hillsides to the poor. Many of these communities command spectacular views of the ocean and the city below and such famous Rio landmarks as the Sugarloaf and the mountaintop statue of Christ.


Aerial view favela of Vidigal in context.


Some of these shantytowns, or favelas, are more than 100 years old. Others are much newer. In total, they contain about a third of the city's inhabitants, many of whom work as doormen, and domestic help. Most of the favelas lack adequate infrastructure or drivable roads, and what electricity they have has been stolen from city power sources and brought into the favela via tangles of improvised cable.

In the past, city authorities have tried to eradicate the favelas, which have been seen as breeding ground of crime and drug dealing. But these attempts, based on a traditional "slum clearance" model, have failed to have any lasting effect.

Rather than doing away with the favelas, Jáuregui's approach has been to integrate them into the city fabric by transforming them into real neighborhoods or bairros. This has meant replacing muddy dirt paths with paved walkways, creating streets capable of sustaining vehicular traffic, building sewer systems and cleaning up polluted streams and rivers, and providing communities with social centers, clinics, daycare centers, and athletic complexes. These changes have allowed the disenfranchised inhabitants of the favelas to participate in the life of the city.

The work was preceded by a long period of research that addressed geotechnical, economic, and land ownership issues, as well as sociological, psychological, and aesthetic concerns. The team kept their focus on the specific project rather than trying to apply universal formulas for urban improvement.

According to Machado, who visited these sites along with other members of the prize committee, the Favela-Bairro Project "appears to be soaked in kindness and respect for the inhabitants; the opposite of misanthropic, it exudes a warmth that comes from genuine understanding of the real conditions in the favelas plus a deep, rare communion between the team and the people with whom it works."

"Favela-Bairro" has impacted an estimated 450.000 people in 105 shantytowns to date. Now in its fifth year, the program has been recognized through several international awards, including the prestigious "Habitat Award" from the United Nations, and has received funding from numerous international agencies. Program sponsors include the Inter-American Development Bank and the European Union.

A native of Rosario, Argentina,, Jáuregui studied architecture at the National University at Rosario, where he served as a professor from 1973 through 1976. He went on to earn a graduate degree in architecture and urban planning at the Federal University in Rio in 1991.

The Veronica Rudge Green Prize in Urban Design is the foremost award recognizing achievement in this field. The award was established in 1986 on the occasion of Harvard University's 350th anniversary, and the 50th anniversary of Harvard Design School. The prize is awarded biannually to recognize excellence in urban design with emphasis on projects that contribute to the public realm of a city and improve the quality of urban life.

To be considered for the prize, projects must be larger in scope than single building, and have been constructed within the last 10 years. Nominations are submitted by a panel of distinguished critics, academics, and practitioners in the fields of architecture, landscape architecture and urban design. Prize recipients are presented with a monetary award and certificate.


Articulation Square Favela-Neighbourhood of Vidigal


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- Freude den Hütten
Warum Rios Armenviertel plötzlich als chic gelten und wie ein Architekt ihre Schönheit zelebriert


Kidengarten in the favela of Rio das Pedras


Favela Chic. So heisst eine Boutique in einem Pariser Viertel, das eher nach chic aussieht als nach Favela und wo es im Zweifel an einem geplatzten Reifen liegt, wenn es irgendwo knallt. Das ist in Brasilien etwas anders. Und schon gar nicht platzen sechs Reifen auf einmal. Der Morro, sagen die Brasilianer, als sie zerück ins Haus flüchten, der Morro ist immer näher, als man denkt.

Der Morro ist der Hügel, ist die Favela auf dem Hügel, ist der Drogenhändler aus der Favela, ist die Kugelsalve, mit der dieser Drogenhändler den lauen Abend unten in dem alten Villenviertel zerschiesst. Dabei liegt es eigentlich hoch über Rio de Janeiro, aber in dieser Stadt liegt überall oben drüber noch ein Morro und wirft seinen Schatten - also auch auf diesen Abend, den eine mittelständische Kulturklientel damit verbracht hat, sich die beklemmenden Bilder anzuschauen, die ein Fotoreporter von den Polizeirazzien in den Favelas gemacht hat.

Es scheint, als sei die Favela die untrennbare Kehrseite von Rio -und als sei Rio die Schauseite aller Elendssiedlungen dieser Welt.

Immer Rio. Nie Kapstadt, Kairo oder Kalkutta. Nicht einmal Caracas, das fast erwürgt wird von den Slums, deren Macht soeben im Fall Chavez zu begutachten war. Neben dem katastrophischen haben einzig die Favelas von Rio auch einen positiven Mythos - ihre kulturelle Fruchtbarkeit: Mode, Samba, Fussballstars. An den Hängen von Rio lassen Illustrierte wie der "Stern" für Fotostrecken ihre Modelle posieren. Von dort und nirgendwo sonst haben sich gefälligst die Ronaldinhos in die europäischen Ligen hochzudribbeln, denn ohne diesen Aschenputtelzauber wären sie uns keine richtigen Fussballbrasilianer.

So viel Favelafieber wie im Moment war allerdings selbst in Rio selten. Und es sind auffällig viele Deutsche unter denen, die im Moment die "Kultur der Favela" entdecken, so als liege da im naturwüchsigen Chaos der Hütten das kulturelle Reservoir, die Ersatzbatterie, die sich das müde Europa ja immer von Amerika erwartet - und die vielleicht letzte Chance, sich gewissermassen selbst bei der eigenen Kindheit zusehen zu können.

Kultur der Favela" heisst jedenfalls eine grosse Kunstausstellung, die das Goetheinstitut jetzt in Rio ausgerichtet hat und demnächst auch nach Deutschland bringen will. Umgedreht hat die Bauhausstiftung aus Dessau ihren ersten Auslandsauftrag in der mörderischen Favela Jacarezinho - und das, was sie dort ab Mai tun wird, ähnelt ziemlich genau dem, was die Bauhausmoderne in ihren Anfängen schon umgetrieben hat: Licht, Luft und Sonne in dunkel verwinkelte Arbeiterquartiere pflügen. Kern des Projekts ist eine "urbane Zelle", die als symbolische und kulturstiftende Agora in diesen Zweckwohnverband planiert werden soll. Das geschieht im Rahmen eines beispiellosen Städtebauprogramms, das seit Mitte der neunziger Jahre läuft und bislang vor allem von einem Mann geprägt wurde, der etwas anders vorgeht als das Bauhaus. Der Argentinier Jorge Mario Jàuregui hat inzwischen in fast zwanzig Favelas grundlegend "urbanistich interveniert", und jedesmal scheint ihm das Wichtigste gewesen zu sein, dass es hinterher im Grunde so aussieht wie zuvor. Dass die Sportplätze, Kinderkrippen, Gemeinschaftsbauten, Platzanlagen so selbstverständlich indem Hüttengewirr liegen, als seien sie von allein dort gewachsen. Und das wichtigste, was sich für die Favelados Überhaupt nur bauen lässt, sieht man ohnehin nicht: die Kanalisation.

Früher war es in der steil über dem Strand von Leblon gelegenen Favela Vidigal so, dass derjenige, der unten wohnte, durch kurze Wege zwar privilegiert war - man braucht zu Fuss zweieinhalb Stunden bis ganz nach oben -, dafür lag sein Haus andererseits im Delta aller Kloakenströme dieses Berges. So etwas wie die Aussicht ist dagegen eine Luxuskategorie, die von aussen an die Favela getragen wurde, aber für ihre Karriere entscheidend geworden ist.

Und die bunten, optimistischen Häuser, die Jáuregui in diesen Gegenden baut, und zwar wie zur demütigen Wiedergutmachung, weil er irgendwo bei einer Strassenverbreiterung eines wegnehmen musste, diese Häuser wären unter anderen Umständen bestimmt wahnsinnig teuer. Denn manche von ihnen stehen da, als habe sie ein Frank O. Gehry für einen wohlhabenden Werbemenschen an die Küste von Kalifornien projektiert. Es sind oft genau jene kräftigen Farben, kekken Betonschwünge, dramatisch eingesetzten Alugitter, mit denen der internationale Dekonstruktivismus die Wohlstandslangeweile einer exaltierten Kundschaft befriedigt. Diese Ästhetik des Fragmentarischen und Prozesshaften schält Jàuregui allerdings wie eine logische Folge aus den Formen der Favela selbst. Dass es sich mit der aristokratischen Attitüde von oben teilweise so verblüffend trifft, ist dabei eine nicht unwesentliche Pointe. Als Jáuregui für seine Arbeit im vergangenen Jahr mit dem Städtebaupreis der Harvard-Universität geehrt wurde, waren die amerikanischen Zeitungen wieder einmal grundsätzlich verwundert, wieso in Rio eigentlich die Allerärmsten auf den allerbesten Grundstücken wohnen.

Das fand schon der Architekt Le Corbusier bemerkenswert, der ohnehin von Fernsichten besessen war und bei einem Aufenthalt in den dreissiger Jahren in geradezu rousseauistische Schwärmereien ausbrach. Er feierte den Aufstieg auf den Berg als Promenade architecturale, die primitive Reinheit der Schwarzen da oben, ihr, im Gegensatz zum degenerierten Europa, ahrliches, unverfälschtes Leben, ihre Musik, ihre Schönheit, die Schönheit kleiner, karger Zimmer mit Seeblick...Er war regelrecht ausser sich. Die Baugeschichte vermutet, dass in diesem Moment aus dem strengen Funktionalisten der eher organisch formende Le Corbusier wurde. Und eine andere Geschichte vermutet, dass das daran lag, dass auf der Überfahrt die Mitreisende Josephine Baker so heftigen Eindruck auf den Mann gemacht hatte, dass er sie nun ständig an die Hänge von Rio ptojizierte. Vielleicht hätte es ihn gefreut, dass aus den Holzhütten inzwischen mit Ziegeln aufgefüllte Betonskelette geworden sind, die seinen Domino-Häusern ähneln.

Der Blick von oben ist in der abendländischen Erfahrung ein herrschaftlicher Blick. Der Bauer wohnt am Fuss der Burg. Aber in Lateinamerika ist es meistens genau umgekehrt. Dort hat im Laufe der letzten hundert Jahre ein Subproletariat auf den Hängen den Mittelstand umzingelt und in die traumatische Angst versetzt, jederzeit gesammelt herabzusteingen und zu holen, was ihm fehlt. Einmal, Anfang der Neunziger, ist das sogar wirklich geschehen. Das war in Caracas, und die Stadt sah nicht gut aus danach.

Aber nirgends haben die städtischen Armen und die landflüchtigen Landlosen ihre Hütten so zentral, so dicht an den wirtschaftlichen und touristischen Zentren aufgeschlagen wie in Rio. Als Jáuregui vor rund zwanzig Jahren aus der argentinischen Militärdiktatur in die brasilianische floh, da wurde gegen diese Favelas noch mit Gewalt vorgegangen. Der modernistische Städtebau, den alle lateinamerikanischen Regimes pflegten, kannte nur Tabula-rasa-Lösungen - aber keine dauerhaften Erfolge.

Die Sichtbarkeit, die Präsenz des Problems führte dann zum Paradigmenwechsel. Während Auswärtige die Favela im Stile Le Corbusiers romantisierten, ignorierten die Bewohner von Rio sie schlichtweg, was eine Kaum zu bewältigende Verdrängungsleistung ist bei einem Drittel der Stadtfläche und einer Bevölkerung, die etwa der von München entspricht. Diese Menschen und ihre Welt sind weisse Flecken in den Stadtplänen von Rio. Sie haben keine Adressen, folglich Keinen Kredit, sind ausgeschlossen vom Leben der Kapitalistischen Metropole. Das kompensieren sie durch die Kreativität und den Gemeinschaftsgeist, der die Philippe Starcks und Asian Dub Foundations dieser Welt jetzt alle anlockt. Dass die wirtschaftliche Not vor allem mit Drogenhandel kompensiert wird, ist hingegen der Grund, weshalb das Rathaus sich entschlossen hat, diese illegal entstandenen Viertel zu legalisieren, zur normalen Stadt, also kontrollierbar zu machen.

Wo jetzt endlich Feuerwehr und Krankenwagen hinkommen, passen aber auch Polizeiautos durch. Jáuregui brauchte wegen der deshalb etwas sanierungsunwilligen Drogenhändler schon sehr charakterstarke Bauleiter. Er plant auch wegen solcher Sachen jede Intervention in langer Abstimmung mit den Anwohnern. Er hört manchmal monatelang erst mal nur zu, erschliesst sich das Viertel und seine Geschichte mit den Füssen und den Augen, zieht wie die Favelados mit freiem Oberkörper um die Häuser, schnüffelt wie ein Hund in allen Ecken und denkt sich die Favela wie ein Deleuzesches Rhizom, wie ein Gewebe mit mehreren Zentren, das schon wusste, was es tat, als es wuchs. Es geht im Grunde nur darum, das naturhaft Gewachsene weiterzubauen, Identitäten zu verstärken - und nebenbei nicht zuletzt eine Ästhetik der Favela freizulegen und den Neubauten zu spiegeln: eine riskante, anarchische Schönheit von unten. Sie könnte ein Modell sein. Jàuregui hat schonerste Aufträge im Ausland. Das wichtigste in der Favela ist die Schönheit von unten. Sie könnte ein Modell sein. Jáuregui hat schon erste Aufträge im Ausland. Das wichtigste in der Favela ist die Schönheit der Beziehungen diese Geseleschaft, sagt Jáuregui, und wer behauptet, inmitten so viel sozialen Elends gebe es wichtigeres als die Schönheit, der ist ein arroganter Barbar.


Aerial view of the urbanization of Fernão Cardin

Peter Richter

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- Brazilian Heatwave - Helio Hara


Aerial view of the core of the intervation in Campinho

Rio's legendary favelas aren't a place you'd want to visit - let alone live in. but Jorge Mario Jáuregui, one of the main archictects behind the award-winning Favela-Bairro project, is transforming the landscape of Rio's most neglected slums with an idea so basic, it's revolutionary

Rio's Favelas have been glamorized in film and in song. The infamous neighborhoods, which first cropped up and arround the city in the 1920s, are the birthplace of Samba and continue to play a vital role in art and national culture. Lately, the Favelas have even become fashionable. Brazilian designers are taking ideas, inspiration, and actual clothes and putting them in their collections. Way on the other side of the equator, in Paris's 10th arrondisement, there even stands a popular nightspot called Favela Chic. But when it comes right down to it, the Favelas, translation: slums , are anything but chic. They are the Brazilian hotbed of poverty, crime, and drug traffic. In a country that prides itself on Oscar Niemeyer's precision modernism and Roberto Burle Marx's manicured gardens , these areas were festering uncontrollably, often without electricity or running water, and trash and raw sewage dumped into the streets. Irronically, many of the Favelas are situated in areas of prime real estate, and until recently, the most practical-and widely practiced-soluction was simply to bulldoze them and kick out the residents. But for the past five years, the Favela-Bairro project has been working to transform the slums into functioning neighborhoods. The idea, which is a basic as it is revoluctionary, is to provide the communities with the means, both practical and aesthetic, where before there were none. Roads are being built, plumbing and electricity installed, and innovative public buildings dressed in bright colors sprout up like totems. Already a model of urban planing and design in Latin America, Favela-Bairro received the International Architecture Biennale Grand Prize in São Paulo in 1999, and this past year, the Veronica Rudge Green Prize in Urban Design from the Harvard Graduate School of Design. Here, Helio Hara talks to Jorge Mario Jáuregui, one of the main behind the project, who is now tackling his eighteenth slum.

HELIO HARA Over a million people live in more than six-hundred slums in Rio in extremely poor condictions. The goal of Favela-Bairro is to upgrade all the medium- sized slums by 2004. Is there a real revolution going on?

JORGE MARIO JÁUREGUI In 1995, Rio as a whole was really deteriorated and the crimerate and segregation were obvious signs of the problem. In Latin America, the response had always been the same: Bring tap water and sewage sistems to the slums, plant a tree...Favela-Bairro was the first attempt to come up with an integrated solution. We build schools, sports centers, open roads making them acessible to ambulance and garbage collection, and plant trees where possible. Slums become neighborhoods. What we realized is that once you interfere in public areas , there's an immediate change in the way the residents feel. Before they were ashamed to tell others where they lived. It was a sort of lost, forgotten area. Now, there is pride. Favela-Bairro also works on land tenure regularization and that makes people feel more responsible. Obviously we cannot solve the problem of drugs trafficking, which would require broader action.


HH The drug cartels are incredibly powerful in Rio's slums: they dictate opening hours, control the entrance to their territory...have you ever been threatened?

JMJ Drug traffickers have an ambiguous position towards favela-Bairro. On the one hand, they know that the same roads that now allow ambulances to reach the slum will eventually open the way for police cars. On the other hand, they absolutely need the support from the community that want the changes. In the future, conflict will arise, demanding a combination of housing and security policy. In the six months we developed the project in Fernão Cardim, for example, there was an actual war between rival groups. Power changed hands four times . Once a severed head was left at the bar where e used to have coffee. I remember the first time I presented the project: It was summer. It was burnning hot. I was talking to the residents bare -chested, covered with sweat. Suddenly, someone touched my shoulder and introduce me to a young, well dressed guy, wearing four-hundred-dollar Japanese trainers. I was busy, so I didn't give him much attention. Then, I suddenly recognize that face, I had seen it in newspaper. He was the new traffic baron there! He openly said he supported Favela-Bairro. But that was unique.

HH The slums look random and chaotic, there's never been any sort of planning. Now we are starting to see innovative buildings painted loud colors. Wath is the role of aesthetics in an environment still deprived of the most basic of needs?

JMJ Modernism decreed that it was important first to raze and than to build up again from zero. We have a different approach; we have a lot of respect for what is already there . We first try to understand how the slum is organized. We can see they grow from central points like squares and health care units. Them they try to avoid the expansion of the slum, relocating families to the center and creating limits. In one case, we built a sort of short "Chinese Wall" which is now used by residents as a street. The right to beauty is as important as the right to drainage. The loud colors are part of the popular heritage - think of Carnival. Colors had been absent due to poverty, people work on the inside, but cannot afford to work on the outside. And when a new, planned building rises in the slum - be it a public toilet or a sewing co-operative - it immediately becomes a monument. It was conceived by an architect, it indicates things are changing: People understand they now have the right to what was only available in the so-called "formal city"[ordinary neighborhoods]. The philosopher Felix Guattari once said that aesthetics are fundamental and revolutionary!

HH Brazil was heavily influenced by modern architects like Le Corbusier. There are monumental buildings in the capital, Brasilia, but poorer districts were most often neglected.

JMJ Modern architecture really tried to make popular houses monumental like the famous "Unité d'habitation"in Marseille, France, a project by Le Corbusier. He tried to create a vertical, urban environment, but it never really proved to be effective. In Brazil, there's a good example of such monumentalism, "Pedregulho"[a sinous building in a suburb of Rio, by architect Affonso E.Reidy]. It is really well-integrated with the environment. But that is an isolated case. Usually, monumentalism equals high density and low quality of life. Residents feel anonymous. We think less of vertical towers and more of low buildings and high density.

HH You have quite controversial ideas like openning slums to tourists.
JMJ If you go to Vidigal [a slum in a hill between exclusive areas facing the Atlantic Ocean], you have a fantastic view of the sea. It is sourronded by five-star hotels and tourists do want to see how people live, specially after slums are glamorized in films and songs. Such potential cannot be ignored. In particular case of Vidigal, we have the project of a funicular that would take people from the beach straight to the core of the slum. Young boys would be trained as guides. Residents like to talk and are open to people. More than once I visited a slum without giving previous notice and I was very welcomed.
HH In the future, be it utopic or not, how do you foresee slums in Rio?
JMJ I recently visited a smaller city called Volta Redonda. There are no slums there. What we see are popular, poorer neighborhoods. If the country's economy improves, services and aesthetic features will also improve in these areas. I think to give slums urban services and quality is the most intelligent way to fight social exclusion. Before, the army would burn shacks and raze slums. Now, it's time for a totally different approach.


Urbanistic and social orientation center, in the favela of Campinho

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Helio Hara
VISIONAIRE Magazine, N.Y.
Jul/Aug 2001


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- Entrevista a Cafe de las Ciudades

Es desde todo punto de vista inadmisible que autoridades responsables por la conducción de las políticas públicas del Estado y de la Ciudad de Rio de Janeiro, hagan demostraciones públicas de su desconocimiento de cuestiones básicas relativas a los graves conflictos socio-económicos que la sociedad carioca viene evidenciando desde hace ya mucho tiempo. Pienso que la sola mención de la idea de "amurallar" las favelas es de avergonzar a cualquiera, mucho mas a quien fué uno de los impulsores del programa de urbanización denominado Favela Bairro, que consiste basicamente, justamente en buscar articular las áreas informales (favelas) con las áreas formales de la ciudad. Lo que implica basicamente la idea de construir canales de conexión (no de desconexión, como seria un muro) entre las partes excluidas de los beneficios de la urbanidad y el resto de la ciudad.

Como sabemos, y como vengo haciendo en ya mas de 25 favelas de la ciudad de Rio, esta conectividad se da a través de la extensión de las infraestructuras básicas (cloacas, agua , iluminación pública); reformulación del sistema vial y de accesos; introducción de edificaciones para la generación de trabajo y renta; edificaciones para la prestación de servicios de interés social (guarderias, puesto de salud, centro de atendimiento para la obtención de documentación, centros de capacitación educacional y de mano de obra, etc); plano de tratamiento de la basura; regularización de la propiedad de la tierra y justamente relacionado con esto, la delimitación de lo público y lo privado, que tiene que ver con la cuestión de los "límites" de cada favela.

Los proyectos de urbanización que he realizado hasta ahora, siempre consideran la cuestión de la formalización de los límites una tarea de las mas relevantes del punto de vista de la creación de "pasajes" de lo informal a lo formal. Tratase no solo de identificar los límites existentes, sino, en la medida de lo posible, reducir las áreas ocupadas a través de medidas como la concentración de edificaciones de realojo dentro del área de la propia comunidad. Por este motivo, la definición de marcos de referencia claros, visibles e "inmodificables", es un factor muy importante de la intervención de urbanización. Estos marcos visibles pueden ser en ocasiones, como ya hemos hecho en algunos casos, especies de caminos bajos de piedra, de mas o menos 80 cm de altura y entre 80 a 100cm de ancho que sirven para hacer el recorrido de fiscalización pos-obras. Esto es, en ningun caso deberia tratarse de "ocultar" lo que está por tras de las áreas urbanizadas sino, por el contrario, de permitir la permeabilidad visual y funcional entre la favela y su entorno, a partir del estudio minucioso de la topografia, de las condiciones del suelo, de las formas de acceso al local y de los usos establecidos por la población residente, todo lo cual debe ser sintetizado en el "esquema de lectura de la estructura del lugar". Es a partir de la realización de estos estudios que se está en condiciones de elaborar la "propuesta urbanística", esto es, el esquema organizativo que estructurará toda la intervención a ser realizada, que lo que busca es justamente articular lo que está desarticulado y nunca separar, como seria el caso de la construcción (acto brutal) de muros estilo Israel, Berlin y del gueto polonés.

Es claro que las políticas de urbanización de áreas carentes deben ir acompañadas de políticas de creación de empleo, sobre todo focalizadas en los jóvenes y madres solteras y junto con eso articular programas de seguridad ciudadana que enfoquen el problema de la violencia y el tráfico de drogas desde una perspectiva amplia, no solo como una cuestión de represión sino sobre todo de prevención. Lo que implica tener programas de corto y medio plazo en las áreas de educación (inclusive ambiental), generación de empleo y financiamento habitacional adecuado a la realidad. Cosa que casi nunca sucede, pués la desarticulación entre las diferentes instancias del poder público (federal, provincial y municipal) bien como dentro y entre las propias secretarías municipales, responsables directas por el control del uso del suelo dentro del municipio, constituyen un serio obstáculo.

Aún así, con todas estas restricciones, jamás puede pensarse (si es que eso puede llamarse "pensamiento") en proponer aislar lo que ya está absolutamente aislado; por el contrario, lo que es necesario es encontrar y materializar los puntos de anudamiento, aquello capaz de hacer lazo social y que desde mi punto de vista solo puede pasar por la estructuración en torno de los intereses comunes entre la favela y su entorno, que consiste en la prestación de servivios de la población de la favela a los barrios y juntamente con esto en llevar los atributos de la urbanidad al interior de la favela. Estos centros de generación de trabajo y renta pueden constituir especies de "faroles" urbanos, de "mojones" orientadores, promotores y atractores de convivialidad.

Mas allá de los traficantes hay en las favelas de Rio una rica urdimbre social y organizada, que forma ya parte de la historia de la ciudad. Es preciso respetar esta población específica, con tantos derechos al uso de los beneficios de la vida en ciudad como cualquier otro sector. Y además, contribuyentes fundamentales de su "construcción".

Por eso es absurdo pensar que un pedazo de material (un muro) dará "solución" a la cuestión del tráfico. Aislar el problema no es solución, es preciso encararlo de frente en todas sus vertientes. Cercar las favelas con muros bajo la disculpa de la destrucción de la Floresta de Tijuca es ridículo. No es la Mata Atlántica lo que está en cuestión sino la vida de personas.

Declaraciones "trasnochadas" y apresuradas, sin reflexión, de autoridades culposas o intereseras politicamente (prometerle a la clase media cosas que por otra parte nunca podrán realizar) no son nunca un buen referente. Es verdad que al estado en que han llegado las cosas en Rio no pueden ofrecerse soluciones milagrosas, que de un dia para el otro resolverán los problemas. Durante mucho tiempo no se quiso reconocer la gravedad de la exclusión social que se habia producido y el profundo malestar que se estava incubando del lado de los excluidos. Hoy las soluciones serán caras y a largo plazo pero no pueden dejar de encarase y eso no es una cuestión militar. Es una cuestión de tener las políticas públicas adecuadas a las exigencias del momento, que es muy grave por cierto .

Por lo tanto la cuestión es: derumbar todos los muros (a traves de una ecologia mental, social e ambiental) que impiden el pensamiento y el tratamiento consistente (y desde nuestra disciplina, el approach proyectual) de nuestra sociedad dividida.


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- Intervista









 

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- Entrevista con Paulo Mendes da Rocha, São Paulo


Reunión en el estudio de Paulo Mendes da Rocha en San Pablo, para conversar sobre la ciudad contemporánea. Durante el encuentro, la arquitecta Lilia Sodré Pereira registrba todo, ambiente, proyectos, maquetas... El local del encuentro está localizado en la zona central de la ciudad de San Pablo, con un gran ventanal que mira para el edificio Copan, obra emblemática de la arquitectura y del urbanismo modernos, proyecto de Oscar Niemeyer de los años 1953-55. A continuación, una síntesis de lo abordado en esa ocasión.

Jorge Mario Jáuregui- ¿Cómo concibe hoy usted el trabajo de arquitecto, en una escala de variaciones entre atelier y estudio de producción de proyectos detallados para ejecución? ¿Cómo funciona su estudio?

Paulo Mendes da Rocha- Yo hace algún tiempo que trabajo en un esquema de atelier, con tres estudios que realizan los detallamientos de mis proyectos, según los casos, lo que me permite dedicar mas tiempo a la captación de trabajos. Yo funciono como un atelier y con eso quiero decir que institucionalicé mi "vagabundaje"; hago mis croquis y se los paso al calculista y a los detalladores.
En 1969 yo gané el concurso para hacer el Pabellón de Brasil en Osaka, fui allá con el proyecto y una empresa japonesa detalló todo en 40 días. Ahí aprendí que uno no tiene que tener estudio. Mas tarde descubrí que Niemeyer trabajaba así. Si uno funciona con consultores para cálculo estructural, aire acondicionando, instalaciones eléctricas e hidráulicas, ascensores, etc, entonces se forma un grupo y se trabaja en conexión.
Hoy el sistema de trabajo hace con que principalmente en el caso de obras públicas aparezca un constructor y proponga modificaciones, sobre todo cuando hay necesidad de empleo de técnicas no muy usuales. En el caso de uso de estructuras metálicas es muy común; se substituye algo que había sido pensado para ser atornillado por algo que va a ser soldado, por ejemplo. Entonces se vuelve al cálculo estructural y se reevalúa el detalle; el proyecto es el mismo, pero eventualmente puede haber modificaciones del tamaño de las piezas.
Yo hice una obra que tenía una estructura metálica delicada y el propio calculista dijo, "voy a hacer una consulta con el fabricante", lo que a veces obliga a adaptar el proyecto a las técnicas viables y estas deben ser además compatibles con los tiempos establecidos, para no atrasar los plazos de entrega.

JMJ- Me acuerdo de un comentario de Alvaro Siza donde se quejaba de que hoy en día estamos cada vez más atados a un engranaje de producción de la arquitectura que limita la posibilidad de hacer modificaciones y adaptaciones en obra (que en el caso de él fueron siempre muy importantes para la materialización de sus proyectos) en razón de la gran complejidad que fue adquiriendo el proceso de producción de proyectos al envolver una serie de participantes complementarios tales como consultores de ingenieria, de instalaciones, acústica, aire acondicionado, sistemas de cerramientos y vidrios especiales, ascensores, pisos elevados, sistema de comunicaciones, etc.

PMR- A veces, en el caso de licitaciones, puede ser necesario inclusive rescindir un contrato de adjudicación de obra, en función de la no-viabilidad de ejecución de una técnica constructiva especificada. Y mismo con el uso del computador hoy en día, no es que no se pueda volver atrás por ejemplo. Hoy esa complejidad del proceso de viabilización de una obra a que usted se referia es muy grande (coordinación con los múltiples participantes, especialistas, consultores, etc) pero aún así a veces es necesario volver atrás en un detallamiento.
En ese sentido es necesario contar cada vez mas con cierta imprevisión como parte del proceso proyectual, a pesar de, paradójicamente, contar con instrumentos de control y previsión cada vez mas sofisticados.


Interior casa Paulo Mendes da Rocha

JMJ- ¿Cual es su concepción con relación a lo que es público, obra pública, por ejemplo? ¿Cuál es la distinción entre obra pública y obra privada. ¿Cómo funciona eso para usted?

PMR- Siempre trabajé con obras públicas; hice el estadio Serra Dourada y la estación de ómnibus ambas en Goiania, el Pabellón de Brasil en Osaka que ya mencioné, la Pinacoteca de San Pablo y muchas otras. La primer obra pública la hice cuando tenia 29 años y gané un concurso. A rigor, yo siempre trabajé con obra pública; la obra particular es solo una excepción. Por ejemplo, un caso típico, la sede de Forma. Forma es una empresa privada, pero el local es público, cualquiera puede entrar. Aún en el caso de una obra promovida por la iniciativa privada, Museo de la Escultura de San Pablo por ejemplo; no hay diferencia. Lo que yo creo es que no existen obras que no sean públicas. Por ejemplo, un edificio de departamentos, al ponerlo a venta se torna un producto público, cualquiera entra y compra. La Kibon (cadena de heladerías) puede no ser pública; los directores pueden pelearse entre ellos e ir a la quiebra, pero el producto "helado" es público, tanto que lleva inscripto "no tire el papel a la calle".
En relación con el tema de lo público y lo privado referidos a la arquitectura, para un arquitecto, la arquitectura en relación con lo público exige más de él, a punto de merecer otras consideraciones en el sentido de poder decir: ¿"espacio? Solo existe espacio público". A rigor, no existe espacio privado. Espacio privado es solo el de la mente. ¿Pero que sucede por ejemplo con el sujeto que trabaja con esa mente tan privada, cuando esa mente elabora un poema? Lo torna público inmediatamente; un poema es una cosa pública. El lenguaje por ejemplo, es una cosa pública.

JMJ- Entrando en el tema candente de las favelas, y con relación a su declaración de que "tal vez la dimensión más monumental del urbanismo en Río de Janeiro esté en las favelas, porque expresa la voluntad de vivir en la ciudad cueste lo que cueste", que yo considero una excelente caracterización de la razón de la existencia de las favelas, no solo en Rio, me gustaría comentar eso.

PMR- Si, eso tiene que ver con la idea de que es la existencia de la ciudad lo que atrae a un individuo; la ciudad existe antes de que usted construya en ella. Lo urbano es una idea y la favela es eminentemente pública. En ella todo es de uso colectivo. Y eso que se dice de las drogas en las favelas... las drogas se producen en otro lugar, fuera; ninguna favela "produce" drogas.

JMJ- En relación con eso de que en la favela todo es de uso colectivo,;es verdad, todo se usa colectivamente. Las lavanderias son comunitárias por ejemplo; las mujeres lavan ropa en grupos mientras los chicos juegan alrededor, pero al mismo tiempo no existe la dimensión pública del espacio. En la favela lo que no es privado (de las paredes de la habitación para adentro) no es de nadie y por eso se tira la basura en cualquier lugar por ejemplo; no se tiene el menor cuidado con lo que no es privado. Los espacios "no son de nadie", tanto los espacios principales cuanto los secundarios, residuales; no existe la noción de "bien común" y eso es una de los principales aspectos que los proyectos de urbanización deben instaurar, la noción de espacio público. En este sentido, que haría usted si tuviera la oportunidad de intervenir en una favela aquí en San Pablo por ejemplo, donde también hay tantas?

PMR- La cuestión es muy compleja, pero mi aproximación seria algo brutal, sobre todo en el sentido de lo esencial, de lo fundamental, las infraestructuras. Usted ve, esa idea de que la favela es la expresión de la más monumental conciencia urbanística en Brasil... principalmente en Río de Janeiro se puede ver eso.
La especulación inmobiliaria quiere vender lo más caro posible invirtiendo lo mínimo; o sea, un territorio difícil ella no enfrenta, por eso abandonó los morros y con eso aquellos lugares de la ciudad quedaron vírgenes, en lo alto de la ciudad y por eso fueron ocupados por las favelas. Y no es por acaso que existe toda esa leyenda; que desde la favela se ve el mar, que los compositores populares crean música en los morros, etc. La favela tiene, por contradicción, una situación de carácter "encantador" como lugar de residencia; cuando la canción de Tom Jobim dice: "de la ventana se ve el mar que es lindo", él en realidad quiere decir, si usted estuviera como Robinson Crusoe, el mar no seria apreciado como lindo, porque usted seria un desgraciado desesperado en la playa. Para ver el mar lindo hay que construir la cuidad y una ventana. Para nosotros el mar solo tiene gracia desde la ventana. Ninguno de nosotros tiene vocación para explorador. Porque desde la ventana si uno retorna al interior, ahí esta el omelet siendo hecho en la cocina, etc. La naturaleza es un horror; si no se consigue ver el mar desde la ventana, el mar es asustador, porque, "ahí por las tantas", si viene la tempestad, uno puede cerrar la ventana.
Por lo tanto, es la ciudad que es encantadora, y retornando a su cuestión en relación con la intervención en las favelas, yo construiría ciudad, compondría edificaciones con la naturaleza y construiría residencias de un modo que podemos llamar de Moderno, porque sabemos lo que quiere decir, o sea, inteligente.
Si las mujeres y los niños en la favela tienen que cargar la lata da agua en la cabeza, entonces uno tiene que canalizar el agua y construir edificaciones y colocar canillas. Es eso ahí, no veo alternativa. El edificio vertical puede ser también una favela; técnicamente, la diferencia es que hay un ascensor.
Las ciudades son hechas mayoritariamente con casas; una ciudad de 500.000 habitantes por ejemplo, considerando cinco habitantes por casa, tiene que tener por lo menos 100.000 unidades habitacionales.
La ciudad es hecha con casas, los edificios institucionales son siempre una minoría y la dimensión que la ciudad va adquiriendo es cada vez más en el sentido de transformar la casa, porque uno vive en la ciudad considerada como la casa contemporánea; lo que interesa es la casa en la ciudad, no la casa de cualquier modo. Es una contradicción estúpida esa cuestión, no son los edificios institucionales los que hacen la ciudad, ellos surgen de la existencia de la ciudad. Las lámparas, las luces que se encienden, son las luces de las casas. De ahí la estupidez de hacer zonas exclusivamente residenciales. "Yo vivo exclusivamente residencial", es una estupidez pensar eso como piensan algunos en relación con los "condominios residenciales", los condominios cerrados, por ejemplo, pues, al contrario, es la mezcla de funciones lo que enriquece una ciudad.


Interior Pinacoteca de São Paulo

JMJ- Antes de venir para su estudio pasamos por el edificio del "Conjunto Nacional" (David Libeskind, 1955), en la Avenida Paulista. Uno de los grandes ejemplos de "arquitectura urbana" del continente; un complejo de actividades con la planta baja comercial, un gran atrium con un espacio muy calibrado y una rampa monumental, a escala de todo el conjunto. El "embasamiento" comprende 3 niveles conteniendo oficinas, servicios, halth- club, etc, mas la terraza-jardín de acceso público y después el gran cuerpo conteniendo las residencias. Un espacio y una ambiencia realmente estimulantes de la vida agregativa. San Pablo tiene algunos muy buenos ejemplos de "edificio-ciudad", además del Conjunto Nacional, el edificio Copan, algunos edificios de Artacho Jurado, etc.

PMR- El Conjunto Nacional es la única manzana decente de esa área y la idea inteligente ya está ahí; los accesos a los garajes en la calle secundaria, la fachada total para las 4 calles, una racionalidad de los accesos a los ascensores (disminuyendo el gasto ridículo de ascensores en función de la construcción lote a lote de la especulación inmobiliaria, que es un despilfarro a pesar de hablar de costos controlados, etc). Si todo esto hubiera sido pensado, eso daría una imagen bién diferente de la Avenida Paulista, con todos los núcleos circulatorios iluminados y conectados por ejemplo. Con la mitad de los ascensores se puede resolver muy bien todo y reducir enormemente los costos. No se puede aceptar el inmediatismo en urbanismo.
La habitación urbana es una novedad, históricamente no había nada de eso antes. El edificio vertical no existía, con una canilla en el piso número 20. Hay que darle expresión a lo que somos hoy y poder disfrutar de la urbanidad para todos.

JMJ- Al respecto de eso y tomando el Conjunto Nacional como referencia, cual seria el nuevo paso que es necesario dar en relación con la creación de urbanidad, ¿como usted piensa esto?

PMR- El gran error de las transformaciones en la ciudad es justamente no prever las transformaciones. Usted toma por ejemplo la matriz anterior, del loteamiento hecho para las casitas y luego saca las casitas y va poniendo edificios; es claro que así no se hace ciudad. Pero tampoco cuando se toma un terreno entero, una manzana por ejemplo, y se pone el edificio en el medio con un jardincito, se ponen las cercas, etc; el que pasa por la vereda pasa por donde, ¿que es eso que se genera? Obviamente, no se genera nada. El edificio se cierra al peatón; es una estupidez. El edificio contemporáneo en la ciudad ya fué inventado; tiene 5.000 residencias, 4 teatros, 3 cines, comercios, acceso a los subterráneos, etc. La casa contemporánea no es más la casita en el jardín.


JMJ- En relación con la arquitectura latinoamericana hay un concepto que me interesa que es el de "trayectoria" (elaborado por Alain Badiou, filósofo francés, en el libro editado en portugués "Para uma nova teoria do sujeito") para hablar del arte contemporáneo. Este concepto de trayectoria, tomado de la física, le permite considerar que en arte existen trayectorias; que existe un ejército de productores de objetos de arte, de realizadores que están ahí produciendo dentro de un determinado campo, por ejemplo, lo latinoamericano, que van produciendo marcas, con puntos altos que se destacan funcionando como balizadores constituidos por la producción de los maestros. En la arquitectura por ejemplo, la producción de Barragán, Niemeyer, Reidy, Lina Bo Bardi, Testa, etc, va configurando un territorio donde lo Ibérico, conteniendo de un lado lo que viene del lado español, produce una síntesis, Barragán por ejemplo, con la articulación que realiza entre lo hispánico, lo pre-hispánico y lo moderno. Y Brasil hace otra síntesis, integrando lo portugués y lo africano. ¿Para usted, que es lo Latinoamericano?


Vista parcial edificio Copan, Niemyer, São Paulo

PMR- Tu ya lo has dicho, es lo que tu dijiste.

JMJ- ¿Pero usted se siente latinoamericano? Porque usted sabe, vamos a colocar las cartas sobre la mesa, existe una vieja cuestión, de que los brasileros no se sienten latinoamericanos, culturalmente y políticamente.

PMR- ¡Ah! Bajo ese aspecto me siento absolutamente latinoamericano! Es mas, yo estoy condenado a ser Latinoamericano! ¡Cada vez más! El desastre (que es una imagen horrible) la conciencia, el vislumbre de algo que seria un desastre, seria Brasil imaginarse suelto de América Latina, independiente de América Latina, o peor todavía, otra cosa que no América Latina. Los países son arbitrarios (principalmente en América Latina). Tomando la geomorfología del continente, nosotros estamos condenados aquí al Atlántico, o al Pacífico, cuando lo que seria lógico es la conexión directa de los dos. Nos interesa a todos pensar en nuestro futuro para que no se produzca un desastre en esa desintegración territorial; unirnos no por la via de la conquista de otros países. Perú, Bolivia, Chile, Brasil, Argentina, tenemos que unirnos. La navegación en la región por ejemplo, depende de la reunión de muchos países. Las moléculas de agua no saben si pertenecen a un país o al otro. Entonces, considerando la naturaleza como un pasaje y el hombre como parte de ese pasaje, ni el planeta Tierra está definitivamente configurado; pierde calor interno, se va a enfriar, es una transformación. Por lo tanto, la única esperanza que puede alimentar nuestra existencia es la de que haya un género humano eternamente en el Universo y eso presupone unir, construir, transformar nuestra posibilidad de existencia real, material, corpórea. Por eso tenemos que unirnos en América Latina, pero, a pesar de todo, ya hemos constituido esa trayectoria de que tu hablabas. Nosotros todos somos mas que latinos, somos americanos, porque lo que hay de interesante en la historia de la humanidad en cuanto a eso, es usted estar obligado a enfrentar, en cuanto intelectual, la experiencia individual de quien está en un territorio virgen. Y nosotros, en cuanto arquitectos, estamos mas que cualquier otro profesional, delante de la naturaleza; nada había antes aquí. Por lo tanto, construir una ciudad en este continente implica hacer una revisión crítica del pasado colonial, de la estupidez de la destrucción que fué hecha aquí. Nosotros tendríamos que ser idealmente los constructores del mundo. Eso debe marcar de algún modo la experiencia peculiar que nosotros tenemos, o mejor, esa experiencia peculiar debería marcar nuestros emprendimientos con relación a la conciencia sobre el espacio, sobre el territorio, etc. Nosotros somos eminentemente geográficos, a no ser que seamos estúpidos. Así, la ocupación de estos territorios y su expansión de modo moderno es una demanda eminentemente de arquitectura y hoy en día ella no remite mas a un hecho aislado. Por eso, la cuestión de la decisión es una cuestión ética y política. Y si los arquitectos no piensan en la necesidad de la transformación de las relaciones entre los hombres y con la naturaleza, si la arquitectura no contempla estas preocupaciones, ella se torna una banalidad imbécil; los arquitectos serán tan idiotas como los costureros de moda, que acaban teniendo que producir una mujer para poder usar la estupidez que diseñan, que es muy diferente de diseñar ropas para mujer.
Nosotros podemos ser tan horribles y miserables cuanto queramos. Ese es el dilema. Una cuestión interesante para arquitectos es que el arquitecto es puesto delante de una situación en la cual tiene que hacer algo (un edificio, etc.). Yo creo que debemos pensar más en lo que no hacer hoy en día, en como evitar el desastre.


Detalle Museo de la Escultura

JMJ- Retomando el tema de la ciudad contemporánea; como piensa que podría ser esa ciudad?

PMR- Yo quiero construir la hipótesis de casas para todos, por ejemplo; Eso implica que debería haber un trazado de vías circulatorias que permita ir para distintos lugares y también, que permita elegir, que posibilite una cierta imprevisibilidad de la vida. Uno puede estar yendo a trabajar y en la mitad del camino decide no ir, porque entrò en un cine, etc. Por lo tanto, la arquitectura no determina el modo de vivir, ella construye aquello que imaginamos que sea la mejor manera de vivir. Por eso es bueno habitar arriba de los bares, de los comercios, de la diversión y el subte tiene que estar accesible a una distancia razonable, etc.
Consideremos el edificio Copan, por ejemplo; eminentemente un edificio de habitación popular. Hay 8 tipos de departamentos, duplex y no duplex, de 40 a 120m² y el habitante puede ir a pié al teatro. Yo ya habité en el Copan en una cierta época de mi vida y en ese momento yo frecuentaba la piscina y el bar del Hotel Hilton, que quedan exactamente enfrente. Desde mi ventana yo tenía vista sobre el área de la piscina y la empleada me llamaba con un gesto por la ventana, cuando la comida estaba lista en mi casa. Yo tenia un amigo (que todavía está ahí) que era el jefe de la "gambuza" (el responsable de todo lo que entra en el hotel para consumo) y a veces combinaba encuentros con mis amigos en la piscina, éramos atendidos por él, y después comíamos en casa. Esto es un ejemplo de la riqueza de posibilidades de la ciudad; ella es mucho más de lo que se imagina. La ciudad puede ser una maravilla. La arquitectura como forma de conocimiento implica pensar en todo eso, en no hacer un edificio aislado.
¿Qué puede ser esa casa popular vertical? Evidentemente, lo que nuestro deseo sea capaz de indicarnos.
Porque la naturaleza sola es un estorbo y la arquitectura como mercadería es un desastre.


Edificio SESC Pompéia, Lina Bo Bardi, São Paulo

JMJ- En relación con la cuestión del deseo, en lo relativo a lo arquitectónico-urbanístico, el psicoanálisis nos enseña que el deseo se articula a la demanda. En ese sentido, parecería no haber una demanda por calidad arquitectónica y urbanística hoy en día, como si no se consiguiera formular ese deseo...

PMR- Creo que eso tiene que ver con la cuestión de la ciudad en que vivimos y tiene que ver también con lo que queremos que ella venga a ser. Considerado desde nuestra disciplina, construir ciudad implica construir una nueva geomorfología, pero sabiendo que el problema de las transformaciones necesarias no es un problema solamente técnico. Técnicamente nosotros sabemos hacer las cosas, poseemos los conocimientos necesarios; de lo que se trata es de otra cosa.
Hoy, el 82% de la población del país es urbana y hay un déficit de 7.000.000 de habitaciones. Por qué no tenemos un Ministerio de la Ciudad por ejemplo?. La gran desgracia de la ciudad actual es no ofrecer condiciones de acogida para todos, con acceso a los servicios.

JMJ- Piensa que hay una falta de debate sobre la cuestión urbana contemporánea en el país?

PMR- Hay una falta de ideales sobre la ciudad, una falta de deseo de ciudad. Verificamos una falta de reivindicación de urbanidad de parte de la sociedad y, sin lugar a dudas, una parte de la población no desea la ciudad y se dirige para fuera de ella, se excluye. Es el caso de los condominios cerrados que configuran guetos de no-urbanidad. Hay también un diseño desastroso de ciudad, abertura de túneles, construcción de countrys, shoppings, etc, lo que significa claramente construir una ruta de desastre. Y principalmente, hay una pérdida de perspectiva de nosotros como sociedad, que va mas allá de la cuestión de la ciudad y de la arquitectura. América Latina toda está en una falta de perspectiva contra la cual es necesario reaccionar.

JMJ- Como le parece que puede buscarse el pasaje del nivel de reflexión urbano para la solución de problemas puntuales, específicos?

PMR- Nuestro trabajo tiene que ver con esa cuestión de lo indecible de nuestra existencia. Uno quiere contribuir para la transformación del mundo, pero al final de cuentas tiene que conformarse con actuar a través de acciones ejemplares. Pero también sabemos que en una simple casa podemos pensar la ciudad entera. Por otro lado, no se puede planear una ciudad de 4 en 4 años (período establecido para la renovación de autoridades políticas) de acuerdo con la voluntad de cada Intendente. Es necesario tomar posición sobre lo que uno quiere ser como sociedad.

 

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Entrevista com Clorindo Testa, Buenos Aires

Torre do edifício Rocatagliata, projeto de 1920 do arquiteto italiano Mario Palanti, localizada na esquina de Santa Fé e Callao, sob cuja cúpula foi realizada a entrevista transcrita a continuação.

 

Numa tarde bem fria e chuvosa do mês de Julho, em Buenos Aires, nos reunimos no 10º andar do edifício da Avenida Callao 1003, numa das torres mais belas da cidade, um grupo de arquitetos para participar de um diálogo que eu propus a Clorindo Testa, um dos mais importantes arquitetos Latino-americanos da atualidade, dono de uma poética pessoal muito forte e com uma aura muito contemporânea.Tínhamos iniciado uma interlocução em santo Domingo, República Dominicana, poucos meses atrás, a partir de uma convocação que a Prefeitura daquela cidade fez a um grupo de arquitetos do Continente, entre os quais estávamos Clorindo e eu. Dando seqüência ao diálogo iniciado naquele momento e continuado em Buenos Aires, são sintetizados a seguir alguns dos tópicos abordados.

Jorge Mario Jáuregui: Em relação ao tema da ordem na arquitetura e referido especificamente à sua arquitetura, que tem sempre um traço muito jovem, um impulso realmente muito fresco (não no sentido popularesco desta expressão, que significa algo bem diferente...) senão no sentido clássico, isto é, no sentido de uma grande liberdade, de quase casuístico, mas que, como sabemos, para se conquistar a liberdade houve que passar antes pela ordem, para poder encontrar depois uma ordem livre composta. Como o senhor pensa isto?

Clorindo Testa: Referente a isso da frescura, muitos anos atrás havia uma revista que se chamava "La Codorniz", da qual eu fazia parte e uma vez me suspenderam dela porque tinha feito um comentário tomando como referência a metereologia, no qual dizia que estávamos governados por um fresco que nos tinha a todos muito incomodados... Mas em relação com o tema da ordem de uma composição, eu vou organizando as coisas em função do que me tem sido solicitado e confrontando-as com o que o lugar me permite e me condiciona (pré-existências naturais ou construídas, por exemplo) sempre numa tensão entre o que desejo e o que existe; cria-se como que um "problema produtivo" onde intenção e pré-existências vão estabelecendo um contraponto. O projeto vai se "encaixando" entre o existente e passa a formar parte da realidade. Mas tudo é sempre muito ordenado; por exemplo, no Banco de Londres um dos fatores exigidos, uma das pautas para que pudesse ser escolhido um projeto, era que à distância a ser percorrida pelos funcionários até as circulações fosse a menor possível. No projeto elaborado havia uma ordem bem clara e forte nesse sentido, que foi um dos fatores determinantes para que ganhássemos o concurso. O traçado regulador das fachadas corresponde também com uma modulação precisa dos apoios que constituem os grandes pórticos que nascem da estrutura do teto. A forma das colunas e o diafragma das fachadas se imbricam constituindo uma coisa só, o que reforça a ordem e a unidade do conjunto. No caso da Biblioteca Nacional, os quatro grandes pilares em forma de tubos que suportam o corpo do edifício alojam as escadas e elevadores, permitindo configurar um grande espaço coberto aberto como uma espécie de praça pública que constitui o acesso à Biblioteca. No volume superior se encontram as funções administrativas, as salas de exposições, o foyer do auditório, a cafetería e as salas de leitura com vista sobre a paisagem. Os livros que são a parte pesada do programa, estão no subsolo. Desta forma, a ordem funcional se manifesta na composição do edifício.

JMJ: A cor tem uma presença muito forte na sua arquitetura. Para os Maias era coisa dos Deuses e portanto, algo transcendente. Como funciona isso para o senhor, como se relaciona com a sua busca plástica?

CT: Desde o início a gente já sabe como vai ser isso; faz parte do processo projetual e de alguma maneira tem a ver com algo genético.

CT: A gente pensa numa cor real. A cor é uma coisa genética, vem com você; o homem tem a cor. E a arquitetura é um instinto. As crianças desenham as casas todas iguais; os homens das cavernas também desenhavam todos de maneira semelhante. Depois, as crianças deixam de desenhar, mas algumas continuam porque tem uma certa condição que outras não tem. Acredito que a habilidade com a cor também é genética. Mas o uso da cor vai mudando dentro de uma determinada cultura e acontece que a partir de um dado momento algumas questões não interessam mais. A arquitetura moderna na Argentina não estava interessada na cor, mas agora passa a se interessar.

JMJ: Em relação às referências para a arquitetura, no sentido do corpo como modelo de capacidade de adaptação e resposta a soluções diversas (não como medida de proporção como era para Le Corbusier, por exemplo), como referência de inteligência, como organismo altamente sensível capaz de dar respostas a múltiplas solicitações; como você acha que a arquitetura pode ser pensada nessa via, inclusive introduzindo a questão do tempo?

CT: Na medida em que mudem as coisas com as quais você pode construir, a arquitetura poderá ser mais sensível e maleável. Hoje, ainda continuamos construindo como há mil anos atrás (com pedra, com tijolo) mas em outras áreas (o desenho de uma Ferrari, por exemplo) as coisas mudaram muito. Na nossa área não. Uma casa atual não se diferencia muito construtivamente de uma casa romana. A indústria da construção não está acompanhando ainda, não está no nível do que as coisas avançam em setores mais dinâmicos, e na maneira de fazer as coisas em nossa área de atuação. Um edifício continua durando 70, 80, 100 anos enquanto um carro ou um avião duram de 5 a 10 anos.

JMJ: Qual é sua visão de cidade hoje... por exemplo, em relação com Buenos Aires?

CT: Eu acho que as cidades são como as pessoas, vão crescendo. O mais que se pode fazer é tratar de arrumá-las um pouco. Ordenar os acessos, as áreas residenciais, as áreas que não são residências (comércios, serviços, etc.) porque, além disso, são atividades naturais, ou seja, os negócios se juntam e se distribuem por vários setores da cidade, mesmo que agora se tenham mais complicações pela escala, mesmo que as coisas tenham ficado mais complexas. Mas as pessoas continuam preferindo estar umas ao lado das outras, estar todas juntas, ter a possibilidade de se encontrarem em espaços de qualidade. È isso que devemos pensar e favorecer com as nossas intervenções.

JMJ: Mesmo que existam algumas vantagens ao se distanciar do centro, como víamos hoje no processo que se está dando aqui em Buenos Aires, em Vicente Lopez por exemplo, onde se instalam sedes de empresas na margem da área nova ganha mediante aterros sobre o rio da Prata, e que alguém me dizia, "os yuppies estão vindo para cá". (Clorindo: e não só os yuppies); é um movimento que tem a ver com a qualidade do lugar por estar localizado às margens do rio e do verde, pela existência dos clubes, porque não tem engarrafamentos e porque é um lugar atraente. Mas se a tecnologia permite esta dispersão (poder estar comunicado através das redes informáticas, por exemplo) está também o social que condiciona...

CT: Eu acho que os empregados e os funcionários, as pessoas que trabalham, em geral preferem se encontrar com os outros. Os que trabalham em lojas são amigos dos que compram nessas mesmas lojas e vivem na mesma área. Saem à rua e se encontram. E geralmente acontece que os pintores são amigos dos pintores, os arquitetos dos arquitetos e freqüentam os mesmos lugares da cidade. Desta forma, devemos evitar o isolamento, evitar a formação de guetos.

 

JMJ: No livro que Manuel Cuadra fez sobre sua obra, da NAi Publishers, editado por Kristin Feireiss em 2000, "Clorindo Testa Architects" e também na excelente publicação da revista Summa+Libros, da Donn S.A., editada por Fernando Diez, "Clorindo Testa", de 1999, são comentadas as relações entre vida pública, tecido urbano e arquitetura. Para o senhor, de que forma a arquitetura pode contribuir para facilitar as relações da vida pública, ou acolher, ou provocar, ou contribuir para fazê-la mais amistosa?

CT: É claro que a arquitetura condiciona e favorece, no sentido que quando os projetos estão bem, possibilitam esse tipo de relações. Da mesma maneira que uma casa pode ser melhor que outra e te dar mais opções e permitir viver melhor também; o mesmo com os edifícios de escritórios. A arquitetura em sua configuração urbana deve contribuir para favorecer as relações sociais, a conexão do diverso; permitir que os diferentes usos mantenham uma continuidade e possibilitem uma sensação de pertença, de fazer parte de algo maior.

JMJ: Em relação com isso também, me ocorre pensar que, por exemplo, em Buenos Aires ou em qualquer outra cidade, Rosário, Córdoba, etc, existe um valor da vida pública, do estar fora e da transparência entre o público e o privado, que é muito próprio da cultura Argentina. Eu me lembro da sensação, quando em Rosário você vai caminhando pela calçada e vai vendo os bares, que tem muito "clima", e você vai passando pela calçada, sempre a pé, porque no centro pode-se caminhar, então você vê, olha quem está, vê se estão seus amigos, desde fora, desde o público vendo o privado. E isso me faz pensar em Borges quando contava que no verão as pessoas colocavam as cadeiras na calçada e saiam para conversar, e que então quem passava via o corredor e o pátio iluminados, com essa transparência entre o público e o privado, sem uma ruptura. Isso é o melhor da Argentina neste plano (e não há crise que o elimine, felizmente). Então, uma das questões que interessa pensar é como se pode fazer com que parte das cidades seja, ou volte a ser, ou não perca a sua "caminhabilidade", sua condição de espaço público integrador na escala do pedestre. Comentando os edifícios da Universidade que estão construindo em San Luis, o senhor dizia que é assim como isso funciona, nesse sentido de buscar que as partes se conectem, que as pessoas caminhem e se encontrem na cidade.

CT: Nesse lugar (em San Luis) estão construindo agora uma parte da urbanização; tem cinco edifícios com atelier, depois tem um centro de estudantes com bares, está o centro de artes, estão as residências, os equipamentos desportivos, e está também a praça e a galeria que são como uma cruz onde se localiza a reitoria, com a biblioteca e o auditório, e tem uma coisa como uma incubadora que vai buscar favorecer o surgimento de empresas. Então o edifício foi todo pensado como uma espécie de célula urbana onde suas diversas partes configuram diferentes opções de atividades e de percursos, com seus também diferentes pontos de atração e convivência. É um edifício que busca contribuir para fazer cidade.

JMJ: A rampa sempre foi um importante elemento de expressão tanto em relação com o objeto arquitetônico quanto com o espaço urbano... É um elemento que sempre permite fazer um gesto em contraponto e que você utiliza muito em suas composições; é um conector que permite uma passagem, que leva do público ao privado e do exterior ao interior. Além disso, é um objeto manipulável no sentido da expressão, permite um gesto de caráter paisagístico...

CT: É, deixa tudo como mais... lindo. Agora estamos projetando uma casa para fora da cidade, com os quartos embaixo e a sala de estar emcima para aproveitar a vista da paisagem e tem um terraço que permite ver mais longe ainda essa paisagem. A casa tem rampa porque é para um deficiente físico e neste caso a rampa se expressa no objeto, é uma parte muito importante dele.

JMJ: Como o senhor me comentava em Santo Domingo, as viagens e os desenhos de viagem cumpriram um papel muito importante na sua vida de pintor e arquiteto. Como foi isso?

CT: Comecei desenhando paisagens por puro prazer de desenhar e em 1949 quando estava na Europa com uma bolsa da Universidade para ficar por 3 meses na Itália, acabei ficando por dois anos percorrendo outros países e sempre desenhando. Durante esse período um dia conheci Frans van Riel em Roma, quem se entusiasmou com meus desenhos e me convidou para apresenta-los numa galeria que ele tinha em Buenos Aires. A exposição foi em 1952 alguns meses depois do meu regresso da viagem, e eu apresentava paisagens com pontes, máquinas e estações ferroviárias. No ano seguinte me convidaram de novo e assim iniciei um trabalho que realizo até hoje, acompanhando a arquitetura. Desde aquele momento, pintura e arquitetura estão sempre juntos. Desde pequeno gostava de desenhar; desenhei muitos modelos de barcos e aviões. Mas os dois anos que passei na Itália, viajando e desenhando, absorvendo tudo que via, foram fundamentais na minha formação. Eu gosto de desenhar e é algo que me diverte; eu transmito as minhas idéias através dos croquis.

JMJ: O senhor tem alguma obra preferida?

CT: Sempre nos interessam todas, mas o Banco de Londres, a Biblioteca Nacional e a Sede do Governo da Pampa, são obras importantes.

 

Outros: No concurso de Córdoba do ano passado sua solução para o edifício me pareceu brilhante. Encantou-me o tema de como você re-elaborou a fita, onde, por programa, exigia-se que fosse um edifício, mas com a fita você consegue articular com as outras peças... Além disso, era um dos poucos projetos que tinha uma proposta de relação com o entorno, porque muitos plantavam um objeto isolado.

CT: Era um edifício-fita com os núcleos de circulação com escadas e elevadores bastante próximos um dos outros. Porque no programa pediam que fossem espaços, locais fáceis de transformar, pois não se conheciam as necessidades futuras de aumento ou diminuição (às vezes é necessário aumentar, mas outras vezes pode ser necessário diminuir). Depois havia uma rampa para público e a Casa de Governo estava em frente, com a planta baixa livre, e estavam os acessos às circulações verticais; podia-se subir, ver a paisagem e descer ao terreno natural. O edifício funcionava como passeio de fim de semana para a população do entorno; rampa para público, planta baixa livre para circulação dos visitantes, constituindo um passeio público.

JMJ: Como lhe parece que as relações sociais (familiares ou no comportamento dos indivíduos na cidade) funcionam para pensar os espaços coletivos e individuais? E como tema de investigação em relação com a experiência docente, por exemplo?

CT: A docência me divertia quando o aluno era bom, senão era muito chato. Quando o aluno é bom você se diverte confabulando com ele, pondo a imaginação para trabalhar intensamente, repensando os espaços tanto em relação ao uso dos locais privados como dos ambientes públicos. A relação com um bom aluno é um estímulo à criatividade.


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Urbanização de favelas é obra de arte na "documenta" 12

A arte subiu o morro na "documenta" 12. DW-WORLD.DE entrevistou o arquiteto Jorge Mario Jáuregui, convidado pela "documenta" deste ano para expor seu trabalho de urbanização de favelas no Rio de Janeiro.
A obra de Jorge Mario Jáuregui é uma das poucas obras de arquitetura presentes na "documenta" deste ano. Em Kassel, DW-WORLD.DE conversou com o arquiteto sobre seu trabalho de urbanização de favelas no Rio de Janeiro, considerado obra de arte pelos curadores da "documenta" 12.

DW-WORLD: Como você está participando da documenta 12?

Jorge Mario Jáuregui: Eu participo, aqui, com este espaço em que apresento registros do processo de concepção de como se gera uma idéia em termos espaciais, urbanos principalmente, mas também arquitetônicos. Depois participo, juntamente com a Faculdade de Arquitetura de Kassel, de um workshop. Aí vai se definir um grupo de estudantes que participará da construção do meu objeto, que é o terceiro momento da minha participação na "documenta". Vamos construir um objeto em frente à estação central de trens.

O que este objeto tem a ver com seu trabalho nas favelas do Rio?

É um ambiente de 3 por 5 metros, com altura de 2,26m, que eu "li" há alguns anos atrás em uma favela do Rio, o Vidigal, quando um jovem casal me convidou, à sua casa, para me mostrar um vídeo que fizeram sobre a vida na favela. Nesse espaço, eu me senti muito bem. Íamos subindo a escadaria do Vidigal e ele abriu uma porta, a única abertura do ambiente, e disse "É aqui".

Ele me falou que havia construído isso embaixo da casa da tia. Lá havia uma cama, como que japonesa, móveis baixinhos, e, em um cantinho, um módulo de 1x1m onde estava o banheiro. Com a porta de sua vizinha aberta do outro lado, ele falava, sentado na cama, comigo e com a vizinha. Era um espaço contínuo, o público e o privado fluindo facilmente. Eu comecei a pensar na questão de que tamanho não é fundamental, mas como se faz a percepção do espaço de forma racional e corporal, ou seja, como você interage com o espaço.

E a relação do objeto com a documenta?

Comecei a pensar nos temas da documenta: A Migração da Forma, a Relação com a Modernidade e a questão "O que é a 'mera vida'"? – temas que eu interpreto da minha maneira. O espaço que me interessa é o espaço que não tem nem interior nem exterior, mas um contínuo.

A construção tem a ver com a Migração da Forma, e minha relação com a modernidade é através da busca do essencial, que vi naquele loft da favela que tinha tudo o que precisava na sua essência. A terceira questão, "O que é a mera vida?", tem a ver com a vulnerabilidade com a vida na favela. A carência da saúde, da segurança, a vulnerabilidade no espaço físico. É difícil andar pelas escadarias com suas diferentes alturas de degraus.

Como um projeto urbanístico pode restaurar as condições de convivência na favela?

A vida na favela é de alta insegurança, provocada, primeiramente, pela arbitrariedade da polícia, depois, pela do traficante. Tudo isso fruto da ausência e negligência, durante várias décadas, do poder público, que deu no que deu, ou seja, o surgimento de uma autoridade paralela por falta da autoridade real do poder público. Para restaurar as condições de convivência na favela é necessário instaurar a trégua social.

Um projeto urbanístico funciona como um instrumento para a trégua, para depor as armas, através de uma atitude muito mais inteligente de negociar o conflito entre o público e o privado, o comunitário e o individual.

Mas isso não lembra a idéia de Le Corbusier Arquitetura ou Revolução, ou seja, de que a arquitetura poderia modificar o social, hoje muito contestada?

Hoje, somos bem menos pretensiosos em relação à idéia que tinha Le Corbusier. Não se trata mais de Arquitetura ou Revolução, mas da transformação do que existe. A revolução não há mais. O que hoje podemos é recompor as diferenças, criar uma condição de diálogo dentro da hibridação cultural, estética, econômica, ideológica que o campo contemporâneo determina.

Até que ponto os habitantes da favela aceitam sua condição urbanística. Será que eles não prefeririam os padrões do urbanismo oficial – a rua, a praça, a casinha com jardim?

A questão não é somente a favela. A questão é da sociedade contemporânea, tanto para um habitante do Leblon ou Ipanema, como para um da Rocinha ou do Complexo do Alemão. A questão é de que forma se pode sair do modelo mercenário imposto pela especulação imobiliária que controla aquela desgraça urbanística e social que se chama Barra da Tijuca, por exemplo, com um mar de carros dividindo o espaço entre os edifícios.

No diálogo instaurado por um projeto urbano, temos que permitir que os modelos que se trazem carregados na memória de cada sujeito possam ser modificados. Entre a favela e a Barra da Tijuca, temos que ser capazes de construir um espaço que permita uma nova idéia de habitabilidade no planeta, em particular em um local ainda mítico como o Rio de Janeiro, onde ainda se pode viver dentro da natureza, porque sempre o perfil da natureza ainda está por cima daquilo que o homem é capaz de construir.

Parece que o símbolo de sua exposição, aqui na documenta, é Brasília e Rio juntos. É o traço de Lúcio Costa com a paisagem do Rio de Janeiro. O que você quer dizer com isto?

Lúcio falava de massa verde e massa construída, de que tinha-se que buscar a relação entre as duas. A minha leitura disto é que o Rio continua sendo um modelo "ideal", onde ainda é possível construir lugares, onde se possa viver em uma relação inteligente, não predatória, com a natureza.
#s#
Em que favelas você já atuou?

Eu já fiz 25 favelas no Rio de Janeiro. Desde a primeira, Fernão Cardim, em 1994, depois Salgueiro, Vidigal, Rio das Pedras. Hoje, estão muito maltratadas e eu nem vou visitar. O poder público que as construiu não colocou nenhum tostão em sua manutenção. A população da favela não tem meios econômicos para sua manutenção. O dinheiro que têm é para manter sua precária residência e para comer, obviamente. É função do poder público garantir que o bem público seja bem conservado.

Como você vê a função dos novos edifícios que projeta para as favelas?

O projeto urbano busca articular a diferença entre o formal da cidade e o informal da favela. É a função de cada edifício que introduzimos, como os edifícios habitacionais para a relocalização de pessoas retiradas para se abrir ruas. Quando você introduz um novo edifício, cria-se um novo espaço de convivência e uma nova porta de entrada para o morro. Cada edifício introduzido funciona como um monumento, porque tem a função de representar a dimensão pública dentro do privado.

Na favela, há de tudo, menos o público. Tudo é privado e o que não é privado, não é de ninguém. A rua é para jogar o lixo e eu posso avançar e construir como quiser.

Mas a Quadra do Salgueiro não é um espaço público?

Sim, mas é um espaço interiorizado. Na favela, não há o conceito de espaço público. Existem pontos onde está o baile funk, a escola de samba, a escola, etc. que não constituem parte de um território que se pode chamar espaço público. Espaço público é um contínuo que permite várias atividades. Isto está bem claro na planta do Salgueiro, onde o coração da vida comunitária era tomado pelos traficantes, porque o poder público não chegava aqui, nem lixo, nem ambulância, nem a polícia.

Com a extensão da rua, a acessibilidade e a formalização deste espaço com atividades esportivas, culturais, comerciais, isto se transforma e se abre para a chegada da cidade formal, articulando a comunidade com a cidade e tornando este lugar acessível, aberto para outras possibilidades de vida.

Não há resistência contra tais projetos por parte dos traficantes?

A população sempre quer melhorias, urbanização. Os traficantes são uma força paralela que não quer que este lugar seja acessível, mas que também não pode ser opor à comunidade. É uma luta de poder entre os traficantes e a comunidade.

Como você estuda a favela antes de intervir?

O ponto de partida é a leitura da estrutura do que já está lá, reconhecendo os locais onde as pessoas se encontram ou um lugar que tem potencial para se transformar em praça, onde há serviços importantes como o núcleo da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), já que o lixo é um problema gravíssimo a ser resolvido, junto com as novas vias de circulação para veículos, e senão para veículos, pelo menos para pessoas em escadarias agradáveis, bem dimensionadas, incluindo o verde.

Como em uma cidade grega ou italiana, onde não há circulação de carros, mas é muito agradável andar pela escadaria com uma paisagem maravilhosa como a do Rio de Janeiro.

Sua forma de lidar com a favela lembra a intervenção de Brunelleschi, em Florença, ao introduzir a cúpula da catedral em um tecido medieval dando início ao Renascimento?

Sim, é possível estabelecer este paralelo. O que é o monumento? É aquilo que a comunidade define como sua máxima representação, como síntese de sua condição de vida conjunta. É aquilo que tem a presença simbólica e material na mesma coisa, símbolo e matéria juntos. Na favela, qualquer edifício que introduzimos, mesmos pequenas intervenções como banheiros e vestiários comunitários junto a um campo de futebol, tudo se transforma em monumento. Por quê?

Porque é feito pelo poder público, em nome do poder público. Quando ganho um concurso, eu sou a mão que viabiliza a intervenção do público no privado. O gesto do projeto é de absoluta responsabilidade, porque vai introduzir um monumento em um lugar que vai representar o poder público. Mesmo muito pequenininho, um quiosque, um abrigo de ônibus, não é qualquer edifício, isto já é um monumento.

O que você quer dizer quando escreve "Sublinhar a dignidade do público, cenário aberto à vida civil. Fundamento igualitário da democracia. Dignidade representativa, condição coletiva e solene"?

Isto é que é um projeto de intervenção urbana em uma comunidade carente, em uma favela, mas não só nela.

E isto é arte?

Isto tem a ver com arte, sem dúvida. Isto é uma forma de entender a arte e eu estou, realmente, muito feliz de que a favela tenha ganho um lugar numa exposição de arte internacional.

Redator(a):Carlos Albuquerque
© Deutsche Welle

Interview with Anna Holtzman for Architecture Magazine

QUESTION ONE: In beginning your design process, what were some of the issues you considered, relating to the idea of "public space"? (What kind of public space did you hope to create? what are the important issues that your design addresses?)

R.: The question of the configuration of public space continuous to be a central issue, because it is intimately related with the singularity of a city. It is the collective image of a city.

How can we define a public space? Before anything, like a place! Because it is not a simple complement of architecture, it is mainly a challenge. The challenge to conceive space in harmony with the contemporary life.

An intervention in the public space can not be considered unless focus it as a globality, because is not only a question of urban furniture, but of treating the ground. The public space today is the number one factor of the present city fabric regeneration, and the field of expression of all the imaginary. Presently, the comprehension of public space is in complete reformulation. Well configured in the past, the public space design today demands the interpretation of a complex, multicultural and extremely diversified society, that must find its translation.

We could say, in a psychoanalitic point of view, that the emptiness is the reason of being an "urbanchitecture" of the public space. Configurating this vacuum, modeling its edges, is the challenge. We are aware that public space comprehends a visual side (all that emerge from the ground, and another invisible (the invisible infrastructures, that adsorbs practically half of the investments).

When I have to design a public space (the reurbanization of a street, or a new square, or an olimpic village, or a center of generation of work and income, or a "school of samba", etc), firsts I go to the place several times and walk it in all directions. I observe how the people uses the place. I observe primary its limitations, but above all, look for potentialities. I try to interpret the "spirit of the place", its "vocation".

Walter Benjamin said that a place come to us through our eyes and feet.

Superpositions of uses, ambiences, necessities and ambitions, allow us to use its potentiality and recompose it in a new order.

The objective is a projectual structuration of public space, of the articulation of the designer desire intercepted with the various restrictions that interact in a concrete circunstance. Economical, cultural and political restrictions demands us to put into play the total arsenal of ideas and images, utilizing notions like velocity, fluxes and frequencies of flow.

The public space has a great responsibility of becoming a fundamental place for learning the values of civility.


QUESTION TWO: The idea for the "Open" exhibition grew out of the question of how New York City should address the site of the former World Trade Center towers. The exhibition brings together public spaces from a variety of countries with differing socio-economic contexts, in the hope that these projects can inspire ideas for ways of treating public spaces in New York. Do you think that there are issues raised in your favela project that could be used in thinking about public spaces in other parts of the world, and specifically in New York City?

R.: There are public spaces that have a "symbolic extention", that go further than the real constructed space. This is the case of the Manhattan island as a whole, and, in particular, of the vacuum left by the twin towers.

We can't stop to think what type of space will be desirable, democratically, capable of expressing the "spirit of the place" of this negative beginning of the XXI century.

From my point of view, considering my continuous experience during the last ten years, searching for configure spaces in the "devastated land" that are, urbanistically the Rio's "favelas", the emptiness of the towers challenges us to think. Think about how to articulate the public and the private, the collective and the individual, the open and the closed, where popular and "erudite" could be intercepted in a congregative space of all the "differences".

New York is a "world-place" and, in this sense, it belong to the humanity and not only to the new yorkers.

For this reason it must involve an open and flexible esthetic and spaciality, in process of permanent reconfiguration. It should look for a balance between of permanent character components (dimentions and infrastructure) and those of ephemeral character (design of surfaces, urban furniture, signage, illumination, etc) capable of permanently regenerate sense.

Basically, my projectual approach, based the "listening of the demands", of one hand, in an knowing detailed of the site on the other hand, and in a transdisciplinar work (cross-articulation of various disciplines), constitute a way totally applicable to the N.Y. issue, and not only to the W.T.C space, but, to many others problematic areas of the "big apple".

It will be a pleasure (and a challenge) to design a proposal to the city that I devote much love.


QUESTION THREE: Did you attend the exhibition? If so, what did you think of it?

R.: Unfortunately, I have not yet been able to go and see the exhibition. I have only seen it in the internet site of the Van Alen Institute, and I red material published about the exhibition.

From what I have seen, it is a serious tentative to confront points of view, experiences and ideologies of public space in this historical moment.

It works like a type of transversal section showing options and thoughts around the world, and in this sense, accomplishes a didactical function, beyond the specialized ambits. I hope that the exhibition can came to Rio de Janeiro.

 

Mais de cem anos de favela

Elas estão lá há mais de cem anos. No fim do século XIX, ex-combatentes da Guerra de Canudos foram para o Rio com a promessa de receber moradias do governo federal. Nada ganharam. Uniram-se às centenas de despejados de cortiços recém demolidos no centro da cidade e foram morar em barracos improvisados atrás da Central do Brasil. Era o início do que hoje é o Morro da Providência, a favela mais antiga da cidade. Mas a disseminação das favelas pela paisagem aconteceu mais intensamente a partir da metade do século XX, como um reflexo do crescimento desordenado das cidades brasileiras, e não apenas do Rio de Janeiro. 

“A favela é o resultado de anos e anos de ausência de política de habitação social, e a sociedade tem de arcar com isso”, avalia Gerônimo Leitão, diretor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. “Evidentemente”, prossegue, “nenhum de nós é favorável à ocupação de encostas. Mas a grande questão de hoje é o que fazer para integrar a favela à cidade. Um em cada cinco cariocas mora em favelas, e não podem mais ser ignorados”. 

Nos últimos 40 anos, a relação do poder público com a favela mudou. Na década de 1960, o governador do Rio, Carlos Lacerda, com apoio dos militares que tomaram o poder, promoveu traumáticas remoções de favelados da zona Sul carioca em direção à zona Oeste da cidade. Nascia a Cidade de Deus, cuja história de abandono e violência ganhou o cinema e o mundo com o sucesso do filme homônimo, dirigido por Fernando Meirelles. 

“Essa política se esgota no fim da década de 1970, quando o Banco Nacional de Habitação muda de estratégia e tira as palafitas da Maré, mas mantém os moradores no local”, diz Leitão. 

No início dos anos 1980, o governador Leonel Brizola assume o compromisso de levar água e esgoto para as favelas. Um projeto emblemático tem início no morro do Cantagalo, mas, como infelizmente se tornaria a praxe, não há continuidade nas obras. Ao mesmo tempo, o fortalecimento das quadrilhas de traficantes de drogas, encastelados nos morros, aumentam rapidamente o abismo entre a favela e o “asfalto”. 

No início dos anos 90 é aprovada uma lei que proíbe novas remoções em favelas, a não ser caso de risco de desabamento. A mobilização contra as remoções vem acompanhada da elaboração do Plano Diretor da Cidade, aprovado em 1992. Estava criada a base para o Favela-Bairro, que a partir de 1994, com 300 milhões de dólares do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), iniciaria intervenções urbanísticas em 18 comunidades. Sem, no entanto, solucionar a maior parte dos problemas locais.

A lição dos erros do passado
“Obras do Favela-Bairro, feitas há 10 anos, estão em situação precária, há uma ausência total de manutenção e de atuação do poder público”, diz Leitão, e menciona outro problema: “Se não há legislação nem fiscalização do uso do solo, as favelas urbanizadas começam a sofrer com verticalizações e isso compromete toda a infra-estrutura implantada”. Para se ter uma idéia, na Rocinha hoje há prédios de até nove andares, e a média da maioria das edificações é de três pavimentos. 

O sociólogo e pesquisador da PUC-RJ, Marcelo Baumann Burgos, considera o Favela-Bairro um projeto “exitoso, mas com problemas”. E explica: “Algumas áreas de intervenção se tornaram cidadelas do tráfico, e isso desmoraliza os resultados. De um lado, a prefeitura levava benefícios, creches, postos de saúde. De outro, o governo estadual, responsável pela segurança pública, mantinha-se indiferente”. 

Burgos vê com bons olhos o formato do PAC para as favelas. Ele destaca como novidades bem-vindas a volta da questão “favela” à esfera estadual e o ineditismo, no período democrático, de ser tratada também pelo governo federal. Apesar disso, vê problemas e desperdício de oportunidade na questão da segurança: “O governo estadual poderia articular a política habitacional com a da segurança pública. Hoje, a fronteira entre a favela e a cidade está na forma de ação dos agentes de segurança. Pelo que fez nesse primeiro ano de governo, Sérgio Cabral mostrou que não vai mudar essa política”. 

Entre os três locais que receberão a maior parte dos investimentos do PAC na cidade, Rocinha, complexo de Maguinhos e complexo do Alemão, este último tem marcas recentes da violência institucional. Um mês antes da realização dos VX Jogos Pan-Americanos, em 27 de junho passado, uma mega operação policial no Alemão matou 19 pessoas. Peritos da União identificaram sinais claros de execução sumária em dois casos, e criticaram a impossibilidade de reconstituir as mortes, por adulteração dos locais e dos corpos. A operação teve repercussão internacional e gerou troca de acusações entre o governo federal e o estadual. 

“Tem de haver uma forma mais inteligente e mais eficaz de lidar com a segurança pública. A retórica da guerra só piora tudo. O que não pode é tornar vítima toda a população das favelas. A operação no Alemão valeu para quê?”, questiona Burgos.

Intercâmbio com a Colômbia
A intervenção do PAC no complexo do Alemão (formado por 13 favelas) custará 495 milhões de reais e prevê ações como saneamento, contenção de encostas, calçamento, iluminação pública, e construções de quadra poliesportiva, coleta de lixo, escola de ensino médio, centro de saúde e biblioteca. 

Mas a estrela do projeto é um teleférico. Tão surreal aos olhos do carioca quanto o elevador Cantagalo-Ipanema, o teleférico do Alemão prevê a construção de seis estações ligando a linha férrea (estação de Bonsucesso) até o alto de cinco morros, num trajeto de 3,1 km. Estima-se que o teleférico, que terá 152 cabines com capacidade para dez pessoas cada, transporte 30 mil passageiros por dia. O percurso, do pé ao alto do morro, hoje feito em uma hora e meia, deverá levar apenas 19 minutos. 

O teleférico do Alemão é totalmente inspirado em um similar construído em Medellín, na Colômbia. A equipe técnica do governo do Rio viajou ao local para conhecer o Metrocable e receber assessoria de arquitetos colombianos. O Metrocable é, como o teleférico do Alemão pretende ser, a obra-vitrine de um denso projeto de assistência social e urbanização de comunidades carentes colombianas. 

“O projeto que revolucionou as favelas da Colômbia foi inspirado no Favela-Bairro. Agora, nós fomos até lá aprender com eles e reaplicar o que deu certo no Rio de Janeiro”, explica Jorge Mario Jauregui, idealizador do Favela-Bairro e responsável pelos projetos do PAC para os complexos do Alemão e de Manguinhos. “O teleférico do Alemão foi projetado melhorando problemas que aconteceram em Medellin, como no estacionamento das cabines ou no ângulo do traçado das linhas”, diz o arquiteto. 

Para construir as estações do teleférico será preciso demolir as casas que ocupam o alto dos morros, densamente povoados. De acordo com dados do governo estadual, 3.482 moradias virão abaixo, enquanto 2.620 novas serão construídas dentro do Alemão. Quem for removido também poderá optar por receber indenização em dinheiro ou instalar-se em casas já existentes na favela. “No início, os moradores ficaram aflitos ao saber das remoções. Mas, quando viram as opções de relocação, alguns até pediam para ser removidos”, garante Jauregui. 

O arquiteto admite que o Favela-Bairro não alcançou os objetivos “sem dúvida, pela falta de manutenção do investimento público”. Argentino radicado no Rio de Janeiro há quase duas décadas, Jauregui sabe tratar-se de uma cidade partida, e que este é o maior desafio dos projetos para as favelas. “Não existe integração, o que é preciso encontrar são pontos de articulação nesta sociedade dividida em que vivemos”, filosofa, em busca de respostas para o impasse da violência urbana. “Um bom caminho é integrar o problema da segurança pública com o cidadão, em vez de uma política apenas repressiva. O PAC é um tremendo argumento para uma trégua social”, conclui, e destaca: “Talvez o melhor”.

A estratégia do confronto
Infelizmente, o governo do estado mostrou não ter planos de integrar uma nova política de segurança pública às intervenções do PAC nas favelas. Pelo contrário, a estratégia será a da ocupação militar. A Secretaria de Segurança Pública anunciou que um efetivo de 3 mil homens será deslocado ao complexo do Alemão nos próximos para “garantir a execução das obras”. Blindados e coletes à prova de balas estarão à disposição dos policiais. O uso de soldados do exército na operação chegou a ser cogitado, mas a idéia foi descartada.
“Intervenção em favela é trabalho de bordadeira, tem que articular, mobilizar e envolver a comunidade, senão, não dá certo”, adverte Ricardo de Gouveia Corrêa, coordenador executivo da Fundação Bento Rubião, que trabalha há anos no mapeamento para a regularização fundiária da favela da Rocinha. “Fico preocupado com as obras mirabolantes do PAC porque, geralmente, os poderes públicos chegam de pára-quedas nas favelas. Este é um erro constante”, diz Corrêa. 

Durante a elaboração do projeto no Alemão, de acordo com Jauregui, assembléias gerais e parciais foram realizadas para apresentar o trabalho à comunidade. Além disso, entrevistas com amostragens da população ajudaram a estabelecer as diretrizes do projeto, diz o arquiteto. 

Tanto no Alemão como em Manguinhos, a discussão sobre o espaço urbano não chega a ser uma novidade. Os dois complexos tiveram seus Planos Diretores encomendados pela prefeitura carioca em 2004 e 2005, respectivamente. “Esses estudos foram reavaliados e adaptados para a realidade atual, em uma perspectiva dos próximos 20 anos”, explica Jauregui. 

Logo após o anúncio das obras do PAC no Alemão foi criado o Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia para, de acordo com o que o coordenador Alan Brum Pinheiro disse ao Ibase, “aprofundar a participação social nas intervenções públicas na região”. Será um desafio e tanto levando-se em conta a complexa estrutura sociológica de um complexo de favelas, além da força política do tráfico de drogas.
Em tempo: o complexo do Alemão é dominado pela facção Comando Vermelho. 

“Se tem algo que pode resistir ao mau uso do dinheiro público é a comunidade inteira estar informada, comprometida e apta a cobrar”, resume Luiz Carlos Toledo, o arquiteto responsável pelo projeto do PAC para a Rocinha. A conferir.

 

Metropolis-Favelas: work in progress

di Ilaria Bacciocchi

La ricerca di Ilaria Bacciocchi indaga il fenomeno delle favelas, offrendo due interviste esemplari e significative. La prima all'architetto Jauregui, la seconda a José Martins de Oliveira. Tutte le fotografie sono dell'autrice. Le ultime tre immagini si riferiscono al progetto di Jauregui che, "lavorando allo studio e alla progettazione del tessuto urbano di Rio ha formulato un’idea progettuale personale sulle favelas e sulla metropoli, partendo dal conflitto esistente tra città formale e informale, che si concretizzano in una ricerca quotidiana e costante rivolta alla progettazione nelle aree favelizzate". (n.d.r.)

 

Multicittà, geourbanità, iperterritori sono le strutture urbane contemporanee che focalizzano l’attenzione e le preoccupazioni di architetti, urbanisti, geologi e sociologi.
A questo proposito la decima edizione della Biennale Internazionale di Architettura di Venezia “Città. Architettura e Società” celebra la città nell’anno in cui è diventata urbana metà della popolazione mondiale, il 2006.

Il tema centrale della Mostra è l’analisi, la ricerca e la critica della città e si concentra sui sistemi urbani e territoriali e le modalità con cui configureremo le nostre metropoli e il territorio che determineranno il destino di miliardi di persone.
Le tematiche affrontate, relative alla società e la città nel suo complesso, dimostrano come l’architettura e l’urbanistica siano oggi strumenti di indagine per la progettazione del futuro della “città-mondo”, ossia della meta-città di cui tanto si parla: metropoli di tre o quattro milioni di abitanti che oltrepassano la concezione tradizionale di città. Non più agglomerati ma territori.
Raul Juste Lores, giornalista per la Folha de São Paulo, a proposito del caso brasiliano di San Paolo proposto alla Mostra scrive: “San Paolo è una sintesi dei conflitti tra il nord e il sud del mondo. I migliori sistemi sociali di welfare sono presenti in paesi con bassi tassi di natalità e una popolazione che sta invecchiando, mentre in paesi con un elevato numero di giovani, non vi sono sistemi sociali di welfare.
I paesi più ricchi costruiscono barriere, materiali o virtuali, per escludere i poveri e tuttavia, poiché hanno bisogno di una manodopera a basso costo, creano sistemi che perpetuano l’illegalità e la segregazione economica.”

E’ all’interno di questi territori-città in espansione che si colloca la realtà di Rio de Janeiro. Sette milioni di abitanti, dieci nella regione metropolitana, Rio come S. Paulo rappresenta un esempio problematico dell’evoluzione della metropoli del terzo millennio.
Il fenomeno delle favelas coinvolge oggi un miliardo di persone nel mondo, e tra vent’anni ne coinvolgerà due.
Con oltre duecentocinquanta favelas sparse su tutto il territorio, Rio è l'emblema non solo dei paradossi di cui parla Lores ma della segregazione spaziale e sociale interna alla città stessa.
Si è concluso nel febbraio 2006 il concorso promosso dal programma di risanamento delle favelas carioca Favela Bairro per la Rocinha, la favela più grande del Brasile e modello per le oltre seicento favelas di Rio de Janeiro.
Hanno partecipato al concorso per la Rocinha equipes di architetti, urbanisti, sociologi, tutti con l’intento di promuovere progetti di integrazione e che puntino sulla qualità delle infrastrutture e dei servizi.

A questo proposito sembra che l’approccio progettuale nei confronti degli insediamenti informali sia maturato. Non più cellule urbane da eliminare o escludere con barriere architettoniche e sociali ma vere e proprie porzioni di città in continua crescita da integrare al tessuto urbano formale. Questo è l’approccio che ha caratterizzato gli interventi a partire dagli anni 80 e nel corso dei ’90.
Oggi la nuova tendenza dei progetti presentati è quella di trattare la favela nel suo insieme con progetti integrati, con interventi non più puntuali ma che abbraccino l’intera area favelizzata, dotandola di infrastrutture e servizi oltre che basici, di qualità.
Rocinha occupa una delle zone più prestigiose della città, a un passo da Copacabana e Ipanema ed è oggi in continua espansione.
Secondo i dati dell’ IBGE la popolazione residente nella favela nel 1996 era di 45.585 abitanti, nel 2000 si parla di circa 350.000 stimati e 120.000 ufficialmente registrati, rappresenta una vera e propria sfida progettuale e logistica.
In questo momento storico di profondo cambiamento, testimoniato dal fermento sia architettonico che urbanistico, la progettazione della città deve essere affrontata con la consapevolezza che ci si trova in un’era di trasformazione urbana globale.
La realtà urbana oscilla tra coesione ed esclusione, il territorio inteso come espressione e costruzione della società deve essere accompagnato da un’analisi dell’habitat secondo criteri e metodologie urbanistiche capaci di coniugare la dimensione locale a quella globale della città.
Le interviste propongono due differenti interpretazioni dello stesso problema, la favela. Due punti di vista, quello di un architetto, Jorge Mario Jauregui, e di un militante che per i diritti e lo sviluppo della Rocinha, Josè Martins de Oliveira.

Intervista:
“RIO DE JANEIRO, A CIDADE PARTIDA”
“RIO DE JANEIRO, LA CITTA’ DIVISA”
arch. JORGE MARIO JAUREGUI
BELVEDERE DONA MARTA
RIO DE JANEIRO, FEBBRAIO 2006


L’ architetto Jorge Mario Jauregui, di origini argentine, vive e lavora attualmente a Rio de Janeiro. Lavorando allo studio e alla progettazione del tessuto urbano di Rio ha formulato un’idea progettuale personale sulle favelas e sulla metropoli, partendo dal conflitto esistente tra città formale e informale, che si concretizzano in una ricerca quotidiana e costante rivolta alla progettazione nelle aree favelizzate.

Ilaria Bacciocchi:
Rio de Janeiro è una metropoli caratterizzata da un forte contrasto a livello urbanistico, architettonico e sociale tra formalità e informalità. In che maniera questo influisce sulla modalità di progettare la città e i suoi spazi?


Jorge Mario Jauregui:
Progettare oggi gli spazi informali a Rio de Janeiro, come nelle altre grandi metropoli che presentano problematiche analoghe, comporta uno sforzo di comprensione del territorio che va oltre la progettazione formale. L’analisi pre-progettuale è la fase principale: capire il luogo e le esigenze che portano al costituirsi della favela significa comprenderne non solo le problematiche non solo interne ma dell’intera metropoli.
La modalità di analisi del contesto e’ di fondamentale importanza per questo tipo di progettazione in quanto necessita di strumenti molteplici e complessi, mi riferisco sia all’esperienza diretta che all’interdisciplinarietà e alla collaborazione con più agenti.
In questo caso si può parlare di un metodo decostruttivo di analisi: scomporre il problema dell’informalità nelle sue parti costitutive, riconoscerle e stabilire tra esse delle relazioni funzionali, logistiche e sociali per ricreare un tessuto urbano omogeneo.
La riarticolazione della favela con la città formale comporta un approccio urbanistico non deterministico, evidenziando carenze, capacità, strategie innovatrici, incalzando logiche e interpretazioni aperte.
L’obiettivo che ci si prefigge è quello di promuovere il costituirsi di un habitat basato su nuove attitudini sociali, culturali e politiche, come dimostra il lavoro di questi ultimi anni svolto da Favela Bairro.
Ci troviamo dinnanzi a iperterritori dove le città sono caratterizzate da geometrie frattali, non si parla più di centro o periferia, come non si dovrebbe considerare la favela come un processo urbano parallelo alla metropoli, ma ad essa direttamente connesso.
Oggi osservando il territorio di Rio de Janeiro si legge chiaramente una differenza nell’uso del suolo, che si oggettivizza nel rapporto definito tra “morro” e “asfalto”, ossia la dicotomia favela-città.
Le argomentazioni e i dibattiti sulla segregazione socio-spaziale all’interno della città di Rio e la mancanza della dimensione pubblica nella vita comunitaria non è molto differente nel caso dei condomini chiusi della città formale, veri e propri ghetti contemporanei.
Non importa che si tratti di segregazione indotta come nel caso delle favelas o di auto segregazione come nel caso dei condomini di lusso, come Barra da Tijuca, uno dei quartieri più prestigiosi della città, condannato dalla sua stessa ricchezza a bunker urbano.
Nel caso della favela la mancanza di spazi pubblici deriva fondamentalmente dalla mancanza di una progettualità formale che controlli le dinamiche di espansione urbana. Auto organizzazione sociale e autoproduzione dello spazio si sono imposte come sistema alternativo e necessario di sopravvivenza, agendo come una moltitudine di sottoinsiemi  capaci di manipolare lo spazio fisico a proprio “vantaggio”.
Nel caso dei condomini chiusi della città formale invece, la mancanza di spazi pubblici è la conseguenza dell’autoesclusione e dell’autosegregazione; alla radice del problema vi è la mancanza di urbanità, di vita pubblica e di integrazione tra le persone che a sua volta è determinata dalla paura dell’invasione o della sola vicinanza degli insediamenti informali, che nel territorio di Rio si trovano sia nel centro urbano che nelle periferie, senza distinzione.
Generalmente definirla dicotomia può non essere esaustivo in quanto queste due realtà vivono a stretto contatto e per diversi fattori sono dipendenti una dall’altra: la favela è forza lavoro, manodopera necessaria ai quartieri in stile americano, il condominio e tutto ciò che lo circonda, come gli shopping centers, è per la favela il vero e proprio luogo di lavoro.
Entrambe barriere invisibili che devono essere combattute attraverso piani di ristrutturazione socio-spaziali.

Ilaria Bacciocchi:
Quali sono le priorità e le caratteristiche che connotano i suoi progetti all’interno delle favelas carioca nell’arco di questi anni?


Jorge Mario Jauregui:
Trovare punti di articolazione è oggi un problema a Rio come in altre numerose metropoli.
La città contemporanea è divisa, frammentata e disarticolata. La questione dell’informalità ci obbliga a cercare un metodo, dare una forma al problema, trovare una soluzione.
Esistono tre fasi fondamentali da affrontare durante la riprogettazione di una favela:
-analizzare la struttura del luogo, ovvero capire come funzionano gli aspetti sociali e topografici, di come una parte della società si appropria di un territorio.
-ascoltare la domanda, il che significa ascoltare quello che gli abitanti di un luogo hanno da dirci rispetto alle condizioni nelle quali vivono e quello che pensano di avere bisogno.
Dal mio punto di vista la differenza fondamentale sta nell’ approach: personalmente affronto ciascuna sfida progettuale “ascoltando la richiesta”, tra le determinanti del progetto c’è sempre qualche cosa in gioco che, come dicono gli psicanalisti, ha a che fare ogni volta con nuovi desideri.
-ultima, non per importanza, la partecipazione. Fondamentale al successo del progetto è il coinvolgimento della popolazione locale attraverso i suoi rappresentanti, sia in fase di realizzazione che a opera ultimata al fine di preservare gli obbiettivi raggiunti. Inizialmente gli abitanti assumono il ruolo di interlocutori per la definizione dei programmi, successivamente fanno parte integrante del programma di risanamento urbano e sociale avviato in ciascuna nuova comunità urbanizzata una volta terminati i lavori.
Penso che uno degli aspetti sostanziali del mio lavoro sia l’apertura e la ricettività costante verso l’ intercambio di culture il che permette l’intergrazione di dinamiche sia consolidate che emergenti.
Nel mio studio lavorano persone di origine e formazione differenti, offrendo un importante stimolo intellettuale ed esperienze eterogenee.
Le equipes di lavoro per programmi come Favela Bairro sono formate da architetti, urbanisti, ingegneri civili, geografi, sociologi e assistenti sociali e artisti che mantenengono un dialogo aperto.

Ilaria Bacciocchi:
Barriere invisibili. Nelle favelas, non solo nella Rocinha, ci sono spazi off limits, vale a dire che molti luoghi, specialmente quelli controllati dai narcotrafficanti, sono inaccessibili. Vere e proprie barriere determinano la gestione e l’accessibilità degli spazi interni alla favela rendendola una cellula separata dal resto del tessuto urbano, come dimostra la cronaca attuale. Difficile uscirne, ma difficile entravi! Progettualmente, come ha risolto questa dicotomia e come interpreta l’assoluta mancanza di spazi pubblici che deriva da questa situazione di “controllo” forzato in una favela che nel 2000 contava 200.000 abitanti?


Jorge Mario Jauregui:
Il problema del narcotraffico e della delinquenza sicuramente rappresenta uno dei maggiori ostacoli all’intervento nella favela. La Rocinha in particolare è stata teatro negli ultimi anni di molti scontri.
In realtà il tasso di popolazione coinvolta in affari di droga varia trail 5% e l’8%. La maggior parte della gente della favela lavora.
La difficoltà di progettare all’interno della favela è fondamentalmente riuscire ad aprirla alla città. Da un lato l’intrico di vie che caratterizzano la Rocinha sono un impedimento, non circolano vetture tantomeno mezzi pubblici, dall’altro è una protezione che sicuramente aiuta i narcotrafficanti a nascondersi e controllare il loro labirinto.
Questa è una delle tante cause della mancanza di spazi pubblici. In realtà il processo dell’autocostruzione non prevede spazi che non siano direttamente necessari a esigenze primarie e personali. Non c’è un progetto perché oltre a non avere soldi nella favela ciò che non è “di nessuno” viene abbandonato o utilizzato a fini personali. E’ esattamente ciò che accade negli spazi non edificati. Non diventano spazi pubblici, dove la gente si ritrova, ma discariche urbane in attese di essere occupate da costruzioni abusive. Terre di nessuno.
E’ per questo che il problema degli insediamenti non si potrà mai risolvere senza l’intervento di agenti esterni, non solo con progetti puntuali ma integrati e che abbraccino l’intera favela.
Vengono studiate ed esaminate megalopoli come Rio de Janeiro, Sao Paolo, Città del Messico e molte altre. L’articolazione della città frammentata, tanto fisicamente quanto socialmente, si è trasformata nella più grande sfida dell’ America Latina.

Ilaria Bacciocchi:
Favela Bairro. attivo a Rio dal 1993, è sicuramente il programma di risanamento delle favelas che negli ultimi anni si è fatto conoscere sia a livello nazionale che internazionale. Lei ha già collaborato con questo programma in più occasioni. Cosa ne pensa del concorso bandito per la Rocinha conclusosi nel febbraio 2006 e quali sono le nuove ideologie che hanno caratterizzato il suo progetto per questa favela?


Jorge Mario Jauregui:
Il nostro obiettivo è stato quello di identificare il miglior percorso per valorizzare la Rocinha all’interno del contesto di Rio de Janeiro progettando nuove connessioni (materiali e immateriali) capaci di generare dinamiche tali da creare un progetto di sviluppo urbano innovatore.
La Rocinha è una favela sia spazialmente che socialmente molto complessa che fa parte a tutti gli effetti della città formale nonostante sia da un punto di vista urbanistico e architettonico una favela.
Io e la mia equipe di lavoro abbiamo studiato un master plan che, individuando le aree strategiche e connettendole tra loro secondo una gerarchia, crea una rete articolata ed efficiente con l’obiettivo di riformulare l’assetto del sistema urbano infrastrutturale.
Si passa dalla scala territoriale a quella locale con una serie di interventi mirati.
Il Piano di Sviluppo Socio-Spaziale prevede un territorio organizzato e riequilibrato al suo interno, aumentando le connessioni e il dialogo con la città tramite lo studio della struttura del luogo, identificandone gli accessi principali, le centralità, i punti di convivenza comunitaria,
delineando un sistema intelligente di connessioni e interfacce.
L’insieme di settori e quartieri già esistente viene diviso in Settori di Sviluppo Urbano (SVU), sub-quartieri strutturati in cellule progettuali organizzate secondo condomini e servizi locali che articolano il territorio in unità secondo una gerarchia: Poli Infrastrutturali decentralizzati connettono funzionalmente la favela alla città e i Settori di Sviluppo Urbano, raggruppando il sistema attuale di sottoquartieri (diviso sia a livello amministrativo che spaziale) in zone funzionali, manterranno l’identità locale.
Il progetto ha lo scopo di ampliare e incorporare nuove infrastrutture e trasformare la logistica dei trasporti privilegiando le vie di accesso alla comunità attraverso un sistema integrato di trasporto di passeggeri e merci, incorporando nuove vie di transito per i veicoli, formalizzando e strutturando logisticamente le attività informali con il circuito dell’economia formale connesso alla città, permettendo una riqualificazione e un riequilibrio di queste relazioni con un nuovo dinamismo.
La strategia è quella di rendere compatibili un sistema infrastrutturale oltre che basico di qualità integrando le infrasterutture già esistenti, localizzate nelle aree della Rocinha a contatto con la città, alle infrastrutture basiche (sistema di drenaggio, pavimentazione stradale adeguata, rete fognaria, rete elettrica, illuminazione pubblica, vegetazione, arredo urbano e spazi pubblici attrezzati, segnaletica), progettate per tutta la favela nel suo complesso, non più privilegiando solo alcune zone.

Ilaria Bacciocchi:
Come sono stati organizzati gli interventi a livello urbanistico e architettonico?  Abbiamo parlato dell’assetto globale dell’intervento. A livello puntuale, scendendo alla scala architettonica, come si concretizza il Piano?


Jorge Mario Jauregui:
Come dicevo, l’obiettivo sia a scala urbana che architettonica, è quello di integrare la favela alla città. Alla macro scala questo si verifica aprendo il tessuto urbanistico della Rocinha connettendolo alla rete viaria della città, alla scala architettonica ci si deve concentrare sui singoli settori (SVU) e creare dei centri funzionali indipendenti ma connessi tra loro. Il mio obiettivo è quello di affiancare agli interventi più urgenti progetti infrastrutturali di qualità: spazi polifunzionali destinati ad ospitare una vasta gamma di servizi terziari, commerciali, scuole, come nella sede del Polo di produzione lavoro e rendita -sede di cooperative popolari e micro-imprese.
L’ intervento prevede inoltre, in accordo con la Prefettura, la costruzione di abitazioni (Vila do Samba) per alloggiare parte della cominutà oggi residente in aree a rischio: 460 unità in prossimità del tunnel Zuzi Angel e della parte inferiore della Rocinha. Si prevedono inoltre interventi di ricollocamento con lo studio delle aree da destinare a nuovi poli residenziali e la costruzione sia di spazi pubblici che la costruzione di centri sportivi e di svago. I “C CEL” “Cultura-Sport-Intrattenimento” sono vere e proprie cellule da collocare all’interno dei vari settori della Rocinha.
Il Polo di servizi terziari Portal Rocinha Nova Passarela, in prossimità della passerella lungo la strada ad alta velocità Lagoa-Barra, che segna uno dei confini della città con la favela, è previsto un centro di ricerca permanente (per micro-imprese, sistemi di credito, banche, marketing), oltre ad un Osservatorio della Popolazione per la gestione sociale e pubblica. Il nuovo Portal da Rocinha significherà una cooperazione intelligente al fine di articolare l’economia di produzione, il commercio ed i servizi con i micro imprenditori che lavorano spesso in maniera informale e non tutelata.
E’ stata inoltre prevista una struttura, il Polo Ecologico-Ecoturismo, che ospita oltre ad un Laboratorio sociale (con l’ obbiettivo di sviluppare mano d’opera specializzata in diversi settori oltre a quello di ecooperatori) la Sede del Corpo Forestale ed un Centro di promozione ecoturismo, essendo oggi la Rocinha l’unica favela di Rio de Janeiro con dei “tour’s turistici”…
Per cercare di contenere l’espansione della favela entro i confini previsti abbiamo pensato a degli ecolimiti: si tratta di condomini localizzati in aree a rischio espansione che fungeranno da “cinture” di contenimento urbano in prossimità della Floresta da Tijuca e del Morro dois Irmaos.
Il recupero delle aree degradate e disboscate e la pianificazione di un progetto di
reforestamento e riserve naturali contribuiranno a ripristinare l’ambiente naturale oggi molto danneggiato dall’autocostruzione selvaggia.
Le infrastrutture che ritengo più innovative, parlando di progetti realizzati ad oggi nelle favelas carioca, sono il Polo Educativo, che ospiterà una scuola di secondo grado, un centro di educazione professionale e di avviamento al lavoro, il Polo Culturale e di Comunicazione (Biblioteca, Centro multimediale, Cinema, Teatro, Auditorio, Spazio Capoeira, caffetteria, ecc...) alimentato da un sistema di Pannelli solari, ed infine la Torre delle Comunicazioni (TV locale, Emittente Radiofonica, Sede Giornalistica)

Ilaria Bacciocchi:
Il suo progetto è stato selezionato tra i tre finalisti in quanto rispecchia le nuove
modalità di intervento, ormai a scala territoriale, che comporta il riprogettare territori complessi ed eterogenei come le favelas. Rispetto alla sua esperienza come architetto come vede il futuro delle favelas carioca, in particolare per la Rocinha? Ritiene possibile una soluzione oltre che fattibile, a breve termine, al problema degli insediamenti informali di Rio de Janeiro?


Jorge Mario Jauregui:
L’ esperienza quotidiana e pluriennale del convivere con gli insediamenti informali mi ha permesso di pensare a una proposta concreta, anche se volutamente provocatoria.
La favela non è più da tempo considerata un fenomeno transitorio, si è compreso che la soluzione non è più il suo abbattimento e sradicamento, o la costruzione di case popolari senza infrastrutture e servizi, come fecero negli anni ’60 con Cidade de Deus, veri e propri ghetti, ma la sua integrazione con il tessuto urbano circostante.
Il secondo passo è la comprensione che non si può più ragionare per parti, con singoli interventi puntuali, ma considerare la favela nel suo complesso, il che risulta fattibile (mi riferisco ai capitali economici che interventi di riqualifica di questa portata comportano) progettando in maniera integrata a vari livelli, e soprattutto per gradi, per questo sono stati progettati interventi a breve termine e a lungo termine.
Il progetto di poli culturali e multimediali all’interno della favela riformula a scala urbana interventi puntuali realizzati da Favela Bairro in altre favelas della città.
La creazione di un polo mediatico come la Torre multifunzionale situata nel cuore della Rocinha, significa un intervento che coinvolge tutta la comunità che permette l’interazione con l’esterno, con la città. L’informazione è oggi fondamentale, per questo è stato pensato uno scermo che aggiorna in tempo reale su varie notizie. Intervenire con mezzi efficaci, moderni, che rispecchino l’era dell’informazione e della multimedialità, che si tratti di città o di favela.
Si comincia a delineare un approccio che tenta di livellare il grado di qualità infrastrutturale della favela con quello della città circostante.
Gli interventi proposti sono sia oggettivamente realizzabili, specialmente quelli considerati  a breve termine, che proposte volutamente provocatorie ma non per questo utopiche.
Il salto di qualità che ci si aspetta da questo concorso per rendere davvero la “favela” un “bairro” è cominciare ad affiancare ai progetti di riqualifica più urgenti, interventi che all’interno della città formale sono alla base dell’indice di benessere della società, come in questo caso le infrastrutture progettate per la cultura e l’informazione.
Si è voluto proporre un progetto nuovo soprattutto per le aspettative che comporta e gli ideali che mette in gioco. Se da un lato la favela ci mostra quell’ aspetto della società che non funziona, dall’altro è una sfida per architetti, urbanisti, sociologi, che può essere vinta.
Rocinha, work in progress…

Biografia
J. M. Jauregui si è formato alla Facoltà di architettura dell’Università Nazionale di Rosario, Argentina. Vive a Rio de Janeiro dal 1978, dove ha aperto uno studio di architettura nel quartiere di Botafogo. E’ professore nella facoltà di Architettura dell’Università Federale di Rio de Janeiro. Nel 1999 vince il Premio alla Biennale Internazionale di Architettura di San Paolo e l’anno seguente il Sixth Veronica Rudge Green Prize in Disegno Urbano alla Facoltà di Harvard. Nel 2002 riceve il 1° Premio di Ricerca alla Biennale Ibero-Americana di Santiago del Chile. Ha pubblicato il libro “Strategie di articolazione urbana” per la Facoltà di Architettura e Urbanistica dell’Università di Buenos Aires e “The Favela-Bairro Project, Jorge Mario Jauregui Architects” per la Harvard University Graduate School of Design, Cambridge, Massachussetts. I suoi principali lavori sono stati realizzati nella città di Rio de Janeiro, tra i quali la riqualificazione della Rua do Catete, nella zona centrale, in collaborazione al programma Rio-Cidade, e la riqualificazione urbana di più di 20 favelas in differenti luoghi della città con il programma Favela Bairro. Il 31 gennaio del 2006 vince il terzo premio dell’ultimo concorso promosso da Favela-Bairro per la riprogettazione della favela della Rocinha. Attualmente collabora con riviste internazionali descrivendo la sua esperienza progettuale all’interno delle favelas carioca cresciuta nell’arco di 25 anni.

- Dualidades
Entrevista con Jorge Mario Jáuregui, por Marije van Lidth de Jeude y Oliver Schütte
Rio de Janeiro, Brasil.

¿Que es una ciudad para ti?

En primer lugar, diría que son flujos de los más variados pasando: música, pintura, escultura, arquitectura; el movimiento, el tiempo. Y podría agregar, de acuerdo con Wim Wenders, que una ciudad inolvidable es un inmenso acerbo de imágenes.

¿Como funciona una ciudad?

En principio, como sus habitantes quieren que funcione; es decir, de acuerdo con formas de entender las relaciones entre lo público y lo privado, entre lo individual y lo colectivo, entre lo abierto y lo cerrado …

Hoy en día, en particular en las grandes metrópolis del planeta, la interconectividad de los diferentes fragmentos componentes de la urbe, tanto como la accesibilidad a cada uno de ellos, se torna una cuestión crucial. Y eso tiene estrechísima relación con la disponibilidad de un transporte público rápido, eficiente, no contaminador y no “gastador” de energía no renovable.

El otro “funcionamiento” de la ciudad que me interesa profundamente, es el que se relaciona con la amalgama entre el soporte físico (la ciudad en sí), la urbanidad (esto es, la mayor o menor cualidad de “abertura” del soporte físico, es decir, su capacidad de ofrecer condiciones de acogida para todos los ciudadanos, algo que podríamos denominar como la “condición de Agoridad” contemporánea) y el espacio público, es decir la existencia o no de lugares que posibiliten la manifestación del espíritu colectivo de una sociedad, que expresa el nivel de consciencia social de un determinado agregado de individuos que comparten determinada trayectoria, historia y valores comunes.

¿Como NO funciona una ciudad?

Pues bien, es solo mirar y usar la mayoría de las ciudades que conocemos. Muy pocas de ellas son capaces de “causar deseo” de vivirlas, recorrerlas, experimentarlas, y disfrutarlas en todo o en parte.

Una ciudad no funciona cuando nos transmite (y eso podemos comprobarlo) una sensación de orden excesivo, o del otro lado, la inexistencia de algún tipo de orden. En el primer caso se trata de una ciudad aburrida, en la cual todo está demasiado predeterminado, donde todo es demasiado previsible como Curitiba aquí en Brasil por ejemplo. En el extremo opuesto, una ciudad con mucho movimiento, barullo, desorden visual, suciedad y caos circulatorio, tampoco es un lugar agradable ,como Mumbai en la India por ejemplo. Así, las ciudades que interesan son aquellas donde el equilibrio, siempre inestable, entre la variedad de factores que las componen, encuentra un punto de estabilidad. Ciudades donde la relación entre los flujos y los fijos producen un ambiente estimulante para la vida y el intercambio social. Como Paris, Barcelona, Madrid, Buenos Aires, etc.

¿Cuáles son los temas mas importantes (o urgentes) en las ciudades contemporáneas?

Los temas que considero más importantes desde el punto de vista de un arquitecto-urbanista son sin duda aquellos que dicen respecto a cómo calificar lo existente, como cambiarlo en la dirección de una ciudad y una sociedad más equilibrada, menos esquizofrénica, más solidaria y menos egoísta.

En relación con eso lo más importante es combatir el “developmentalism”, el populismo y el inmediatismo de las decisiones. El fundamentalismo económico es tal vez el principal enemigo de la calidad (urbanísticamente responsable) de todo lo que se hace hoy en día, sea en los llamados “países desarrollados” o “ciudades globalizadas”, o en los países periféricos.

El populismo por su lado es esa fuerza negativa que mide todo tipo de decisiones en función de los “indicadores de intención de votos”, que como sabemos, es lo menos confiable y lo más nocivo para el interés de la ciudad a largo plazo.
Y el inmediatismo de las decisiones, sea por parte de gobiernos “progres”, o de derecha, es el tiro de gracia contra un pensamiento y una acción meditada que es lo que el interés común (el bien público) demanda de un poder público responsable, en cualquier país, pobre o rico.

Gran parte de tu trabajo se sitúa en favelas. ¿Como se forman las favelas? ¿Cómo y quienes usan y se apropian del espacio durante y después de la formación de la favela?

La favela es el síntoma de una sociedad, de su desajuste estructural y del nivel de injusticia en la distribución de los beneficios de lo producido socialmente. Del egoísmo de las clases dirigentes, de su miopía y su indiferencia hacia la totalidad de los ciudadanos, especialmente de los más frágiles. Y de su nivel de estupidez.

La favela es la solución al problema de querer vivir en la ciudad cueste lo que cueste (un derecho justo de cualquier ciudadano) y muestra la incompetencia del poder público para darle acogida organizadamente a un gran contingente de la población. O sea, las favelas se forman por la negligencia de las autoridades (todas, federales, provinciales y municipales) y por la necesidad de la gente de resolver sus problemas de alguna manera, de la manera que les queda al alcance .

Río de Janeiro parece una ciudad dividida en dualidades como: formalidad – informalidad; ricos – pobres; legalidad – ilegalidad; agua – tierra. ¿Como las afrontas en tu rol como arquitecto? Y ¿Cual es el rol de la planificación urbana pensando en las dualidades mencionadas? (legalización, institucionalización, otros)

Río de Janeiro no solo “parece”, sino que es una ciudad partida. A esas dualidades que ustedes mencionan se suman varias otras tales como incluidos-excluidos, privilegiados-“fodidos”, alfabetizados-no alfabetizados, tomadores de decisiones-excluidos de las decisiones, etc. Todas ellas son un índice del inmenso trabajo a realizar para aproximar esas polaridades.

Desde hace ya catorce años vengo trabajando en proyectos de estructuración socio-espacial en las cuatro escalas (pequeña, media, grande y territorial) y en este sentido, desde el campo disciplinario del urbanismo y la arquitectura, busco hacer mi contribución para ecuacionar estos problemas.

El proyecto urbano tiene para mí una función social fundamental que es la de constituirse en una pieza clave para la tregua social. Esto es, tiene la función de servir como una referencia común para la negociación de los conflictos entre los habitantes del lugar (los favelados), el poder público, y todas las instituciones participantes (ONGs, políticos, participantes independientes, fuerzas económicas, etc.).

Además, el proyecto constituye la base para la delimitación del dominio público y de la propiedad privada, que es el punto central para la legalización de lo existente, para determinar las fronteras entre lo público y lo privado, inexistentes en las favelas. El “as built” es la base del documento de legalización jurídica.

¿Cuáles son los actores importantes en la formación de los espacios urbanos? ¿Cuales son sus papeles? Pensando en PPP (Public – Private Partnerships), participación ciudadana

En el caso de las reas informales (favelas) los interlocutores fundamentales son los representantes comunitarios democráticamente electos y los representantes del poder público encargado de llevar adelante la ejecución de los trabajos de construcción, que puede ser tanto el gobierno municipal cuanto el provincial, depende de cada caso.

El poder público ejecuta y gestiona, y la comunidad fiscaliza. En cada caso concreto puede haber otros participantes complementarios tales como ONGs, empresarios, universidades, gobiernos extranjeros, etc. En el caso de India, en Mumbai donde estoy haciendo un proyecto ahora, el caso es diferente y quien realiza todo es la iniciativa privada a partir de directrices establecidas por las autoridades gubernamentales.

Que significa sostenibilidad (o una ciudad sostenible) para ti?

Hay varias cuestiones implicadas en las ideas de sostenibilidad. Sobre esta cuestión se anudan varios diferentes problemas, fisicos, sociales y del medio ambiente.

La primera cuestión es de orden social y significa que las transformaciones a ser hechas en lo existente deben considerar en primer término los intereses de todos los ciudadanos, llevando en cuenta la lógica de la ciudad como un todo. Esto es, se trata de articular lo local (las mayores urgencias) considerando simultáneamente las relaciones con el contexto y con el conjunto de la ciudad, pensando al mismo tiempo en el corto, medio y largo plazo.

En seguida debe considerarse la relación costo-beneficio en el sentido de que las inversiones tengan un carácter democrático, capaz de extender sus efectos a la mayor cantidad posible de gente y no solo a la favela. O sea, que la relación favela-ciudad es algo que debe estar en todo momento en el centro de las consideraciones, evitando actitudes oportunistas que en todo momento tratan de condicionar el proyecto (por razones políticas o económicas) y contra lo cual hay que luchar denodadamente.

Y finalmente la sostenibilidad ambiental que, aunque sea un concepto muy manoseado hoy en día, significa reutilizar al máximo lo existente, las inversiones ya hechas por la gente y por acciones descoordinadas del propio poder público,reaprovechando tanto cuanto posible edificaciones abandonadas, para la incorporación de nuevas viviendas y funciones y equipamientos necesarios (escuelas, hospitales, centros de generación de trabajo y renta, centros culturales, equipamientos deportivos, etc.) junto, y principalmente, con la incorporación de la gran cantidad de mano de obra disponible.
Es decir, que la sostenibilidad implica la consideración simultánea de numerosos factores para la obtención de delicados equilibrios entre lo físico (lo urbanístico, infraestructural, ambiental), lo social (lo económico, cultural, existencial), y lo ambiental , que hoy tiene que ver ineludiblemente con la responsabilidad de las acciones.

Una ciudad sostenible es una ciudad que ofrece un lugar deseable para vivir y que permite desarrollar una vida culturalmente activa, intensa socialmente, con el disfrute de la naturaleza y de condiciones medioambientales positivas al alcance de todos los ciudadanos. Precisamos, más y más, de “ciudades ecosensibles”, física y socialmente.

- Arquitecto del programa Favela Barrio visita Chile

Por Nicolas Valenzuela Levi


La trgica vista tpica de una favela de Rio

Hoy llegó a Chile el connotado arquitecto Argentino radicado en Río de Janeiro Jorge Mario Jáuregui, conocido por el proyecto Favela Barrio. Su visita se debe a que participará en la tercera versión del Taller de Obra de la Escuela de Arquitectura de la Universidad de Talca.
Jáuregui permanecerá en chile por cinco días y aportará, desde su experiencia, su particular manera de entender el trabajo del arquitecto en comunidades desplazadas socialmente. Además ofrecerá una conferencia en el auditorio de la misma escuela,donde mostrara parte del trabajo desarrollado en Río de Janeiro.

Favela Barrio

Las favelas de Río de Janeiro surgen a partir de la ocupación marginal de los cerros, como una respuesta espontánea a la necesidad de asentamiento reforzada por la inexistencia de una política de estado para proveer de vivienda a los más pobres de la ciudad. El desarrollo económico brasilero hace que las favelas se extiendan durante todo el siglo XX; hoy viven en ellas cerca de un millón de habitantes de Río, que se encontraban en condiciones precarias e inaceptables hasta la aparición del programa Favela Barrio.

Ante esta situación, el gobierno se interesa en las áreas deterioradas y promueve la renovación de estos espacios marginados con el propósito de integrarlos a la trama urbana. Luego de varios intentos fracasados desde la década del 40, es en 1993 cuando el programa Favela Bairro se constituye para, aparte de construir vivienda que supla el déficit habitacional, re-estructurar la composición urbana y lograr integrar dentro de la dinámica de la ciudad “formal” a los estratos de población degradados y excluidos. Su principal objetivo es la implantación de mejoras urbanísticas, incluyendo las obras de infraestructura urbana, la accesibilidad y la creación de equipamientos, con la finalidad de obtener resultados sociales a través de la integración y transformación de la favela en barrio. La idea es generar cambios profundos en las comunidades, transformando la calidad de vida y ambiental de estos sectores, esperando como consecuencia un reflejo positivo en la ciudad como un todo integrado.


Conjunto de departamentos diseado por Jauregui


Equipamientos deportivos

Uno de los objetivos de la intervención es involucrar a la comunidad en la construcción y reconstrucción urbana de las favelas, considerando sus preferencias y las relaciones previas que han establecido con el espacio. La idea es que el apoyo social de finalmente resultado gracias a la participación de los miembros de la comunidad, lo que implica incluso que la propiedad de los proyectos sea comunitaria. El fin de esto es asegurar la sustentabilidad: es aquí donde el arquitecto interviene buscando la participación activa de los habitantes en el diseño y la definición del proyecto, y Jorge Mario Jáuregui ha conseguido resultados notables, haciendo accesible la mejor arquitectura a los más pobres.

Referencia:

JAUREGUI, Jorge. 3 proyectos en favelas. . ARQ (Santiago). [online]. dic. 2003, no.55 [citado 06 Septiembre 2006], p.32-37. Disponible en la World Wide Web: . ISSN 0717-6996.

“Los muros son una capitulación del poder público”

Soledad Vallejos
Página 12

El arquitecto argentino Jorge Jáuregui lleva dos décadas en Brasil y es un ferviente opositor a la construcción de muros como forma de frenar el crecimiento de los barrios pobres. Aquí analiza el significado urbano, social y político de una medida de ese tipo.

“Los muros siempre son contra alguien”, señala el arquitecto Jorge Jáuregui, nacido en la Argentina, radicado en Brasil y autodefinido urbanista latinoamericano. “Cuando se levanta un muro, real o imaginario (porque muchas veces comienzan por lo imaginario y luego se van materializando), nunca se hace a favor de nada”, insiste, con la autoridad de haber estudiado el tema de cerca, tanto como uno de los hacedores del programa Favela Barrio en Río de Janeiro, como en su carácter público de crítico del muro para detener el crecimiento de las favelas de la misma ciudad.

– Que se levanten estos muros en situaciones de frontera, en sentido social y político, ¿significa que fracasaron todas las demás respuestas posibles?

– Es una capitulación por anticipado del poder público, en el sentido de que son decididos por un poder público que no confía en su propia capacidad de fiscalización a la hora, por ejemplo, de mantener el control sobre lo construido y lo no construido, como en el caso de las favelas. Cuando se hace un muro para dividir, para cortar, no se tiene en cuenta que lo primero que uno piensa al encontrarse frente a él es cómo pasar al otro lado. En este momento, estoy trabajando en un área que se llama Complejo de Manguinhos, conformado por un conjunto de 11 favelas, divididas al medio (cinco quedan de un lado, seis del otro) por el tren. Esa vía de tren está flanqueada por muros, lo que constituye un borde imposible de trasponer de un lado al otro de la comunidad. Sin embargo, la gente hizo agujeros en el muro y transita: termina usando como calle los espacios entre el muro y la vía, e inclusive la misma vía, si hasta hay fotos donde se ve cómo circulan en bicicleta por el medio de la vía.

Lo que quiero decir es que el muro no sólo no resuelve, sino que crea problemas adicionales. El muro ya es una capitulación por anticipado frente a la posibilidad de pensar alguna armonía entre las partes, algún tipo de convivencia, en el sentido que planteaba Jacques Derrida. El, que casualmente visitó Río poco antes de morir, decía que en el mundo contemporáneo es necesario reaprender a convivir en la diferencia y que esto implica una propedéutica política. Es algo difícil de hacer, pero necesario, y está visto que sin ella sólo se cometen actos innecesarios, como quedó clarísimo con la contramarcha del muro de San Isidro. En el caso argentino, a diferencia de lo que pasa con el muro para evitar el crecimiento de las favelas, hubo una reacción y un cambio de idea. Aquí lo máximo que se sugirió fue que se embelleciera el muro con plantas, que fuera ecológico.

– Pero sigue siendo un muro y permanece la intención de bloquear.

– Porque persiste la idea de que, ya que no podemos tratar con la diferencia, separemos lo que está dividido, acentuemos la división. Pero son cosas que no pueden hacerse sin reflexión: se trata del desafío de imaginar alternativas.

– Río de Janeiro, Cisjordania, Tijuana, el caso –aunque notablemente de menor escala– de San Isidro: los muros parecerían estar generalizándose.

– Sí. Y si se generaliza como solución, en todo el mundo tal vez empiece a haber ciudades tan feas como San José de Costa Rica, que parece más un campo de concentración que una ciudad: por la calle, sólo hay cercas de hierro y rejas, una contaminación que inclusive reproducen las zonas más desfavorecidas. Eso alimenta la paranoia de la persecución y la inseguridad generalizada, todo el mundo se defiende de todo el mundo. En entornos así, nadie camina por la calle, los desplazamientos sólo son en auto. Es preciso lograr una conjunción de ciudad, urbanidad y espacio público, y si esos factores se combinan con espacios verdes, uno puede decir que está ante un lugar deseable de ser vivido.

Un ideal podría ser el estado actual de Palermo –planteado como contenedor físico–, pero integrando clase media, alta, sectores populares: un ambiente donde las diferencias se articulen verdaderamente. No es posible integrar las diferencias, pero sí articularlas a partir de puntos en común. Y hay que lograrlo junto al disfrute de la urbanidad. No se trata de muros, sí de llenar las calles de gente: nada más seguro que una calle llena de gente.



Murcia

 

MOMA

VMH Estudio
Eden Oliveira

 

S.L.U.M. Lab (ETH Zurich)

Intro

Jorge Mario Jáuregui is an architect who was working on favela upgrading projects when the favela was considered impenetrable territory. His work has been recognized for its contribution to improving the quality of urban life. In 2000, he was awarded a Veronica Rudge Green Prize in Urban Design for a series of projects implemented through the program “Favela-Barrio”.

Jorge Mario´s fascination with the favela and his descriptions of their public spaces made us, students of the MAS in Urban Design at the ETH, interested in having a talk with him, and hearing first hand about his experiences and design strategies.

On our recent study trip to Brazil, we took a ride on the new Teleférico of Complexo do Alemão, a huge favela in the North of Rio de Janeiro. This cable car system, designed by Jorge Mario, connects six stations within the favela to the general railway system of Rio, carrying 3000 passengers per day, covering 3,5 km, and opening up the Zona Norte favelas to the rest of the city.

In conversation with him, we discussed about this infrastructure, its repercussion in the favela and about how his work has changed from his early days as a vanguard architect, when the scale was small and the territory dangerous, to now when his projects are territorial and the favela domain is at the forefront of architectural and urban design debate.

1. Jorge Mario Jáuregui, you have done many projects in favelas where involving the community was key to your work. The Teleférico in Complexo do Alemão, however presents a shift in scale in relationship to these first projects. Is this participatory urbanism still possible in this scale?

The Teleférico in Complexo do Alemao is a integral part of the urbanization project of the favela, that includes infrastructural improvements and public facilities of social interest, such as professionalizing
schools and medical center, waste management, canalization of sewages, paving of streets, open space illumination...etc. In this case, participation was not only integral to the procurement of the project but also in the construction. Fifty percent of the workforce employed for the construction were from the local favela.
Obviously, in urbanization projects, the scale of the intervention affects the form of participation. For instance, in smaller or medium sized scales, there is a closer relationship between the architect and the community. […] In the bigger scale, the interventions have a territorial character. The programs that can be implemented are more ambitious. In this scale, apart from the meeting with the community leaders, we also carry out opinion polls and socio-economical-cultural investigations to define the programs and facilities needed in each context.

2. You make a distinction between urbanity and public space. All cities strive for urbanity in their public domain. That is a public domain, which encourages creativity, vibrancy and heterogeneity. You have said that the favela contains the power of urbanity but lacks public space. Our question is then why is it necessary to clearly define new public spaces within the favela?

In the favela, the notion of public space does not exist, everything that is not private belongs to no-one. This is why it presents its untidy character, with slovenly constructions and inadequate illumination, circulation and ventilation spaces.

The lack of spaces for social and cultural expressions, capable of bringing people together, conveys a reduction of social life. Therefore, it does not develop the potential that it could have. This is why the existence of public space is necessary and it should be legible We could think that urbanity and public space represent the two sides of a coin, the one cannot exist without the other one. However, the favela shows the contrary: urbanity can exist without public space.

Yes, clearly. Moreover, people feel the lack of the dimension of public space. Gatherings still happen and the streets are full, but it would be much better if there existed designed public space. When this happens, there is clearly a relief from something that was previously held back.

3. What have been your strategies when designing public space in the project of Complexo do Alemão?

Since the project Favela Barrio until now, my methodology has been firstly to read the structure of the place; secondly, to listen to the demands; thirdly, to find multidisciplinary intersections; and finally, to formulate he urban diagram. This first reading of the structure of the place observes, repairs and individualizes the existing centres of life. From here, it tries to inject into them, more quality, more power, and to create other centralities that compliment the existing. This design strategy can be applied to all scales.
For example, there was a space in Complexo do Alemão where the Baile Funk took place, it was an important centrality. Here, was created the “Plaza del Conocimiento” (Square of Knowledge), a centre of digital integration with popular cinema. In every station of the Teleférico, and around them, we introduced other programs, such as a library, a dance school, a communal bank or a legal advice office.

4.We noticed on our trip to Brazil the high level of security in many neighborhoods. High voltage wires, security fencing, windows grills etc. Can you describe how these elements
affect the collective identity of Brazilians?

This affects negatively the public domain and social life. It withdraws from the public space a positive spirit, a will of
participation. […]
Within these elements, we can include all those architectures that suppress energy from public realm, such as shopping centers and other forms of spatial segregation. They suck energy from the city and lock it inside, cloistering it by walls. The aim, of course, is to have open continuous public spaces, that can be traversed at any time, by everyone, whatever age. It is a very bad sympton when neighbourhoods start adopting all these security measurements. It implies that, socially, there is something not working. It is a divided city and society.

Do you think this obsession with enclosing public spaces is a consequence of the high level of criminality, or is it a paranoid trend that actually encourages more criminality?

It is true that one thing nurtures the other. The media is very related to this. I am always surprised, when i go to Buenos Aires, the television and radio are constantly giving negative news, as if we were living a permanent Civil War. However, one walks on the street, and nothing happens. There is an excessive amplification of the negative through the media that just focus on that, on producing bad news, and gaining money through that. There is something gruesome in the human being, and people are easily seduced by this morbidness.

In broken cities or broken societies, where the distribution of richness is unequal -and Brazil is one country where these differences are enormous- tensions are generated which can end up in violence. One thing nurtures the other. That is why public inversion, and the creation of public spaces which are occupied 24 hours is the best guarantee of security. A street full of people is doubtlessly the most secure place.

5. Brazilian social commentator Zuenir Ventura describes the condition of the Brazilian city as broken. How does the Teleférico address this? Does it attempt to ameliorate this condition, physically, psychologically?

The Teleférico changes the relationship with the citizen. You must have experienced, when you went for a ride in the Teleférico, how the staff working there are kind and willing to inform. This is the kind of
treatment that the people of the favela had not experienced until now. It is a very important innovation: the fact that the inhabitant of the favela is treated like a normal citizen, a full citizen. It produces modifications and dismantles negative imaginations of the favela in relationship to those who live outside the favela, and from those who live outside the favela in relationship to the ones within.

6. How was the project of the Teleférico received by the community?

There is normally a very positive reaction of the community towards new projects. With the Teleférico, there was at the beginning mistrust, because the UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) had not been established when the construction work started. […] However, it was inaugurated once the UPP was installed, and the drug dealers had dropped their arms or left the place. With time and use, the trust builds up, and nowadays this Teleférico is more visited than the one in Urca.

We asked a woman of the favela if her neighbours used the Teleférico to go to work. She answered that many still did not, because they were afraid of heights!

Yes, it is true. I also spoke once to a lady who said: “No, i am still not going on that. It is too small, it rocks too much. I will not ride on that, is is too dangerous” […] It takes time to get used to a means of
transportation that is not common, it is completely new. Changing habits always implies time. There is still a part of the inhabitants who are afraid. The best propaganda is through contamination, mouth to mouth, one tells his children, his neighbours, his family members, and this changes the way of looking at things.

7. On our ride on the Teleférico of Complexo do Alemão we felt disconcerted by the visual access into the houses of the people below. The domestic domain suddenly becomes very public. It’s difficult to imagine such a project in the European context because of laws preventing overlooking, which preserves the privacy of each home. How do people
respond to being in the spotlight?

Well, we have to bear in mind that the life in the favela, generally, occurs mainly with doors and windows opened, especially when one walks on ground level. There is a very close relation between outdoor-indoor, which differs from that in the formal city. Where I am now, in Botafogo, no-one has the doors opened. But in the favela, they do. Especially because the inner spaces are very closed, they open towards the exterior to ventilate, and to participate in the common life. In this sense, the Teleférico does not affect intimacy, […] noone feels visually invaded.[…]

On the contrary, people are inventing economical activities due to the fact that they have a lifted boulevard that looks upon them, there is a new window, a new point of view that before did not exist. For instance, they paint their roof slabs or tiles with different motives, or they rent them out for parties or television filmings.

Could it be that these new virtual lines that cross Complexo do Alemao become the source of a gradual upgrade of the favela?

Exactly, an expansive amelioration. It starts in these lines and it develops towards each side. This also happens concentrically around the teleférico stations.

8. With the upcoming World Cup and Olympics, the Government has invested in improving the security of the favelas through the UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). You were
already working in these neighborhoods before the Pacification procedures. Have they really improved the favelas, allowing for the implementation of projects such as the
Teleférico, or do you see them as a promotional strategy to clean up the image of Brazil?

There is a real amelioration in terms of security inside the favela. They have gradually corrected the procedure: the first UPP establishments were more violent and spectacularized.[…] Now, the police is better educated and more communal. This has changed the presence of the police in the favela from an invasive position to a more defensive one, rendering a service to the community. This is a process, it is not yet consolidated.

The question of security and urbanity should be planned together, and not separately like happens nowadays. We are still doing urbanization projects on the one hand, and security strategies on the other, by the security forces. I think this is an error. The city security should be dealt as a part of the urbanization policy. The promotion of the public space, by upgrading the existing spaces and introducing new ones, can definately contribute to the improvement of city security.

9. There seems to be an increasing interest within schools of architecture and urban design in researching informal settlements in developing countries. What do you attribute this to? Do you think architects can contribute to ameliorating the conditions in the favelas?

The improvement of the favela conditions is the duty of the public power, not the university. But the university can contribute by investigating new solutions, generating debate, and using the media as a means to discuss. In this sense, the university can play a very positive role, not so much producing specific projects, […] which should be dealt by the public power, but by constructing ideas and concepts.
If there is an increasing interest in the informal city it is because this problem has reached a global scale.

10. As favelas consolidate into neighborhoods, does their architecture become part of the Brazilian vernacular?

We have to differentiate between architecture and construction. Jacques Lacan says that what differentiates architecture from the building is that the first is the logical power that orders further than the function hosted by the building. This means that every building is construction, not all buildings are architecture. Therefore, function has nothing to do with architecture. It is the logical power that orders materials what will enable architecture to turn into art.

Therefore, the concept of popular architecture is arguable. I believe we have to promote the encounter between both cultures: the popular culture and the erudite culture, that which comes from university, from a formal elaboration. Projects should promote points of connection between these two domains: the domain of popular intelligence and the domain of institutionalized intelligence. In the language of architecture, the use of certain elements, such as the cobogos (perforated walls for ventilation, which became the leitmotiv of the Modernist Brazilian architecture) can definitely be a link between both cultures.

11. Due to the vast number of favelas, and the fact that they all present similar construction characteristics, could we already talk of a certain aesthetics of the favela, to the point that we might even call it Popular Brazilian Architecture?

There is a vernacular urban tissue in relationship with the favela, because there is a continuity of materials, similar techniques and a reduction of elements to a common denominator.

I would like to read what Manuel Delgado Ruiz, a Spanish anthropologist, says about urbanity and public space. Urbanity is the form of life characterized by the movility, the agitation as a source of social
structuring, and the proliferation of relational warps. This is the definition of urbanity for an anthropologist. The public space (according to him) are those surfaces were glidings occur which result in infinite crossings and bifurcations, scenarios of human agitations where the cultural and political dimensions are in the centre of all questions. I think these two definitions of urbanity and public space help to trace a framework for the discussion about the connecting space that allows the transition between formal and informal and viceversa.

We read in an interview you made in response to your contribution at Documenta 2007, you critisized the public domain of Kassel. Your critique could be understood as applying to many other European cities.

Kassel is very interesting, it is exactly the opposite of the favela. There is too much public space, and not enough agitation, too little social structuring. This powerfully caught my attention. There is an excessive luxury of space where there is no appropiation. A little bit of this in the favela, would make a tremendous difference.

And maybe a little bit of the favela would also make a difference in the European city. So there should be a necessity of adapting the scale of public space to the number of citizens that will be making use of it. We seem to have forgotten this in our European cities.

Yes, no doubt. It has a lot to do with this: the scale in which you are working.

12. Last question, Jorge Mario: we visited your last social housing project in Rozinha. What was remarkable was the translation of local construction techniques and aesthetics. Do you think that by using construction techniques, which are similar to the ones found in the context, people accept better the project?

Yes, people understand it better. It seems less strange, less as an object which has landed from elsewhere. The proportion, the heights, the relationship with the context, the perforations, the volume, the relation fillvoid, even the colour, all of this contributes to be assumed as something not strange, something that could have been built by the people, but using another technology, and making life easier by having a better internal distribution of the installations.
Unfortunately, at some point, this conversation had to come to an end. We could have carried on for hours discussing the potentialities of the favela and public space. We hope that Jorge Mario Jáuregui´s passion and design methods serve as a manual to other architects and planners working in the domain of the informal city.